Philippe Starck tornou-se um nome notável na arquitetura e no mundo do design. Com uma carreira de mais de 50 anos, este génio criativo francês inventou cadeiras, vendeu milhões de cópias de um espremedor de laranja escultural, desenhou hotéis boutique, bicicletas, iates e até estações espaciais.
Criou a sua própria estética, e cada uma das suas peças supera qualquer expectativa. Já viveu em vários locais, mas foi no alto da serra de Sintra, em Portugal, que encontrou o refúgio perfeito para estar “longe de tudo”.
"Comecei a viver no bosque perto de Paris. Passei depois a viver em aviões. Depois, na lama de Veneza. Depois instalamo-nos em Formentera, até que Formentera deixou de ser Formentera. E agora vivemos no alto da serra de Sintra, em Portugal, longe de tudo", revela Starck num entrevista recente ao El País (acesso reservado).
Apresenta-se como um designer democrático, porque desenha “objetos acessíveis”. Revolucionou a decoração de casas, por exemplo, ao elevar os móveis de plástico ao patamar de modernidade e sofisticação. Dedicou-se a criar objetos funcionais, mas requintados, e tem várias peças icónicas no seu portefólio: a mítica cadeira Louis Ghost; a cadeira Bubble; a poltrona Bubble Club; a cadeira Venice; entre muitos outros. O espremedor Juicy Salif é outra peça icónica. Mais escultural, que funcional, mas certamente bem divertido.
A paixão de Starck por Portugal não é de hoje. Começou por passar férias na Comporta, viveu em Cascais e há uns anos já falava dos encantos da gente portuguesa e de Sintra. “Em Portugal as pessoas são mais humanas. É um local no mundo onde as pessoas são orgulhosas, inteligentes, bonitas, honestas, trabalhadoras. Podemos encontrar uma beleza que já não existe”, disse numa outra entrevista televisiva.
“Eu sou completamente apaixonado por Sintra. Sintra é como um sonho de criança, como um sonho de um louco, como um poema, como uma pintura, é uma obra de arte. E eu passo os meus dias a passear de bicicleta ou a pé na floresta de eucaliptos de Sintra, e é, seguramente, onde estão as casas mais bonitas do mundo, e dentro delas há uma fantasia elegante que já não existe”, acrescentou nesse momento.
“Os portugueses são como uma doença que se apanha ou como uma droga da qual ficamos dependentes”, elogia Philippe Starck.
“Que as coisas durem material e formalmente é sustentabilidade”
Desenha e produz muito, algo que não é muito benéfico para o planeta, mas diz que “não sabe fazer outra coisa”. “É o drama da minha vida: sei que temos que reduzir a produção, mas como não sei fazer, procuro produzir objetos melhores”, indica. Trabalha muito com plásticos, e vai continuar a fazê-lo.
Apesar de polémico, considera que o “plástico deixou de ser o problema”, e que se criou uma confusão entre os milhões de sacos de plástico que “claramente poluem”, com as cadeiras de plástico. “A banheira de plástico de uma criança dura décadas e isso também é sustentabilidade”, refere.
Diz ter orientado o seu trabalho para a ecologia e desmaterialização dos objetos. Acredita que a longevidade, qualidade, inteligência e honestidade são atributos que podem fazer os objetos durar séculos. “Que as coisas durem material e formalmente é sustentabilidade. O que não é ecológico é mudar continuamente”, esclarece.
Mas, afinal, por que é que projetou dezenas de cadeiras? Acredita que “cada uma obedece a uma razão: baixar o custo de produção, limitar os componentes, comunicar uma ideia de mundo mais igualitária, mais feminista...” . “As cadeiras são ferramentas de comunicação, de mudança. Eu só projeto cadeiras que fornecem mais do que apenas um assento. O design pelo design não me interessa. Eu teria vergonha de me dedicar a algo assim”, refere.
Philippe Starck: como nasceu este “designer estrela”?
Criar para Starck é como caminhar, um dom natural. Recatado e irónico, e por vezes cáustico até, mas com sentido de humor à mistura, diz em entrevista ao El País que tornou-se designer porque quando era jovem se sentia muito solitário, e até desesperado. “Achei que tinha que fazer mais da minha vida do que pensar em suicídio e tentei desenhar. Não é uma vocação. Não estou interessado em design. Mas como não estudei e não entendo de sociedade, o design é o meu lugar porque não exige formação”, refere, explicando que a “criatividade não se obtém com educação”.
Foi diagnosticado com síndrome de asperger, e foi-lhe sempre possível levar sempre uma vida normal. Sente, aliás, que é também desta sua condição, e do facto de ter uma “leve doença mental”, que extrai parte da sua criatividade.
Diz ser uma pessoa “incapaz de aprender com os outros”, por ter crescido sozinho, sem o apoio dos pais. Teve de entender o mundo por si, e por isso gosta de “procurar informações por conta própria” e ir ao “fundo das coisas”. “Ter uma opinião própria constrói conhecimento e constrói-te. Em parte, também te isola. E esse é o meu drama. Mas também a minha grande fortuna. Moro longe de tudo, sozinho com minha esposa”, adianta.
Como é que nasceu este “designer estrela”? “Um dia a minha mãe decidiu ir à escola, praticamente a única vez na sua vida, e o diretor disse-lhe que ela tinha um filho brilhante, mas que ele não tinha o mínimo de autoconfiança. Era um homem muito inteligente. E não é que eu não confiasse em mim, ele desprezava-me. E foi por isso que fiquei obcecado em ser bom em alguma coisa para não me desprezarem. Passei a vida a tentar que não me desprezassem”, conta ao jornal espanhol. Parar não está nos seus planos, até porque “parar é chato e viver é sempre melhor”.
1 Comentários:
“A banheira de plástico de uma criança dura décadas e isso também é sustentabilidade”
- o problema é justamente esse, é que os plásticos duram tempo de mais, não se desfazem e são poluentes. Duram muito mais tempo que o bébé, que cresce e já não precisa da banheira. E no fim o plástico vai parar aos oceanos!
Para poder comentar deves entrar na tua conta