Cimenteira Secil pretendia alterar o PDM e o POPNA para ampliar as áreas de exploração de pedreiras da cimenteira do Outão.
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Câmara de Setúbal não muda legislação para viabilizar ampliação de pedreiras na Arrábida
Imagem retirada do site da Câmara Municipal de Setúbal
Lusa
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A Câmara de Setúbal recusou alterações ao Plano Diretor Municipal (PDM) e ao Plano de Ordenamento do Parque Natural da Arrábida (POPNA) que viabilizem a pretensão da Secil de ampliar áreas de exploração de pedreiras da cimenteira do Outão.

Segundo revelou recentemente a autarquia, o parecer técnico aprovado em reunião pública defende que “não são admitidas alterações aos instrumentos de gestão territorial em vigor e em revisão, designadamente o POPNA e o PDM, que permitam enquadrar a pretensão da Secil de ampliação das áreas de exploração da pedreira de calcário e marga de Vale de Mós A, na Arrábida”.

O parecer do município sadino vai agora ser submetido no Portal PARTICIPA até ao final do período da consulta pública, que termina esta quarta-feira (29 de março de 2023).

No documento, a Câmara de Setúbal lembra que o POPNA, de hierarquia superior ao PDM, considera que a área em causa “contém valores naturais e paisagísticos com significado e importância excecional ou relevante do ponto de vista da conservação da natureza, bem como da elevada ou moderada sensibilidade ecológica”.

Em nota de imprensa, a autarquia recorda ainda que, em 2020, estudos elaborados no âmbito do Plano de Gestão da Zona Especial de Conservação Arrábida/Espichel confirmam a classificação atribuída no POPNA à área em apreço, “evidenciando a presença de importantes valores ecológicos e paisagísticos e a existência de conflitos diretos muito significativos do projeto com os valores florísticos e de habitat prioritários para a conservação da natureza”.

Apesar de ter aprovado um parecer técnico contrário à proposta da cimenteira, a Câmara de Setúbal reconhece que a Secil é uma empresa importante para a “base económica regional e nacional”, que tem feito um “manifesto esforço” na recuperação ambiental e paisagística das pedreiras existentes no Parque Natural da Arrábida e na “implementação de processos produtivos mais sustentáveis”.

Secil quer ampliar áreas de exploração de pedreiras da cimenteira do Outão
Foto de Tiago Eira na Unsplash

Plano da Secil prevê fusão de pedreiras

O plano da Secil para a pedreira de Vale de Mós A, na zona do Outão, que depende do licenciamento da Direção-Geral de Energia e Geologia, prevê a fusão das atuais pedreiras de Vale de Mós A e de Vale de Mós B, de calcário e marga, matérias-primas necessárias para produção de cimento, e a ampliação da área de exploração das duas pedreiras em 18,5 hectares, mas reduz a cota de exploração de 40 para 80 metros acima do nível do mar.

Segundo a cimenteira, este novo plano de exploração das pedreiras de Vale de Mós na Arrábida (Setúbal), permitiria, na prática, reduzir a área total de exploração das duas pedreiras em 18 hectares, graças à reversão dos 36 hectares já ambientalmente recuperados.

Por outro lado, permitiria a criação de um patamar de 27 hectares de área ambiental e paisagisticamente recuperada a uma cota de 80 metros acima do nível do mar, sendo que o atual plano de exploração das pedreiras prevê a formação de um patamar muito mais reduzido, de apenas sete hectares, e a uma cota de maior profundidade, a 40 metros acima do nível do mar.

Além disso, de acordo com a cimenteira, o novo plano de exploração também permitiria antecipar em cerca de três anos o fim da exploração de cimento na serra da Arrábida, que, segundo as estimativas atuais, poderá prolongar-se por mais 40 anos.

O objetivo da Secil, de acordo com a informação disponibilizada pela empresa, é ter uma Declaração de Impacte Ambiental (DIA), mesmo que condicionada, que apresente uma solução melhor em termos ambientais e que proporcione melhores condições para a utilização futura do espaço das pedreiras, quando for encerrada a exploração de calcário na serra da Arrábida.

A empresa cimenteira do Outão refere ainda que a proposta apresentada “visa preparar o futuro da pedreira da fábrica Secil, no Outão, concebendo uma solução mais sustentável ao longo do seu ciclo de vida, com uma operação mais eficiente e integrada na produção fabril, com menor impacto na paisagem e com menores custos ambientais, sobretudo associados a transportes”.

Além do parecer desfavorável aprovado dia 22 de março pela Câmara de Setúbal, a proposta da Secil conta também com a oposição da associação Zero, que considera tratar-se de um plano ilegal face ao Regulamento do POPNA, que, no artigo 8.º, refere expressamente que está “interditada a instalação de novas explorações de recursos geológicos, nomeadamente pedreiras, e a ampliação das existentes por aumento de área licenciada”.

Em declarações à Lusa no passado dia 1 de março, o presidente da Zero, Francisco Ferreira, disse não compreender como é que a Agência Portuguesa do Ambiente e o Instituto de Conservação da Natureza e de Florestas conseguiram pôr em consulta pública uma proposta que não respeita a legislação em vigor. “É como querer construir um empreendimento em cima de uma zona de praia, onde tal não é viável, mas, apesar disso, promover uma consulta pública”, disse na altura o presidente da associação Zero.

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