Economistas estão em alerta. Será uma questão de tempo até que as consequências económicas atinjam o mercado, segundo o Financial Times.
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Subida nos preços das casas na Europa gera preocupação: resiliência do mercado até quando?
Photo by JOHN TOWNER on Unsplash

O mercado imobiliário tem-se mostrado resiliente à crise e nem a profunda recessão global, gerada pela pandemia do novo coronavírus, impediu a contínua subida de preços das casas - o crescimento acelerou para um ritmo anual de quase 4% entre o clube de países ricos da OCDE neste ano, com aumentos ainda mais rápidos no que respeita à Europa e EUA. Mas alguns economistas mostram-se preocupados com este cenário, e perguntam-se se é uma questão de tempo até que as consequências económicas atinjam o mercado imobiliário europeu.

“A pandemia não é uma boa notícia ou útil de forma alguma para o mercado imobiliário”, considera Matthias Holzhey, economista do UBS e co-autor do Global Real Estate Bubble Index 2020, que compara os preços das casas em 25 das maiores cidades do mundo. “Está claro que a recuperação económica ainda não está acontecer, a riqueza diminuiu e as rendas estão a cair na maioria das cidades e, por isso, a alternativa de comprar uma casa está a ficar mais barata”, disse Holzhey. “Os fundamentos simplesmente não apontam para um boom imobiliário contínuo”, refere ainda, citado numa notícia avançada pelo Financial Times (FT).

De acordo com a publicação financeira, todos os sinais indicam que é exatamente isso o que está a acontecer. Ainda que o mundo tenha sofrido a recessão mais profunda do pós-guerra, entre o primeiro e o segundo trimestres, os preços das casas nos países mais ricos não apenas continuaram a subir, mas aceleraram, de acordo com dados da OCDE. A apoiar essa resiliência dos mercados imobiliários estão os vastos pacotes de estímulo de governos e bancos centrais que apoiaram empresas em dificuldades, permitindo que muitos trabalhadores continuassem a ter rendimentos - o que é crucial - e mantiveram os custos dos empréstimos perto de mínimos históricos.

O Financial Times refere aumentos de preços nos EUA, e ainda mais acentuados em grande parte da Europa, destacando a Alemanha, Holanda, Portugal e Polónia. Os preços na Rússia dispararam 15%, alimentados por subsídios estatais, escreve ainda a publicação.

A fuga para as periferias

A subida dos preços também a levar algumas pessoas a abandonar as localizações mais caras nas cidades em busca de mais espaço, impulsionadas, também, pela possibilidade de agora trabalhar remotamente. No Reino Unido, os preços das moradias isoladas aumentaram o dobro dos apartamentos entre março e setembro, de acordo com Halifax, citada pelo FT.

O Financial Times dá o exemplo de um casal em França que decidiu deixar um apartamento arrendado em Paris, onde morava com os seus dois filhos, para comprar uma casa de campo na costa da Normandia. Diz a publicação que estes novos trabalhadores “móveis”, que deixaram Paris, podem ter contribuído para uma rara queda mensal nos preços das casas na cidade, que desceram 0,5 por cento em setembro, ainda que devem crescer mais de 2% este ano, tendo aumentado mais de um terço em cinco anos, de acordo com pesquisa da Meilleurs Agents.

“Percebemos a pressa nos primeiros dias do confinamento, quando 20% dos parisienses foram trabalhar remotamente para campo”, refere Pierre Madec, economista do think-tank OFCE em Paris. “Isso levanta uma questão: estamos preparados para perder 20% da população de Paris?”

O aumento dos preços das casas também está a causar preocupação na Alemanha. Num relatório recente do banco central é referido que os apartamentos nas maiores cidades do país sofreram uma sobrevalorização de 30%. O volume de terrenos vendidos a cada ano nas grandes cidades caiu um terço desde 2012, enquanto os preços mais do que duplicaram, de acordo com a associação alemã da indústria de construção. O número de novos apartamentos construídos no ano passado aumentou 2%, para 293.000 - mas permaneceu abaixo dos 400.000 necessários por ano para atender à procura.

“Não esperamos que o mercado imobiliário alemão desça tão cedo”, disse Jochen Möbert, analista imobiliário do Deutsche Bank, citado pelo Financial Times. “Sim, há riscos. Mas estamos a ver um influxo de capital à medida que os fundos de investimento realocam dinheiro dos mercados financeiros para o mercado imobiliário. ”

Outro sinal preocupante para o mercado imobiliário europeu, diz a publicação, passará pelo facto de os bancos estarem a começar a colocar travão aos empréstimos hipotecários, preocupados com "as percepções de risco relacionadas com as perspectivas económicas gerais", de acordo com a última pesquisa trimestral de credores do Banco Central Europeu.

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