CEO da Sotecnisol, José Luís Castro, apela à agilização dos licenciamentos e políticas públicas para dinamizar o setor.
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José Luís Castro
José Luís Castro, CEO Sotecnisol

Num momento em que o setor da construção enfrenta forte pressão para dar resposta à falta de casas, acelerar processos tornou-se tão importante como construir com eficiência. Entre o aumento dos custos, a falta de mão de obra e a urgência em garantir oferta acessível, o setor procura soluções que encurtem prazos, melhorem a qualidade das infraestruturas e reduzam o impacto ambiental. Mas para que estas alternativas ganhem escala, é também fundamental desbloquear aquele que continua a ser – desde há vários anos – um dos maiores entraves: a lentidão nos licenciamentos urbanísticos, tal como defende José Luís Castro, CEO da Sotecnisol, em entrevista ao idealista/news.

De acordo com o responsável, a industrialização da construção surge como uma resposta concreta a muitos destes desafios. Ao transferir parte da produção para ambientes controlados, é possível ganhar em previsibilidade, reduzir desperdício e acelerar a execução em obra. É uma estratégia que se alinha com as tendências da construção 4.0 e com a necessidade de soluções mais rápidas, eficientes e sustentáveis — num momento em que a procura por habitação acessível continua a aumentar. 

Ainda assim, sem processos de aprovação mais céleres e adaptados à inovação, o potencial transformador da industrialização ficará limitado. “No que respeita à burocracia, reconhecemos que os processos de licenciamento continuam a ser excessivamente demorados e complexos, o que representa um entrave significativo à dinamização da atividade e, por isso, acreditamos que seria fundamental que o novo Governo promovesse uma reforma administrativa que simplifique e acelere os procedimentos de aprovação, sem comprometer os critérios técnicos e legais”, defende José Luís Castro.

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É neste cruzamento entre inovação técnica e espírito de mudança que o Grupo Sotecnisol tem vindo a posicionar-se. Em 2024, a área de engenharia e construção voltou a destacar-se nos resultados do grupo, contribuindo para um crescimento de 15% na faturação global -  sendo que o objetivo é chegar a 2026 com um volume de negócios de 100 milhões de euros. Com uma abordagem integrada e presença crescente em mercados como Espanha e França, a empresa aposta numa visão “one-stop-shop” que abrange desde as fachadas aos sistemas AVAC, passando pelas infraestruturas hidráulicas e coberturas técnicas. 

Além disso, investe na formação de novos profissionais através da sua academia, ajudando a mitigar a escassez de mão de obra especializada — outro dos grandes bloqueios à transformação do setor. Para José Luís Castro, construir melhor e mais depressa exige uma mudança profunda em toda a cadeia. 

O Grupo Sotecnisol terminou 2024 com um crescimento de 15% na faturação. Que papel desempenhou a área da engenharia e construção neste resultado positivo?

O crescimento alcançado em 2024 reflete a força e a consistência do nosso core business: a engenharia e construção. Todas as empresas que integram o Grupo Sotecnisol – incluindo as que operam nas áreas de energia e facility services – incorporam nos seus serviços competências de engenharia e construção. Esta integração transversal torna esta área absolutamente decisiva para os nossos resultados, não só pelo seu peso direto na faturação, mas também pelo impulso que confere a todas as outras unidades de negócio. 

Além disso, este desempenho espelha a dinâmica positiva que se tem vindo a verificar no setor da construção, quer em termos de investimento, quer na procura por soluções integradas e sustentáveis, onde o Grupo Sotecnisol tem vindo a afirmar-se como referência.

Quais são atualmente os principais tipos de projetos desenvolvidos pelo Grupo nesta área? Estamos a falar, sobretudo, de construção nova, reabilitação, infraestruturas?

O Grupo Sotecnisol atua de forma abrangente na área da engenharia e construção, desenvolvendo projetos que englobam construção nova, reabilitação e infraestruturas especializadas. Trabalhamos intensamente em obras de construção nova e de reabilitação de elevada complexidade técnica, respondendo às exigências dos setores público e privado, com foco na qualidade e eficiência.

Paralelamente, temos uma forte presença em obras de infraestruturas, onde intervimos em Estações de Tratamento de Água (ETAs), Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETARs), sistemas de rega e soluções de monitorização da qualidade da água, garantindo a sua fiabilidade e segurança em obras subterrâneas tecnicamente exigentes, como as intervenções no Metro de Lisboa e do Porto.

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Geograficamente, em que zonas do país (ou eventualmente fora de Portugal) estão atualmente mais ativos? Existem regiões prioritárias ou estratégicas para o grupo?

O Grupo Sotecnisol mantém uma presença robusta e abrangente em território nacional, com obras a decorrer de norte a sul do país. A nível internacional, destacamos a nossa crescente presença em Espanha e França. Em Espanha, contamos com escritórios em Madrid e Barcelona e, em França, estamos sediados em Paris e em ambos os países temos obras a decorrer em várias regiões. Por exemplo, em França, estamos atualmente a trabalhar na expansão do Metro de Toulouse, uma obra de grande exigência técnica, além de mantermos ainda presença física em Angola e Moçambique.

A Sotecnisol posiciona-se cada vez mais como um parceiro “one-stop-shop” na construção. Como é feita a integração entre os vários serviços (fachadas, caixilharia, AVAC, instalações elétricas) num mesmo projeto?

A integração dos diferentes serviços num único projeto é assegurada através da implementação de estratégias de cross-selling e de uma comunicação interna eficaz, que promovem sinergias entre as várias empresas do Grupo. Esta abordagem permite-nos oferecer soluções completas e coordenadas, garantindo uma maior eficiência na gestão das obras, melhor controlo de prazos e custos, e uma resposta técnica integrada, alinhada com as exigências de cada cliente. Esta capacidade multidisciplinar é um dos principais fatores diferenciadores do Grupo Sotecnisol no mercado da construção.

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Estão a apostar, portanto, na industrialização da construção. Em que medida? E o que motivou este passo?

A aposta na industrialização da construção surge como uma resposta estratégica a vários desafios estruturais do setor. Por um lado, enfrentamos uma crescente escassez de mão de obra qualificada e uma subida acentuada dos seus custos, o que impõe uma necessidade clara de otimização de recursos. Por outro lado, a industrialização permite ganhos significativos em termos de previsibilidade, controlo de qualidade e eficiência nos prazos de execução.

Ao transferir parte significativa da produção para ambientes controlados – como fábricas e unidades de pré-fabricação – conseguimos reduzir a dependência de operações no local, minimizar desperdícios, diminuir os riscos associados à obra e aumentar a produtividade. Além disso, este modelo facilita a coordenação entre especialidades (como fachadas, caixilharias, AVAC e instalações elétricas), contribuindo para uma maior integração dos sistemas construtivos.

Este movimento acompanha também uma tendência internacional de modernização do setor, alinhada com os princípios da construção 4.0, onde a digitalização, a automação e a modularidade desempenham um papel central. O nosso objetivo é reforçar a competitividade do Grupo Sotecnisol, oferecendo soluções construtivas mais rápidas, sustentáveis e adaptadas aos desafios do futuro.

Como é que a sustentabilidade e a eficiência energética estão integradas nas vossas abordagens e soluções construtivas?

A sustentabilidade e a eficiência energética são pilares centrais de toda a atividade do Grupo. Exemplos disso são as fachadas ventiladas, também conhecidas por fachadas inteligentes, que oferecem um excelente desempenho ao nível do isolamento térmico e contribuem significativamente para a eficiência energética dos edifícios. Da mesma forma, a utilização de coberturas brancas, devido à elevada refletância, permite reduzir a absorção de calor, em contraste com os revestimentos cerâmicos anteriormente mais comuns.

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Assistimos também a um aumento significativo na procura e comercialização de materiais sustentáveis, com baixo impacto ambiental e elevada durabilidade. Esta transformação reflete uma crescente preocupação do mercado com o desempenho energético dos edifícios – tanto ao nível passivo, através da melhoria dos sistemas de isolamento e da qualidade da caixilharia, como ao nível ativo, com a escolha criteriosa de equipamentos mais eficientes.

O setor da construção em Portugal continua a enfrentar desafios como escassez de mão de obra, burocracia e pressão sobre os custos. Como é que a Sotecnisol tem respondido a estas dificuldades? Têm alguma sugestão/recomendação/pedido para o novo Governo?

O Grupo Sotecnisol tem procurado antecipar e responder de forma ativa aos desafios do setor, com particular enfoque na escassez de mão de obra qualificada. Criámos a Academia Sotecnisol, que nos permite recrutar profissionais sem experiência prévia no setor e capacitá-los com as competências técnicas necessárias para integrarem os nossos quadros. Esta aposta contínua na formação tem sido essencial para sustentar o nosso crescimento e garantir a qualidade dos serviços prestados.

No que respeita à burocracia, reconhecemos que os processos de licenciamento continuam a ser excessivamente demorados e complexos, o que representa um entrave significativo à dinamização da atividade e, por isso, acreditamos que seria fundamental que o novo Governo promovesse uma reforma administrativa que simplifique e acelere os procedimentos de aprovação, sem comprometer os critérios técnicos e legais. Com estas medidas, seria possível criar um ambiente mais favorável ao investimento, à inovação e à competitividade no setor da construção.

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De que forma a atual instabilidade geopolítica internacional pode afetar a vossa atividade e a dinâmica do setor da construção e imobiliário?

Embora reconheçamos que a instabilidade geopolítica internacional pode ter impacto no setor, nomeadamente ao nível das cadeias de abastecimento, dos custos dos materiais e da confiança dos investidores, acreditamos que, no curto prazo, as repercussões diretas sobre a nossa atividade serão limitadas.

Em termos da nossa atividade, temos vindo a investir continuamente na capacitação das nossas empresas, promovendo estruturas organizativas mais ágeis, eficientes e resilientes, e esta preparação permite-nos mitigar riscos externos e adaptar-nos com maior rapidez a cenários de incerteza. Continuaremos, por isso, a apostar numa gestão robusta, na diversificação de mercados e na inovação como ferramentas-chave para garantir a sustentabilidade e competitividade do nosso negócio, independentemente do contexto internacional.

Têm como objetivo alcançar os 100 milhões de euros até 2026. Que papel terá a engenharia e construção para atingir essa meta e que tendências antecipam para este setor nos próximos anos?

A engenharia e construção continuarão a desempenhar um papel central na estratégia de crescimento do Grupo Sotecnisol, sendo o nosso core business e um dos principais motores da nossa atividade. Estamos fortemente empenhados em aumentar a produtividade das nossas empresas, através da modernização dos processos, da aposta na industrialização e da integração de soluções tecnológicas que permitam otimizar recursos e melhorar a eficiência operacional.

Paralelamente, estamos atentos a oportunidades de crescimento por via de aquisições estratégicas. Acreditamos que o setor da construção tem potencial para continuar a crescer, impulsionado por necessidades estruturais como a habitação, a reabilitação urbana, a renovação de infraestruturas e a transição energética. Nesse sentido, a nossa estratégia combina crescimento orgânico sustentado com uma postura proativa em matéria de investimento.

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Estamos assim preparados para consolidar a nossa posição no mercado, alargar o nosso portefólio de soluções e reforçar a presença internacional, com o objetivo claro de alcançar os 100 milhões de euros em volume de negócios até 2026.

Atuando já em setores tão distintos e abrangentes, que novos projetos, áreas ou mercados estão no horizonte?

O nosso foco estratégico para os próximos anos passa por aprofundar a industrialização dos processos construtivos, com vista a aumentar a produtividade, a previsibilidade e a sustentabilidade das nossas operações, conforme referido anteriormente. Paralelamente, estamos empenhados em melhorar e expandir a nossa capilaridade, reforçando a presença territorial e operacional em todo o espaço onde já atuamos.

Pretendemos ainda aumentar significativamente a nossa penetração nos mercados internacionais, com especial destaque para Espanha e França, onde já temos operações consolidadas e um potencial de crescimento muito relevante. A nossa prioridade passa por consolidar a presença nestes mercados e explorar novas oportunidades que valorizem as competências do Grupo, mantendo o equilíbrio entre diversificação e especialização.

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