O novo fundo Nacional de Reabilitação do Edificado, que irá ser alimentado por fundos da Segurança Social e colocar no mercado edifícios públicos com rendas controladas, vai hoje a Conselho de Ministros, para ser discutido e aprovado pelo Governo. O mercado imobiliário está apreensivo quanto a este novo instrumento, nomeadamente, no que respeita à rentabilidade entre 3% e 4% prometida pelo Executivo.
Anunciado pelo primeiro-ministro, António Costa, como sendo uma forma de apostar na reabilitação urbana e no mercado do arrendamento, o fundo terá como ativos 7.500 edifícios públicos (Estado central ou autarquias, por exemplo), do terceiro setor e de privados que tenham imóveis degradados e não tenham condições para os reabilitar, optando por colocá-los lá e recebendo, em troca, unidades de participação.
O sentimento geral no setor imobiliário é de que os privados não se irão sentir atraídos por esta solução, no momento atual, em que o a compra e venda está em alta, segundo escreve o Jornal de Negócios, com base numa ronda por especialistas.
As grandes dúvidas do setor
O valor dos imóveis é um dos pontos que suscita dúvidas: esses ativos terão de ser alvo de uma avaliação independente, sendo que, neste momento, "estamos num ciclo de mercado muito positivo, com preços que nunca se viram antes em Lisboa", mesmo para imóveis degradados, afirma Francisco Horta e Costa, diretor-geral da consultora imobiliária CBRE, citado pelo jornal.
Outro ponto de alarme para o setor imobiliário tem a ver com a rentabilidade do fundo, que segundo o especialista irá estar comprometida com as rendas a preços controlados para a classe média, ou seja, abaixo das médias de mercado.
José António de Mello, presidente da SGFII Selecta, gestora de fundos imobiliários também ouvido pelo diário, está de acordo. "Se queremos rendas abaixo dos valores de mercado, os preços de aquisição dos imóveis deverão também eles serem abaixo daqueles que se praticam ou então existe outra forma de compensação".
Já Pedro Valente, especialista da Worx, consultora internacional na área do imobiliário, está muito cético e considera que é uma "opção perigosa" para os fundos da Segurança Social e que "haverá alternativas melhores".
O responsável da Worx, ao Negócios, disse mesmo que não descarta, ainda, a possibilidade de o FNRE "promover uma concorrência desleal", por via de uma "subsidiação que poderá deturpar o mercado".
Mas há quem veja virtudes nesta iniciativa do Governo socialista de António Costa. Pedro Lencastre, diretor-geral da JLL, citado pelo diário, diz que um dos pontos a favor do novo fundo é que "o incumprimento [no pagamento das rendas] também será menor" e isso refletir-se-á nos resultados. Na sua opinião, "trata-se de uma boa iniciativa, que vai ao encontro das necessidades de reabilitação dos muitos edifícios degradados". Públicos, sobretudo.
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