Entre oliveiras centenárias e sobreiros, esconde-se o Monte da Borrega, uma casa típica alentejana, a poucos quilómetros de Arronches, que foi transformada num bonito refúgio de férias. Renasceu pelas mãos de uma família multifacetada: um investigador em medicina molecular, um arquiteto e uma designer de interiores, apoiados pela matriarca da família, a mãe Isabel, e o avô Armando. A casa centenária foi remodelada com a premissa de nunca lhe roubar a traça original da região, e assim foi. Para uma escapadela de fim de semana ou férias prolongadas: este paraíso está disponível para quem desejar respirar a calma do Alentejo.
“O ramo imobiliário sempre me seduziu, e um dos meus principais hobbies passa por ver anúncios de imóveis, identificar possíveis boas aquisições e avaliar as flutuações de mercado. Um dos sonhos que sempre tive passava por adquirir um monte típico alentejano, restaurar e posteriormente poder fazer exploração de alojamento local. A ideia não passava simplesmente em fazer dinheiro com alojamento local, mas sim, criar um espaço ao nosso gosto, o nosso cantinho de férias, e que eventualmente o pudéssemos alugar nos períodos que estivéssemos fora”, explica Bruno Vidal, em nome da família.
Mas quem são as "caras" por detrás deste projeto de família? Bruno Vidal, de 37 anos, doutorado em Ciências Biomédicas e investigador há 15 anos no Instituto de Medicina Molecular; o irmão, David Carqueijeiro, 45 anos, que é arquiteto, vive e trabalha em Londres para a Louis Poulsen, e dedica algum do seu tempo livre à criação de peças em cerâmica; a namorada de Bruno, Andreia Moutinho, 33 anos e designer de interiores, além de criadora da marca de joalharia e acessórios, Lovely Breeze.
E faltam dois elementos essenciais: a mãe de Bruno e David, Isabel Vidal de 62 anos, jurista, a quem os filhos deixam o agradecimento pela possibilidade de fazer acontecer este projeto; e o avô, Armando Costa, que tanto os "ensinou e apoiou neste projeto". "Quer pela forma como nos dizia como tratar das vinhas, como pelo amor que nutria pelo Monte da Borrega”, refere Bruno.
O ponto de partida: encontrar uma casa típica alentejana
“Entre 2018 e 2019 intensifiquei a minha pesquisa à procura de um imóvel com características que fossem ao encontro do pretendido: casa típica alentejana, com terreno a necessitar de obras a um preço convidativo. No verão de 2019 identificámos a casa, que viemos a adquirir em setembro de 2019”.
Bruno Vidal explica a escolha: um terreno de aproximadamente de 1 hectare, com duas casas típicas alentejanas, sem vizinhos, muita natureza, a um valor convidativo.
Terminámos as obras da primeira casa e agora temos uma segunda para remodelar. Há sempre ideias novas a surgir
A maior parte da obra e remodelação, principalmente dentro da casa, foi realizada pelos próprios, contudo, contaram com a ajuda do Sr. Santos Crespo, pedreiro da zona que deu uma importante ajuda na execução de alguns trabalhos que necessitavam de maior experiência na área da construção e de tempos muito longos de execução, como foi o caso do arranjo do telhado, construção da churrasqueira e zona envolvente. Sobre o prazo para considerar esta remodelação concluída, o investigador apaixonado por casas bonitas esclarece: “Muito sinceramente, acho que nunca haverá uma conclusão!”
“Terminámos as obras da primeira casa e agora temos uma segunda para remodelar. Há sempre ideias novas a surgir e com 1 hectare de terreno, espaço não falta para dar largas à imaginação. Adicionalmente, um ponto bastante importante para nós, assenta na sustentabilidade energética e hídrica do nosso espaço. Desta forma, é nosso objetivo instalar painéis fotovoltaicos bem como um ponto de captação de água para atingirmos esses objetivos", refere ainda Bruno Vidal.
A calma do Alentejo: uma virtude e um desafio
“Aqui no interior do país, o cenário é outro e temos de desenvolver a capacidade de saber esperar. E a realidade é que o interior do país funciona a um ritmo diferente, não só porque há tempo para as coisas acontecerem como por vezes também não há meios para que essas mesmas coisas possam acontecer de forma mais célere. No processo de obra e remodelação da casa, o maior desafio por vezes foi a escassez de alguns materiais que simplesmente não é costume serem utilizados nesta zona do país ou que demoram algum tempo a chegar, tendo sido amplamente afetado durante a pandemia", esclarece o investigador.
Mas os desafios foram muito para além da noção de tempo e do calor que se faz sentir nesta zona do país.
“A identificação dos materiais ideais para a remodelação é sem dúvida um quebra-cabeças. Atualmente, há inúmeras opções no mercado para um mesmo tipo de trabalho, como tal, é necessário estudar esses diferentes materiais, de forma a identificar vantagens e desvantagens dos mesmos”, explica Bruno. “Outro desafio presente numa remodelação, passa por perceber e identificar a casa/arquitetura/construção, quais os materiais que foram originalmente utilizados na sua construção, de forma que os materiais utilizados na remodelação sejam compatíveis com a essência inicial da casa, para que essa mesma essência não seja desvirtuada”, acrescenta.
Um dos grandes objetivos é manter o Monte da Borrega o mais original possível com intervenções que não roubassem a traça típica de monte alentejano do início do século XX. Na verdade, o Monte da Borrega corresponde a uma visão muito específica desta família para este lugar. “Foi desde cedo criada uma linha condutora no estilo e paleta de cores que queríamos transmitir à casa, onde todos nos alinhámos. Estilo esse, amplamente presente em zonas do mediterrâneo, mais propriamente em Itália e sul de Espanha", acrescenta.
E se a visão foi o ponto de consistência, o orçamento sofreu com a instabilidade da conjuntura “Inicialmente tratava-se de um projeto menos ambicioso, e ao longo do tempo, fomos dando robustez ao projeto e isso acabou por encarecer o mesmo. No entanto, como é um projeto a longo prazo torna-se difícil prever o valor total do investimento, principalmente quando se vivem períodos de elevada instabilidade económica em que o valor dos materiais de construção e afins sofrem alterações significativas semanalmente.”
Remodelar: a vantagem de "ressuscitar" um espaço
“A grande vantagem de remodelar, passa por comprar/arrendar em mau estado de conservação, onde o valor reflita essas condições. A remodelação permite colocar o imóvel ao nosso gosto idealmente por valores mais acessíveis caso tivesse sido um negócio “pronto a entrar” já com obras feitas. Remodelar permite também “o ressuscitar” de um espaço, permitir que uma nova história se apodere desse mesmo espaço, que outrora teve uma história, uma outra vida", diz.
Para quem sonha com um projeto de remodelação, Bruno Vidal deixa um conselho: “o modelo que funciona para mim pode não funcionar para outra pessoa. O importante é fazermos algo que realmente gostamos e acreditarmos no projeto. Principalmente, quando são projetos a longo prazo, onde haverá certamente momentos de maior tensão, stress e desmotivação, por isso, é necessária muita resiliência, e se não gostarmos realmente daquilo que estamos a fazer essa resiliência nunca aparecerá e o falhanço é uma forte possibilidade.”
Para iniciar um projeto deste género que requeira a aquisição de um imóvel recomenda “fazer uma procura “incessantemente calma”, ou seja, ver todos os anúncios e “mais alguns” que seja possível em plataformas de compra e venda de imóveis, selecionar os anúncios que de alguma forma vão ao encontro das expectativas/preço e marcar visita. Isto tudo, sem que se coloque demasiada pressão no negócio e sem pressas”. Depois é preciso “terem a certeza do que estão a comprar e se o mesmo já dispõe de água, luz e esgotos…caso contrário o valor de remodelação poderá disparar substancialmente”, mas também “recolher informação sobre aquisição imobiliária, remodelação/construção, gestão agrícola/florestal, enquadramentos legais, estudo de mercado sobre alojamento local para a região, entre outros”.
O Monte da Borrega é um bocadinho de todos que têm construído este lugar maravilhoso e um bocadinho das suas histórias. Mas Bruno e a sua família quiseram levar este paraíso a outras pessoas. “Existem alguns períodos do ano em que não temos o privilégio de aqui estar", refere.
“É o casamento perfeito onde as pessoas no seu geral encontram um espaço familiar para passar uns dias em paz e descanso. Adicionalmente, damos a conhecer o interior do país, este Alentejo profundo, que tanto tem para nos oferecer, desde história à gastronomia, como de paisagens soberbas marcadas por uma natureza singular.”
Talvez a localização do Monte da Borrega não seja mesmo um acaso. Esperança cabe-lhe na perfeição.
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