Para Francisco Torres, uma casa de excelência é, antes de mais, aquela que define como uma “casa eterna”, que não esteja sujeita ou dependente de modas ou tendências passageiras. Uma casa em que os espaços - concebidos ao mais pequeno detalhe - sejam intemporais, personalizados e icónicos, mas também inovadores e surpreendentes. Com muito ou pouco orçamento, não tem dúvidas sobre em que é que se deve investir numa casa para que ela tenha uma identidade própria, tal como explica ao idealista/news. A paixão pelo design levou este arquiteto de interiores português a altos voos dentro e fora de portas, e a desenhar projetos para elites nacionais e internacionais. O objetivo, esse, continua o mesmo: fazer casas cada vez melhores e “que perdurem para sempre”.
A paixão por casas e por interiores começou desde cedo. Cresceu ligado ao mundo da arquitetura e da arte, algo que contribuiu, de forma natural, para desenvolver e reforçar a sua vocação e paixão pelo mundo do design. Estudou em Portugal e abriu os horizontes em Londres, onde o contacto com a realidade artística lhe permitiu aguçar e apurar a curiosidade e interesse por “novos conhecimentos e conceitos”.
Francisco Torres não escolheu posicionar-se no designado segmento de luxo, mas é neste mercado que tem deixado a sua “marca”, algo que foi acontecendo, explica, como “resultado do estilo e singularidade dos projetos, assim como do profissionalismo e rigor técnico, e pela interação com os clientes”. Tem no currículo vários projetos ligados a celebridades e multimilionários. Seja a casa da rainha da pop, Madonna, no Palácio do Ramalhete, em Lisboa, quando a cantora vivia no país; ou ainda as casas em Portugal da família real da Arábia Saudita ou da família Liechtenstein. No entanto, o princípio pelo qual rege a sua conduta profissional e equipas é só um: “Os clientes são todos iguais”.
Dedica-se, sobretudo, a projetos residenciais no segmento “premium luxury residences”, desde apartamentos em Paris, e de várias “townhouses” em Londres, até remodelações e reconversões de grande intervenção em imóveis e empreendimentos portugueses, como sejam o empreendimento D. Amélia (antigo Dispensário de Alcântara) e o edifício Castilho 13.
Para quem tem menos orçamento, não tem dúvidas: “deve-se comprar criteriosamente, ou seja, pouco mas bom. Investir na qualidade, e assim, com o tempo, reunir móveis e outras peças que tenham valor”. Além disso, “deve-se evitar o que é supérfluo, imposto ou excessivo, basicamente tudo aquilo com que não se tenha um mínimo de relação ‘sentimental’”. Para o arquiteto de interiores é “fundamental a presença de objetos decorativos e peças que nos acompanham desde sempre, bem como de livros e fotografias”.
Desenhar interiores sempre foi uma paixão? Quando é que tudo começou?
Posso dizer, sem a menor dúvida, que sempre foi uma paixão. Desde muito pequeno que me lembro de desenhar interiores, fazer construções, brincar com Legos, mudar objetos em casa dos meus pais e avós, e de estar certo que era o que queria fazer para sempre. Além disso, foi também fundamental a influência do ambiente familiar em que cresci, sempre muito ligado ao mundo da arquitetura, arte e decoração de interiores, bem como as relações de amizade com os melhores designers da época em Portugal, Donnat e Mitnitzky. Todos estes fatores contribuíram para, de forma muito natural, desenvolver e reforçar a minha vocação e paixão pelo design. É portanto muito gratificante poder atualmente fazer o que sempre quis e sonhei, e que representa para mim, não um mero trabalho, mas algo que em que todos os dias me revejo, e que continuamente estimula e motiva a minha criatividade e inspiração para fazer cada vez melhor.
Porquê posicionar-se no segmento de luxo?
Não fui eu que inicialmente procurei posicionar-me no que define como segmento de luxo. Estas coisas acontecem como resultado do estilo e singularidade dos projetos, assim como do profissionalismo e rigor técnico, e também pela interação com os clientes que se revêem no meu trabalho.
Quando se gosta de casas, de arquitetura e do design de interiores, a casa é sempre levada a um expoente máximo, o que só é possível se trabalharmos em excelentes terrenos, boas implementações e grandes áreas.
Naturalmente começa-se a recorrer aos melhores materiais e técnicas, a criações mais arrojadas e “out of the box”, o que acaba por nos remeter para um segmento muito alto, o dos clientes que procuram conceitos, arquitetura e interiores de excelência.
Pode contar-nos um pouco mais sobre o seu percurso profissional?
Dada a apetência e vocação para as artes e design de interiores, acabei o ensino secundário na Escola António Arroio, onde fiz o curso de Design de Equipamento. A escola proporcionou-me um contacto muito mais próximo com a realidade artística e criativa e um conhecimento fascinante de todos os “métiers” ligados a esta atividade. Seguiu-se a licenciatura em Arquitectura de Interiores na Inchbald School of Design, em Londres. Na altura do meu regesso, Portugal vivia uma fase bastante complicada, devido à profunda crise económica, e, consequentemente, o mercado imobiliário estava muito fragilizado.
Embora a conjuntura estivesse longe de ser ideal, avancei de imediato com a abertura do meu primeiro atelier em Lisboa. Desde logo começámos a trabalhar com bastantes clientes portugueses, e também estrangeiros, com projetos por todo o país. Pouco depois, estes mesmos clientes estrangeiros começaram a contactar-nos para novos projetos fora de Portugal, e felizmente, desde aí, a atividade do atelier não mais parou de crescer a nível internacional.
O que lhe trouxe/acrescentou ter estudado fora?
A experiência de viver e estudar fora de Portugal, sobretudo num país como Inglaterra, foi obviamente muito enriquecedora a todos os níveis. O contacto com outras culturas, realidades e pessoas de outras nacionalidades é sempre altamente estimulante, o que necessariamente nos abre os horizontes e desperta em nós, não apenas uma visão muito mais aberta e dinâmica do mundo em que vivemos, como também desenvolve e apura uma incessante curiosidade e interesse por novos conhecimentos e conceitos. É uma experiência que se projeta no nosso futuro, com os ensinamentos que dela retiramos e que nos acompanham pela vida fora, tanto no campo pessoal, como cultural e profissional.
Tem no currículo vários projetos ligados a celebridades e multimilionários. Quais os maiores desafios de trabalhar com este tipo de clientes?
Encaro cada cliente como um cliente único, uma vez que trabalho sempre com uma abordagem individualizada e personalizada; por outro lado, e de acordo com os princípios pelos quais se rege a minha conduta profissional e a forma como conduzo as minhas equipas, os clientes são todos iguais. No entanto, é evidente que clientes com estas características são normalmente mais exigentes, uma vez que estão habituados às melhores casas do mundo, e apresentam gostos, requisitos e condições bastante particulares.
Estes clientes têm normalmente grandes coleções de arte, cuja integração e exposição requer espaços especialmente bem pensados e desenvolvidos; muitos têm também importantes coleções de livros para os quais temos que projetar bibliotecas que em tudo correspondam às exigências e necessidades de organização e apresentação, tanto a nível de design, como de materiais; podem ter grandes coleções e caves de vinhos cujo armazenamento obriga a espaços e técnicas com especificações rigorosas. Na grande maioria dos casos requerem closets de grandes dimensões, com caracterísitcas muito específicas e minuciosas.
São clientes que obviamente prezam muito a qualidade dos materiais (tais como pedras, madeiras, carpintarias, equipamentos), e que atribuem muita importância à volumetria, qualidade e design da iluminação, sistemas de som, tecnologia, etc..
No que diz repeito aos espaços exteriores apresentam também requisitos igualmente exigentes, tanto a nível de paisagismo, como do design de piscinas, pavilhões, iluminação e mobiliário, por exemplo.
Em suma, são clientes que procuram o mais alto nível de excelência em todas as áreas de projeto, e que, felizmente, têm visto cumpridas por nós todas as suas expectativas e solicitações, o que é altamente gratificante e fonte de permanente desafio.
Que obras marcantes destacaria dentro e fora de Portugal?
Temos vindo sempre a realizar projetos importantes e de grande dimensão tanto em Portugal como no estrangeiro. A título de exemplo, posso referir a recuperação de alguns “hotels particuliers” e apartamentos em Paris, e de várias “townhouses” em Londres. Neste momento estamos a fazer uma das melhores casas de praia da Costa Brava, em Espanha, e temos em curso vários projetos relevantes no Algarve.
Temos também a decorrer remodelações e reconversões de grande intervenção em imóveis e empreendimentos para comercialização, como sejam o empreendimento D. Amélia (antigo Dispensário de Alcântara) e o edifício Castilho 13, cujos promotores são, respetivamente, a Keystone e a Mexto.
A que tipo de projetos mais se dedica? Qual foi o projeto mais desafiante e/ou extravagante até hoje?
Dedico-me essencialmente a projetos residenciais de grande qualidade nos quais, na realidade, tudo representa um estímulo e desafio: o cliente, a casa, a coordenação, a execução. Os nossos projetos são sempre desafiantes, tanto pela processo criativo, individualidade e especificidade, como pelo alto nível de exigência estética e rigor técnico. Conforme referi, estamos também muito focados no desenvolvimento de grandes projetos residenciais no segmento 'premium luxury residences' para importantes promotores imobiliários.
Disse numa entrevista que odeia “coisas estanques” na arquitetura de interiores. Porquê?
Há uma total incompatibilidade entre a criatividade e aquilo que é estanque. A minha inspiração é fluida, em permanente movimento; a perceção do significado e essência das coisas está também em constante evolução.
Na arquitetura e design de interiores não pode haver conceitos rígidos nem pré-definições.
Sou sobretudo bastante eclético: gosto de misturar estilos e tendências, materiais, elementos arquitetónicos, referências de estilo e épocas, de conjugar o clássico com o moderno, e a partir daí alcançar o equilíbrio no resultado final.
O que é, afinal, uma casa de luxo? Onde procura inspiração?
Uma casa de luxo é a que se enquadra nos conceitos que caracterizam uma casa de excelência; pessoalmente prefiro esta definição. Tem que ser uma casa bem orientada em termos de localização e exposição solar, com uma vista desafogada sobre a natureza, a água ou a cidade, bons volumes e elementos arquitetónicos, pés direitos altos e divisões amplas. A estrutura, materiais construtivos e equipamentos de especialidades instalados (eletricidade e canalizações, por exemplo), bem como os acabamentos (madeiras e carpintarias, pedras e demais revestimentos, iluminação, cozinhas, loiças, ferragens, etc) devem obedecer a rigorosos critérios de qualidade. Costumo dizer que não há maior luxo do que uma parede muito bem pintada! É também importante que esteja inserida num local tranquilo e silencioso, com bons acessos e zonas circundantes.
A nivel da criação e execução dos nossos projetos, uma casa de excelência é, antes de mais, aquela que defino como uma casa eterna, que não esteja sujeita ou dependente de modas ou tendências passageiras; uma casa em que os espaços - concebidos ao mais pequeno detalhe - sejam intemporais, personalizados e icónicos, mas também inovadores e surpreendentes. Em cada projeto interpreto o espaço, e a partir daí, é concebida toda uma narrativa englobando os elementos que irão conduzir à concretização do objetivo final: que o cliente se reveja nesse espaço, e que este seja para ele fonte de permanente descoberta e inspiração.
E Portugal, é uma referência de luxo? Em que medida?
Tenho a certeza que Portugal é uma referência de luxo para quem decide aqui instalar-se. É um país bastante seguro, em que as pessoas são genuinamente acolhedoras, simpáticas e humanas; no mundo de hoje, estas características são de facto um luxo. Não é por acaso que estamos a atrair cada vez mais elites americanas, europeias e também asiáticas. Penso que é um movimento com tendência a acentuar-se, sobretudo tendo em conta a crescente insegurança, instabilidade e crise social que se verifica em tantos outros países.
Portugal tem sido, e continuará a ser, um destino de luxo para estas elites internacionais, que procuram aqui uma maior tranquilidade nestes tempos turbulentos.
Além disso, temos vindo a desenvolver um dos melhores lifestyles a nível mundial, onde pessoas destes segmentos, com elevados critérios de exigência, encontram, a nível de serviços, as alternativas e soluções que procuram - sobretudo em Lisboa, Porto e Algarve, onde todo este setor tem vindo a criar e aperfeiçoar uma cultura de grande qualidade e oferta de excelência.
Em poucas palavras, como é a casa de Francisco Torres?
A minha casa insere-se nos conceitos que descrevi e que são para mim essenciais: uma boa exposição solar, a vista, o verde, o silêncio apenas interrompido pelo cantar dos pássaros, um bom terraço onde posso ouvir o vento e ver o Tejo. Situa-se numa zona muito calma, com a enorme vantagem de estar no centro da cidade e, portanto, perto de tudo.
É ainda fundamental o facto de ter uma boa volumetria e elementos para poder expor peças de arte, estar rodeado por boas peças de mobiliário, poder ver tudo o que colecciono e que me faz tanto gosto e companhia. No fundo, são peças que também representam 'life achievements' em diferentes áreas, o que é muito gratificante. É uma casa em que obviamente se distinguem materiais e acabamentos de alta qualidade, e em que o design da iluminação assume grande relevância.
Em termos de ambiente, tenho sempre música a tocar (que apenas desligo quando me deito), e flores pela casa. Além disso, tenho muitos livros e objetos decorativos que me acompanham desde há muito tempo e que têm para mim grande significado.
Para quem tem pouco orçamento, em que deve investir na casa para dar uma identidade própria ao seu espaço?
A minha posição e conselho é o que sempre ouvi dos meus pais e avós: em tendo menos dinheiro, deve-se comprar criteriosamente, ou seja, pouco mas bom. Investir na qualidade, e assim, com o tempo, reunir móveis e outras peças que tenham valor, tanto a nível da sua origem, como a nível da decoração do espaço, peças que possam sempre inserir-se num espaço, de forma isolada ou em conjunto.
Mesmo com orçamentos mais limitados, é sempre possível conferir à casa uma identidade própria, com conforto e alma, que possa vir a ser o reflexo da personalidade de quem nela habita.
Deve-se evitar o que é supérfluo, imposto ou excessivo, basicamente tudo aquilo com que não se tenha um mínimo de relação “sentimental”.
É fundamental a presença de objetos decorativos e peças que nos acompanham desde sempre, bem como de livros e fotografias. Há que identificar os momentos em que se deve seguir a intuição, não ter medo de arriscar, e saber misturar materiais, texturas e cores.
Quais os seus planos para o futuro? O que é que ainda falta fazer?
Falta-me fazer tudo! Considero que ainda não fiz nada, e que tenho um longo caminho pela frente. Quero fazer casas cada vez melhores, para clientes cada vez mais exigentes e especiais. Um dos meus objetivos é poder desenvolver de forma contínua toda a componente sustentável numa casa, nomeadamente através do recurso a materiais e técnicas que reduzam o impacto ambiental. Tal como já referi, quero fazer casas que perdurem para sempre – e não que tenham que estar sempre a ser refeitas ou alteradas…
Quero continuar a desenvolver a minha criatividade na arquitetura, arquitetura de interiores, paisagismo, mobiliário, iluminação e design de peças exclusivas, assim como prosseguir a expansão da minha atividade noutros países e continentes.
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