Emprego no setor está a crescer em Portugal, mas continua a não ser suficiente para a procura, levando à subida dos salários.
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Trabalhadores na construção em Portugal
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A construção em Portugal continua ativa, com a atividade robusta e mais empresas a nascer. E também há mais trabalhadores a construir casas e outros edifícios no país. Mas este crescimento da força de trabalho é ainda insuficiente para fazer face às reais necessidades do setor, marcadas por uma alta procura e licenças atribuídas. E a falta de mão de obra (sobretudo qualificada) na construção em Portugal leva ao agravamento da subida dos salários de todos os profissionais da fileira, desde pedreiros a engenheiros civis, acabando depois também por encarecer os preços da habitação e o esforço das famílias, nomeadamente, com o crédito habitação. Este mesmo cenário tem vindo a ser alertado por vários players e é agora confirmado por dados oficiais.

Em Portugal, a atividade de construção apresentou um dinamismo moderado até meados de 2025, com um crescimento anual entre 1,3% e 2,7%. Isto após ter passado, em 2020, pela turbulência da pandemia e, dois anos depois, pela subida da inflação e dos juros, eventos que provocaram grandes oscilações no Índice de Produção na Construção divulgado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

Também o emprego na construção tem vindo a subir em torno dos 3% nos últimos meses. Em junho deste ano, a construção empregava cerca de 387,3 mil pessoas no país, mais 23,9 mil pessoas do que um ano antes. Mas será que chega? A Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN) estima que continua a haver uma carência de cerca de 80 mil trabalhadores no setor. E esta falta de profissionais tem feito subir os salários na construção a um ritmo acelerado (entre 6,5% e 12,2% ao longo de 2025), revela o índice do INE.

A falta de mão de obra qualificada na construção continua, assim, a ser um problema estrutural que se mantém no país apesar dos esforços do Governo e dos players do setor para atrair mais trabalhadores, nomeadamente do estrangeiro. E continua a criar constrangimentos não só na criação de oferta habitacional pública e privada, mas também na subida dos custos de construção de casas novas, contribuindo para a subida dos preços da habitação no país.

Os dados do idealista mostram que o custo da habitação em Portugal continua a subir a elevado ritmo. Em agosto, os preços das casas à venda subiram 8,4% face ao mesmo mês de 2024, elevando o custo mediano da habitação para 2.951 euros por metro quadrado (euros/m2), segundo o índice de preços. Já em relação à variação trimestral, os preços das casas subiram 3,5%. 

Esta é uma realidade que também toca a Europa, que igualmente se depara com a falta de profissionais especializados neste setor refletindo-se em alta nas remunerações. O custo horário da mão de obra na construção subiu 4,7% na zona euro e 4,8% na União Europeia no segundo trimestre de 2025 face ao mesmo período do ano anterior, de acordo com os dados do Eurostat divulgados esta terça-feira, dia 16 de setembro. A escassez de trabalhadores qualificados acaba por travar o crescimento da construção e a colocação de mais casas acessíveis no mercado europeu, uma questão que Bruxelas tem debaixo de olho.

Mão de obra na construção
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Salários sobem na construção: quais são as profissões mais bem pagas?

Os salários dos profissionais que trabalham na construção em Portugal continuam a aumentar e a chegar a novos patamares, tal como confirmam os dados mais recentes publicados pelo Gabinete de Estratégia e Planeamento (GEP) tutelado pelo Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social. 

“Em abril de 2025, a taxa de salário mensal dos trabalhadores da construção (…) atingiu 1.326 euros, correspondendo a uma variação de 5,1 % em termos homólogos”, informam desde o GEP. As remunerações brutas subiram em todas as profissões analisadas, com o motorista de veículos pesados de mercadorias a destacar-se pelo crescimento mais elevado (8,4%), seguido do estucador (7,4 %). Já o engenheiro civil foi o que apresentou a menor subida salarial (de 5%).

A verdade é que são os engenheiros civis que apresentam salários mais elevados (em torno de 2.443 euros mensais), seguido dos encarregados de obras (1.782 euros/mês), dos motoristas de pesados (1.323 euros) e dos operadores de máquinas de construção (1.307 euros). Quem recebe menos são mesmo os trabalhadores não qualificados de engenharia civil e de construção de edifícios apresentando um salário de 1.120 euros em abril, depois de uma subida homóloga de 7,2%.

Embora ganhem mais, os engenheiros civis e encarregados de obras representam cerca de 16% da força de trabalho total no setor. A profissão que agrega maior número de trabalhadores (quase um quarto do total) é a de pedreiro, mostram os dados. E os trabalhadores não qualificados têm a segunda maior representatividade (16,2%).

Em que empresas e regiões trabalham os profissionais da construção?

São mesmo as pequenas e médias empresas que somam mais de metade dos trabalhadores na construção. Ainda assim, as grandes empresas (que empregam 250 ou mais profissionais) ainda agregam cerca de 37% da força de trabalho neste setor.

Os salários têm subido a diferentes ritmos consoante o tamanho das empresas. “O crescimento da taxa de salário mensal foi mais elevado nas microempresas (3,3%), seguido das médias empresas (2,1%) e das grandes empresas (1,8%). Nas pequenas empresas, também se assistiu a um crescimento da taxa de salário mensal, embora mais modesto (0,9%)”, refere o GEP. 

São as empresas de construção de grande dimensão que pagam os salários mais elevados (uma média de 1.579 euros mensais). Por exemplo, os engenheiros civis recebem 2.811 euros numa grande empresa enquanto numa microempresa recebe apenas 1.951 euros – trata-se de uma diferença de 860 euros. 

A nível geográfico, salta à vista que o Norte é o principal empregador no setor da construção, com 43% de trabalhadores. Menos de 20% da força de trabalho está no Oeste e Vale do Tejo e apenas 16% na Grande Lisboa. O Alentejo é a região que tem menos mão de obra (3%).

As remunerações dos trabalhadores da construção também subiram em todas as regiões, destacando-se com crescimentos salariais acima de 6% as regiões do Alentejo e Oeste e Vale do Tejo (ambas 6,6%), seguido do Centro (6,2%). “A Grande Lisboa apresentou a taxa de salário mais elevada 1.432 euros”, até porque apresenta as remunerações “mais elevadas em praticamente todas as categorias profissionais”, refere ainda o gabinete.

“Os engenheiros civis ganham, em média, 2.864 euros na Grande Lisboa, o valor mais alto entre todas as regiões”, revela. Também os encarregados de obra são mais bem pagos (1.947 euros, em média) na metrópole da capital. “Opostamente, o Alentejo apresenta as taxas de salário mais baixas”, informa ainda o GEP que prevê divulgar a síntese estatística de junho sobre as profissões na construção no dia 17 de outubro.

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