
A construção em Portugal tem dado sinais de resiliência, mesmo atravessando tempos “estranhos” e navegando em mares agitados pela alta inflação, subida de juros e instabilidade legislativa. Mas tudo isto acaba por se refletir no investimento. Segundo os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE), o investimento na construção em Portugal caiu 6,5% no arranque de 2023, a maior queda desde 2014. Por detrás da descida do investimento estão os atrasos nas obras, concursos públicos desertos e ainda o abrandamento da compra de casa.
A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) na construção em Portugal – uma das componentes que mede o investimento –“em volume diminuiu 6,5% em termos homólogos, o que compara com uma variação de 0,1% no trimestre anterior”, indica o INE no boletim publicado na quarta-feira, dia 31 de maio.
Isto quer dizer que, num ano, o investimento em construção caiu em Portugal, depois de no trimestre anterior ter ficado praticamente estagnado. Olhando para o horizonte temporal, salta à vista que o investimento na construção abrandou durante a pandemia (em 2020 e 2021) e que em 2022 esteve quase estagnado. Embora a variação deste indicador não seja linear, é preciso recuar ao primeiro trimestre de 2014 para encontrar uma queda de investimento na construção em Portugal tão elevada.
Porque é que o investimento em construção caiu no arranque de 2023?
Mas o que está pode detrás desta queda do investimento na construção no início de 2023? É o conjunto de vários fatores desencadeados pela atual conjuntura marcada pela inflação, subida de juros e instabilidade legislativa, afirmam os economistas:
- concursos públicos desertos devido a preços desajustados à realidade;
- reprogramação das obras previstas no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) trouxe mais atrasos;
- redução das obras no segmento residencial;
- compra de casa mais difícil pelas famílias portuguesas devido à subida de juros.
Em dezembro, janeiro e fevereiro, verificou-se “uma redução no lançamento de concursos públicos, mas desde então houve uma avalanche”, diz Ângela Fernandes, administradora da DST, citada pelo ECO. Na sua perspetiva, esta é uma reação natural do mercado, uma vez que “nas áreas apoiadas pelo PRR muita coisa estava na gaveta à espera de financiamento”, como é o caso das residências de estudantes.
Para a também coordenadora do departamento estudos e propostas, o pico das obras apoiadas pelo PRR deverá ser sentido “em meados de 2024”, tendo em conta que “os projetos têm um prazo de execução de um a dois anos”.
Mas este é apenas um lado da moeda. No caso do arrendamento de curta duração para fins turísticos, o economista Pedro Brinca considera que as novas restrições anunciadas no pacote Mais Habitação podem reduzir o investimento em reabilitação urbana para Alojamento Local, uma vez que se prevê que não sejam admitidas novas licenças até 2030, disse ao mesmo meio.
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