
Na luta contra as alterações climáticas, o imobiliário tem um papel fundamental. Isto porque os edifícios representam, hoje, 37% do consumo global de energia e uma percentagem “considerável” das emissões de gases com efeitos estufa. Há um caminho a ser traçado para diminuir as emissões dos edifícios na Europa, que importa ser acelerado. Mas ainda há falta de compromisso: segundo o estudo da PwC divulgado esta terça-feira, dia 25 de outubro, a maioria dos proprietários não apresenta um plano para reduzir as emissões de CO2.
A construção sustentável não é um tema novo para o setor imobiliário. Mas tem vindo a ganhar cada vez mais importância dos últimos anos. Até porque, o “setor imobiliário tem um papel relevante nesta busca pela neutralidade carbónica, reduzindo as emissões de gases com efeito de estufa quer pela via dos materiais de construção (embodied carbon), quer pela via que decorre da utilização diária dos edifícios (operational carbon)”, aponta o estudo "REvolution – An ESG roadmap for Real Estate" apresentado esta terça-feira.
A importância do papel do imobiliário para travar as alterações climáticas é reconhecido pelos países do espaço europeu. “Mas para muitos [players] a transição climática apresenta-se como um problema sem resolução, com demasiada dimensão e complexidade”, refere a PwC. Os dados apurados no inquérito a 22 investidores e 18 ocupantes do mercado de escritórios em Portugal mostram isso mesmo: 68% dos proprietários e 50% dos inquilinos não apresentam metas para a redução de emissões de CO2.
Dos players que já definiram metas neste sentido, “os compromissos são mais ambiciosos pela parte dos proprietários (23% deseja reduzir entre 75-100% das emissões de CO2), ao passo que a grande maioria dos ocupantes têm metas inferiores (22% aponta para reduções de 50-75% e 17% para 75-100%), possivelmente pela dificuldade acrescida do lado das empresas enquanto organizações complexas”, conclui o mesmo estudo.
As dúvidas em definir e implementar políticas ESG (Environmental, Social, and Governance) continuam a surgir. Mas o setor imobiliário, tal como os restantes, será obrigado a fazê-lo no curto-médio prazo, por exigência regulatória da europa. Recorde-se que a Comissão Europeia definiu que os edifícios comerciais e públicos apenas passam a poder ser vendidos após a realização de obras de reabilitação, que lhes permitam alcançar uma classe energética F, a partir de 2027, e E, a partir de 2030. Além disso, os edifícios novos terão de ter certificação energética mínima de B. E os novos edifícios públicos e comerciais com área superior a 2.000 m2 terão de ser nZEB (near Zero Energy Building) a partir de 2027.

Certificação energética: qual a vontade de mudar?
Embora os investidores e inquilinos considerem que tornar os edifícios mais sustentáveis seja um tema complexo, o mesmo estudo da PwC mostra que 100% dos proprietários acredita que as certificações de sustentabilidade representam uma valorização no valor de venda do imóvel. E indica ainda que 65% dos ocupantes consideram que a sua organização estaria disposta a pagar mais por espaços de escritórios já certificados.
Apesar de haver intenção de tornar os edifícios mais eficientes , o mesmo estudo da PwC mostra que 32% dos proprietários inquiridos não tem qualquer certificação ambiental integrada na sua estratégia de sustentabilidade. Mas há vontade de mudar, indica o estudo:
- 73% dos proprietários estariam ainda dispostos a investir até 10% das suas rendas anuais para certificar os ativos do seu portfólio;
- 13% estaria disposto a investir até 20% das suas rendas anuais.
Entre os proprietários que têm certificações energéticas dos seus edifícios, 45% privilegia a certificação LEED, seguida da BREEAM e WELL, ambas com 36%.

Como adaptar os edifícios e torná-los mais sustentáveis?
Mas para conseguir arrecadar a certificação energética, os players têm de adaptar os edifícios existentes, não só adaptado a sua conceção arquitetónica tornando-a mais eficiente, mas também pela redução do consumo de energia por via da utilização diária.
“As iniciativas de adaptação implementadas pelos inquiridos se articulam-se perfeitamente com aquelas que são as principais metas ambientais definidas”, conclui a PwC. Isto porque, dos inquiridos, 78% referiram que a melhoria da eficiência dos seus equipamentos foi o principal motivo para efetuarem alterações aos espaços. E 68% dos players assumiram o objetivo de melhorar a gestão dos recursos utilizados.
Entre os fatores de adaptação dos edifícios em termos ambientais considerados mais importantes pelos inquiridos estão:
- Eficiência dos equipamentos (78%);
- Gestão de recursos (68%);
- Conforto térmico, visual e acústico (65%);
- Certificações energéticas (58%);
- Postos de carregamento (50%);
- Certificações ambientais (43%).
No que à redução das emissões de CO2 diz respeito, só 33% dos inquiridos considera este um fator prioritário de adaptação dos edifícios em termos ambientais. “Esta perspetiva poderá ter sérias implicações para o negócio, uma vez que muitos dos compromissos internacionais no âmbito da sustentabilidade ambiental assenta neste compromisso”, conclui o estudo.
Para poder comentar deves entrar na tua conta