
As pressões vindas da Europa convergem num só sentido: tornar os edifícios mais sustentáveis no médio prazo. Mas a maioria dos players do mercado imobiliário português ainda não estão comprometidos em reduzir as emissões de CO2. Trata-se de um caminho longo e complexo, cheio de desafios, que terá de ser traçado pelo bem do planeta. E, neste sentido, o idealista/news preparou um guia que explica, ponto por ponto, tudo o que é preciso saber para tornar os edifícios de escritórios mais sustentáveis, seguindo os critérios Environmental, Social and Corporate Governance (ESG).
O setor imobiliário, tal como as outras atividades económicas, tem um papel a desempenhar no objetivo coletivo de proteger o planeta e as sociedades para o futuro. Até porque, hoje, os edifícios representam 37% do consumo global de energia e uma percentagem “considerável” das emissões de gases com efeitos estufa, segundo aponta o estudo "REvolution – An ESG roadmap for Real Estate", divulgado pela PwC no passado dia 25 de outubro e enviado ao idealista/news.
Além disso, também há vantagens em ter edifícios sustentáveis na carteira de imóveis Para a PwC , “a garantia de um portfólio de ativos mais sustentáveis poderá potenciar, não só uma maior capacidade de atrair novo investimento, mas também trará oportunidades de arrendamento e venda mais vantajosas”. Além disso, esta é uma questão cada vez relevante para a atratividade e retenção de talento das empresas que ocupam estes espaços de trabalho.
“São cada vez mais as empresas que indicam preferir ocupar espaços mais sustentáveis e certificados a nível ambiental”.
Mas nem todos os proprietários estão ainda alinhados com a necessidade de combater as alterações climáticas, reduzindo a pegada de carbono. Os dados apurados no inquérito a 22 investidores e 18 ocupantes do mercado de escritórios em Portugal mostram que existe, ainda, falta de compromisso: 68% dos proprietários e 50% dos inquilinos não apresentam metas para a redução de emissões de CO2. A complexidade da transição climática pode explicar, em parte, estes números.
A verdade é que, mais tarde ao mais cedo, os proprietários de imóveis terão de tornar os seus edifícios mais eficientes dadas as exigências da Europa sobre esta matéria. E para tornar os imóveis mais verdes, os players do mercado precisam de traçar um roteiro ESG que abranja toda a sua cadeia de valor, desde a definição de uma estratégia ao reporte de métricas, seguindo um conjunto de boas práticas gerais.

Um guia sobre como tornar os edifícios mais eficientes
Investir nos edifícios tornando-os mais sustentáveis é um caminho cheio de desafios, mas tem também o potencial de acrescentar valor ao negócio. Explicamos os passos que as empresas devem seguir, de acordo com o mesmo estudo da PwC:
1. Perceber a importância do ESG e o nível de maturidade da organização;
2. Desenvolver uma estratégia ESG com objetivos concretos: criar uma estratégia de sustentabilidade que reflita a visão da empresa sobre ESG, como por exemplo uma estratégia net-zero;
3. Implementação (iniciativas ESG, modificação de processos, alteração da cultura, entre outras);
4. Monitorização e avaliação (rever a qualidade e conformidade da divulgação ESG, reavaliar implementação e os riscos, desenhar a estratégia).
Neste processo é importante também envolver todos os stakeholders da empresa e divulgar externamente todas as conclusões obtidas sobre a implementação de estratégias sustentáveis na empresa, para obter certificações e reconhecimento no mercado imobiliário. Desta forma, a adoção de medidas sustentáveis terá um impacto no valor de mercado dos imóveis.

Boas práticas a adotar no imobiliário para definir uma rota para a descarbonização
Para tornar os edifícios mais sustentáveis, os proprietários devem, de acordo com o estudo:
- Apostar em soluções de autoconsumo baseadas em energias limpas ou na compra de energia 100% verde;
- Trocar equipamentos em fim de vida por outros com maior eficiência (AVAC, iluminação LED, bombas de calor);
- Promover a reutilização e circularidade dos materiais de construção;
- Apostar em soluções de 'retrofit' e materiais de baixa pegada carbónica, ecológicos e reciclados (madeira de fontes certificadas, cortiça, hempcrete, lã). De notar que para desenvolver soluções 'retrofit' deverá ter-se em conta alguns fatores, como a exposição solar, sombreamento, ventilação natural ou eficiência térmica;
- Desenvolver mais espaços verdes para maior sombreamento e zonas brancas para efeito refletor do calor (coberturas verdes, coberturas brancas);
- Incluir 'property management' como parte ativa na gestão contínua da performance energética.

E também as empresas que ocupam os espaços de escritórios têm um papel importante na mudança em:
- Incentivar mudanças comportamentais para uso eficiente e redução do consumo ao nível energético e de resíduos;
- Trocar equipamentos em fim de vida por outros com maior grau de eficiência energética;
- Promover a reutilização e circularidade dos materiais dos 'fit outs';
- Apostar em materiais de baixa pegada carbónica, ecológicos e reciclados.
Há também, de acordo com a mesma publicação, várias ferramentas digitais que facilitam o processo de adoção destas boas práticas sustentáveis, pelo que se deve:
- Adotar ferramentas tecnológicas que permitam controlar e melhorar os processos logísticos na construção;
- Recorrer a tecnologias que permitam a utilização de materiais que produzam menos desperdício (ex.: pré-fabricação, impressão 3D);
- Implementar softwares que centralizem a recolha de KPIs, identifiquem falhas e pontos de melhoria para uma melhor gestão de recursos na fase operacional do ativo.
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