Sem comissões nem intermediários, há uma nova plataforma tecnológica de compra e venda de imóveis a operar no mercado português. Chama-se Housefy, nasceu em Espanha (onde por questões de comunicação se designa Housfy) e agora está a expandir-se para Portugal e Itália - com França também nos planos -, tendo por base uma ronda de financiamento de seis milhões de euros fechada este ano junto de investidores. Em entrevista ao idealista/news, Albert Bosh, CEO e fundador da proptech, explica como funciona o modelo de negócio das agências digitais, as vantagens para os clientes face às imobiliárias tradicionais - que diz serem os grandes concorrentes - e os objetivos para o mercado português e internacional.
Como e porque surgiu a Housefy?
É um modelo que nasceu em Barcelona (Espanha) há cerca de dois anos e dois meses, com o objetivo de ajudar os proprietários a venderem os seus imóveis diretamente, ao melhor preço possível e no menor tempo possível. E sem ter de pagar as comissões que temos atualmente tão elevadas no mercado imobiliário, que em cidades como em Lisboa ou Porto podem chegar a valores por cima dos 10, 15 ou até 20 mil euros por transação.
Demo-nos conta de que há muitos proprietários em países como Espanha e Portugal que consideram estas comissões muito altas e que o valor acrescentado aportado pelas imobiliárias está descompensado face ao que cobram. Prova disso mesmo é que há muitos proprietários que tentam vender diretamente os seus imóveis, sem passarem por agência.
Housefy nasceu em Barcelona, em 2017, para ajudar os proprietários a venderem os seus imóveis diretamente, ao melhor preço e no menor tempo possíveis, sem pagar as tradicionais comissões de elevado valor.
E a ideia está a ter êxito?
Atualmente em Espanha temos um rácio de êxito de venda de casas publicadas/vendidas muito mais alto do que a média, estamos por cima dos 70%, e o tempo de venda muito inferior ao que se regista em cidades como Barcelona ou Madrid. Atualmente, em termos médios, comercializamos em Espanha 6 casas por dia, e já chegámos a vender 10 em apenas 24 horas.
Como conseguem esses resultados?
Porque utilizamos tecnologia que o permite. Oferecemos um serviço súper completo, baseado em transparência e comodidade.
Quais as diferenças do vosso serviço face a uma agência imobiliária tradicional?
A única grande diferença face a uma imobiliária tradicional é que nós não fazemos visitas, é o proprietário que as faz diretamente. Tudo o resto, oferecemos igual, com a vantagem de termos uma tecnologia mais forte.
Os proprietários através da nossa plataforma fazem toda a gestão da venda, desde a formação de preços, até à concorrência do mercado, o rácio de venda desse perfil de imóvel, a probabilidade da casa ser vendida em três meses... Esta análise é realizada com base em Big Data e Inteligência Artificial, cruzando os dados de várias fontes e comparando-os, ao momento, com a informação dos imóveis com características similares nos vários portais de imobiliário.
A única grande diferença face a uma imobiliária tradicional é que nós não fazemos visitas, é o proprietário que as faz diretamente. Tudo o resto, oferecemos igual, com a vantagem de termos uma tecnologia mais forte.
Além disso, enchemos -lhes as casas de potenciais compradores e, por fim, tratamos de todos os procedimentos legais e burocráticos.
Sempre digo que seguimos um conceito muito similar ao de Airbnb, mas o que nós fazemos é vender casas em vez de arrendamentos turísticos.
Divulgam os imóveis dos vossos clientes em plataformas como o idealista (empresa editora deste portal de notícias). Qual a vantagem?
Para mim idealista é um partner. Nós somos afinal de tudo uma agência imobiliária e como todas apoiamo-nos nos portais imobiliários, que nos fornecem um número muito relevante de compradores.
Também oferecem serviços de financiamento, porquê?
Temos serviços de financiamento, porque afinal o que o proprietário quer é vender o seu imóvel com a maior facilidade possível e isto ajuda. Por outro lado, detetámos que se podem vender melhor e mais caro as casas reformadas. E então decidimos também oferecer serviços de reformas para que as casas se possam vender melhor, em termos de preço.
E em termos de tarifas como funcionam?
Nós não acreditamos nas comissões, pensamos que o valor aportado por uma agência não compensa as altas comissões que se pagam. Acreditamos que o que tem sentido é a cobrança de uma tarifa fixa, um 'fee' que se paga pelo acesso a uma plataforma que oferecemos, com todos os serviços. E que só se cobra se se vende.
Nós não acreditamos nas comissões, pensamos que o valor aportado por uma agência não compensa as altas comissões que se pagam. Acreditamos que o que tem sentido é a cobrança de uma tarifa fixa, um 'fee' que se paga pelo acesso a uma plataforma que oferecemos, com todos os serviços. E que só se cobra se se vende.
Mas há alguma dificuldade ou resistência que estejam a sentir para vingar mais no mercado?
O grande obstáculo para entrar tem mais a ver com formação e entendimento, termos de explicar que existem modelos diferentes, novos e digitais. As pessoas estão habituadas a fazer o negócio de compra e venda de uma casa cara a cara, com o comercial. E o nosso modelo é totalmente diferente, totalmente digital.
Acreditam, portanto, que o mercado está preparado para esta mudança de modelo?
Neste aspeto estamos muito seguros, devido à nossa elevada taxa de êxito conseguida em Espanha, onde já atingimos os 2 mil imóveis transacionados. Isto coloca-nos já entre as maiores agências do país, entre a quinta e a décima, sendo que operamos nas 480 maiores cidades espanholas
Numa cidade como Barcelona, que será similar a Lisboa em termos de dimensões, se tivermos em conta todas as transações que se realizaram, com e sem agência, devemos estar entre as 3 maiores.
Recentemente arrancámos fora com a operação em Itália e agora Portugal, onde vamos investir um pouco mais de um milhão de euros nos próximos 12 meses.
E agora decidiram internacionalizar-se...
Sim. Recentemente arrancámos fora com a operação em Itália e agora Portugal, por Lisboa, com uma equipa comercial que deverá chegar ao final do ano com 30 pessoas.

Porquê Portugal e Itália e com uma submarca diferente?
Consideramos que os mercados espanhol, português e italiano são muito semelhantes e numa ronda de financiamento junto de investidores, conseguimos levantar cerca de seis milhões de euros que servem sobretudo para suportar a expansão para fora de Espanha.
Em Portugal, vamos investir um pouco mais de um milhão de euros nos próximos doze meses. O investimento será canalizado sobretudo para a equipa comercial, comunicação e marketing.
À semelhança de Itália, por razões de comunicação e publicidade, a agência imobiliária digital utilizará o nome Housefy, em vez de Housfy. Acreditamos que é algo que não afetará o posicionamento da marca em Espanha, mas que nos ajudará a internacionalizar a empresa através da palavra ‘House’.
O mercado imobiliário em Lisboa e no Porto está muito ativo e o consumidor português é semelhante ao espanhol. Estes fatores, em conjunto com muitos outros, levam-nos a crer que a receção do nosso modelo de negócio será igual ou superior à de Espanha.
Entram já com todas as vossas áreas de negócio?
Em Portugal decidimos entrar passo a passo. Começaremos com compra e venda, e depois chegaremos ao financiamento e por fim às reformas.
E temos um modelo de cidade a cidade. vamos começar primeiro por Lisboa e toda a área metropolitana, que é muito grande, e à medida que formos ganhando tamanho iremos para outras cidades, como o Porto.
E acreditam que o mercado português está preparado para abrir a porta às agências digitais?
Como não? Sempre digo se há num mercado similar ao de Barcelona é o de Lisboa, a nível de abertura mental, digitalização. Afinal, cidades são cidades que olham para o mar e se abrem...
Além do mais, o mercado imobiliário em Lisboa e no Porto está muito ativo e o consumidor português é semelhante ao espanhol. Estes fatores, em conjunto com muitos outros, levam-nos a crer que a receção do nosso modelo de negócio será igual ou superior à de Espanha.
Dentro de um ano gostaríamos de estar em Portugal com uma média de 100 vendas por mês e 300 imóveis em carteira.
Qual é o vosso objetivo em termos de resultados para Portugal?
A nível mais global, acreditamos que há potencial de crescimento no mercado das agências online e dentro deste a nossa ambição é sermos os primeiros como agência digital, nos três países em que vamos estar a operar.
É verdade que em termos de concorrência online começam a surgir empresas como a nossa, mas para mim a grande concorrência de verdade será sempre a offline. As chamadas agências tradicionais, de toda a vida.
Têm surgido várias agências do mesmo tipo recentemente... isso pode comprometer as vossas metas?
É verdade que em termos de concorrência online começam a surgir empresas como a nossa, mas para mim a grande concorrência de verdade será sempre a offline. As chamadas agências tradicionais, de toda a vida.
Mas os investidores decidiram investir em Housfy porque o resultado de vendas em número de imóveis e tempo está, de facto, a demonstrar que há uma mudança de modelo… que há algo que está a acontecer e que é muito relevante.
A empresa nasceu em maio de 2017 e desde então reuniu 9,7 milhões de euros em rondas de investimento com a Seaya Ventures, DN Capital, Torch Capital ou a Cathay Capital. Deste total, 6 milhões foram angariados em maio de 2019.
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