Decorar a casa: “IA tem o poder de revolucionar o design de interiores”

A decoração e o mobiliário vão evoluindo e adaptando-se às tendências atuais. Os materiais sustentáveis, as plantas e os móveis multifuncionais têm vindo a ganhar espaço nas casas dos portugueses. E as novas tecnologias estão a marcar cada vez mais as tendências neste setor. “A Inteligência Artificial (IA) tem o poder de revolucionar o design de interiores ao tornar os processos mais eficientes, personalizados e inovadores”, admite Rita Pacheco, presidente da Associação Empresarial de Paços de Ferreira (AEPF), em entrevista ao idealista/news a propósito do arranque da feira Capital do Móvel: realiza-se entre 12 e 16 de junho, no Pavilhão Carlos Lopes, em Lisboa.

Hoje, as tendências na decoração e no mobiliário acabam por ser influenciadas pelas novas tecnologias, em particular pela IA que tem impulsionado a inovação deste setor. “A IA está a transformar a forma como os produtos são concebidos, fabricados e vendidos”, adianta Rita Pacheco. Além de “aprimorar a criatividade e a eficiência dos designers”, a IA também ajuda a automatizar a produção de móveis e objetos decorativos, reduzindo custos e desperdícios. E também tem o poder de mostrar como é que os móveis ficam nas casas das famílias, através da realidade aumentada e da realidade virtual, por exemplo.

"A inovação no setor do mobiliário e decoração tem sido impulsionada por várias tecnologias emergentes, com a IA a desempenhar um papel cada vez mais central"

Mas também há desvantagens no uso da IA no mobiliário e decoração, como é o caso da “dependência significativa da tecnologia” e ainda da “perda de originalidade” nos designs, “o que pode diminuir o valor percebido de exclusividade e criatividade”, admite a responsável.

A verdade é que “a IA tem o potencial de revolucionar profundamente a forma como imaginamos, criamos e vivenciamos espaços, impactando tanto o design de interiores como a arquitetura e o urbanismo”, conclui Rita Pacheco. Descobre ponto por ponto como é que a IA está a transformar a criação, produção e venda de móveis e objetos de decoração nesta entrevista que partilhamos em seguida.

Rita Pacheco, presidente da Associação Empresarial de Paços de Ferreira AEPF

Antes de mais, começar por perguntar-lhe o que podemos esperar da próxima edição da Capital do Móvel?

A próxima edição da Capital do Móvel ruma até Lisboa. Estará aberta de 12 a 16 de junho no Pavilhão Carlos Lopes para dar a conhecer aquelas que são as tendências de mobiliário e decoração do ano. O já emblemático certame junta 30 grandes marcas, com expositores de tamanho reforçado para proporcionar uma experiência diferenciada aos visitantes. 

Além disso, este é um ano emblemático para a Capital do Móvel, não apenas pelos 40 anos da marca que veio revolucionar o setor, mas também pela barreira de dois mil milhões de euros que exportámos no último ano. Por isso, esta feira será também um momento de celebração e união do setor.

"O mobiliário que permite a utilização para várias funções é uma das tendências, uma vez que as áreas dos novos apartamentos são mais reduzidas"

Quais são as tendências do momento na indústria de mobiliário e decoração?

As grandes tendências do momento estão seguramente ligadas às questões prementes da sustentabilidade, com o uso de materiais ‘eco-friendly’ mais duradouros e com baixo impacto ambiental.

Desde o confinamento, onde se passou a valorizar mais o contacto com o ar livre e as atividades exteriores, a decoração com recurso a plantas tem sido muito valorizada nos últimos tempos. O mobiliário que permite a utilização para várias funções é uma das tendências, uma vez que as áreas dos novos apartamentos são mais reduzidas. Estes elementos permitem a praticidade e a versatilidade, traduzindo-se no consumo responsável exigido pela urgência da sustentabilidade. Por fim, destacamos a integração de tecnologia das casas, que podem controlar aspetos como a decoração, a temperatura e a segurança.

Assim foi a edição de 2023 da feira Capital do Móvel AEPF

Em termos de inovação, o que destacaria? A IA já está a impactar o setor?

A inovação no setor do mobiliário e decoração tem sido impulsionada por várias tecnologias emergentes, com a IA a desempenhar um papel cada vez mais central. A IA está a transformar a forma como os produtos são concebidos, fabricados e vendidos. Aqui estão alguns dos principais impactos:

• Design e personalização: a utilização de ferramentas de design assistido por computador (CAD) e a impressão 3D está a permitir uma maior personalização dos móveis. Este nível de personalização é um grande atrativo para consumidores que procuram produtos exclusivos;
• Sustentabilidade e materiais inovadores: a sustentabilidade tornou-se uma prioridade, levando ao desenvolvimento de novos materiais ecológicos, incluindo o uso de madeira reciclada, bambu, plásticos reciclados e até materiais biodegradáveis. A inovação nos processos de produção também visa a redução de desperdício e o uso eficiente de recursos;
• Mobiliário inteligente: com a Internet das Coisas (IoT), há um crescimento no mobiliário inteligente, que se pode conectar a outros dispositivos e sistemas inteligentes em casa. O mobiliário inteligente também está a evoluir para oferecer funcionalidades adicionais, como carregamento sem fios integrado, iluminação LED ajustável e sistemas de som embutidos. Essas características adicionais visam melhorar o conforto e a conveniência para os utilizadores;
• Realidade Aumentada (AR) e Realidade Virtual (VR): através de aplicações de AR e VR, os clientes podem visualizar como os móveis ficariam nas suas casas, permitindo uma experiência de compra mais informada e interativa. Além disso, as aplicações de AR e VR também podem vir a ser utilizadas para criar experiências de compra imersivas, onde os clientes podem "caminhar" virtualmente pelos espaços e interagir com os produtos como se estivessem numa loja física. Essas experiências aumentam o envolvimento do cliente e podem influenciar positivamente as decisões de compra;
• Automatização na produção: a automação dos processos de produção com robôs e sistemas de controlo de qualidade avançados está a aumentar a eficiência e a reduzir os custos de produção.

A IA já está a impactar o setor de várias formas significativas:

• Design e desenvolvimento de produtos: além de criar designs inovadores, a IA também está a ser utilizada para prever tendências de mercado e identificar oportunidades de inovação;
• Otimização da cadeia de logística: além de melhorar a gestão de inventário, a IA também está a ser utilizada para otimizar rotas de transporte e reduzir os custos de envio;
• Personalização da experiência do cliente: a IA está a ser utilizada para personalizar recomendações de produtos com base no histórico de compras e preferências dos clientes, oferecendo uma experiência de compra mais relevante e personalizada.

Foto de Max Vakhtbovycn no Pexels

Poderemos vir a ter, no futuro, novas coleções baseadas em IA? Quais as vantagens e desvantagens?

Sim, é muito provável que venhamos a ter novas coleções de mobiliário baseadas em IA no futuro. Há várias vantagens a destacar:

• Design inovador: a IA analisa grandes volumes de dados sobre tendências de design, preferências dos consumidores e feedback dos utilizadores para criar designs inovadores, com a conceção de peças que sejam ao mesmo tempo esteticamente agradáveis e funcionais;
• Eficiência no desenvolvimento: a IA pode acelerar o processo de design ao automatizar tarefas repetitivas e ao oferecer sugestões baseadas em padrões previamente analisados, reduzindo o tempo necessário para desenvolver novas coleções e permitindo que as empresas respondam mais rapidamente às alterações do mercado;
• Otimização de recursos: a utilização de algoritmos de IA pode otimizar o uso de materiais, minimizando desperdícios e promovendo práticas mais sustentáveis.

"A IA está a transformar várias vertentes da produção de móveis e também está a influenciar significativamente o processo de venda e a experiência do cliente""

Mas também há desvantagens a considerar no uso da IA no mobiliário:

• Dependência de tecnologia: o desenvolvimento de coleções baseadas em IA pode criar uma dependência significativa da tecnologia, o que pode ser problemático se houver falhas técnicas ou limitações nos algoritmos. Além disso, a atualização constante dos sistemas de IA pode ser dispendiosa;
• Perda de originalidade: há um risco de que o uso extensivo de IA no design resulte em produtos que, embora inovadores, careçam da originalidade e do toque humano que caracteriza o design artesanal. O que pode diminuir o valor percebido de exclusividade e criatividade.

Em que vertentes da produção de móveis estará a IA? E no processo de venda e experiência do cliente?

A IA está a transformar várias vertentes da produção de móveis e também está a influenciar significativamente o processo de venda e a experiência do cliente. Na produção de móveis, a IA impacta o design e desenvolvimento, a simulação e testes virtuais a otimização de recursos, a gestão logística e a automação da produção.

No processo de venda e experiência do cliente, a IA é utilizada na personalização do produto, as recomendações de produtos, interação com o cliente, uso da realidade aumentada e realidade virtual. Além disso, também impacta o marketing e vendas, com análise de dados e comportamento do consumidor.

Assim foi a edição de 2023 da feira Capital do Móvel AEPF

Em que medida a IA poderá vir a revolucionar a forma como imaginamos, criamos e vivenciamos espaços?

A IA tem o potencial de revolucionar profundamente a forma como imaginamos, criamos e vivenciamos espaços, impactando tanto o design de interiores como a arquitetura e o urbanismo. Através da geração de ideias e inspiração, na exploração de estilos permitindo a criação de espaços únicos que mesclam elementos de diversas influências culturais e estéticas.

Ao nível do design, os softwares de design que utilizam IA podem ajudar arquitetos e designers a criar plantas e modelos tridimensionais de forma mais rápida e precisa.

Temos ainda os espaços inteligentes, em que a IA pode integrar e controlar sistemas inteligentes dentro de um espaço, como iluminação, climatização, segurança e entretenimento. Sensores e sistemas de IA podem monitorizar o uso dos espaços em tempo real e fazer ajustes instantâneos para melhorar o conforto e a funcionalidade.

As ferramentas de AR e VR permitem que os utilizadores experimentem e interajam com espaços virtuais antes mesmo de serem construídos, facilitando a tomada de decisões e ajustes no design.

"A Inteligência Artificial pode ser uma grande mais-valia para melhorar a visualização do design de interiores"

Será uma mais-valia para melhorar a visualização do design de interiores?

Sim, a IA pode ser uma grande mais-valia para melhorar a visualização do design de interiores, através de:

• Ferramentas como o Lumion e o V-Ray, integradas com IA, podem criar renderizações altamente realistas de interiores. A IA pode otimizar a iluminação, materiais e texturas, criando imagens que são quase indistinguíveis de fotografias reais;
• Aplicações como o IKEA Place usam AR para permitir que os clientes coloquem virtualmente móveis nos próprios espaços através do uso de smartphones;
• Softwares de design como o SketchUp, aprimorados com IA, permitem a criação de simulações interativas onde os utilizadores podem experimentar diferentes layouts de móveis e configurações de sala em tempo real;
• Plataformas como o Planner 5D usam IA para ajudar os utilizadores a criar os próprios designs de interiores. A IA pode sugerir automaticamente móveis, cores e decorações com base nas preferências do utilizador e nas tendências atuais;
• Plataformas de e-commerce como a Wayfair utilizam IA para fornecer recomendações personalizadas, através da análise de hábitos de compra e preferências de estilo dos utilizadores, melhorando a experiência de compra e aumentando a satisfação do cliente.

Foto de Max Vakhtbovycn no Pexels

Poderá revolucionar o mundo do design de interiores como o conhecemos?

A IA tem o poder de revolucionar o design de interiores ao tornar os processos mais eficientes, personalizados e inovadores. Com a capacidade de analisar dados, automatizar tarefas e melhorar a visualização e interação com os espaços, a IA está a transformar a forma como designers e clientes abordam o design de interiores. Esta revolução não só aprimora a criatividade e a eficiência dos designers, mas também oferece uma experiência mais rica e personalizada para os clientes, estabelecendo um novo padrão na indústria de design de interiores.

Como serão as casas do futuro?

Acreditamos que as casas do futuro serão duplamente tecnológicas e sustentáveis. Por um lado, imaginamos o uso generalizado de IA para priorizar a praticidade dos moradores, que passarão a controlar a casa toda à distância, desde a iluminação, à temperatura e, claro, à segurança. Por outro lado, verificaremos o uso universal de energias renováveis e a decoração com base em materiais ecológicos, duráveis e com um design que permite a modernidade ao longo do tempo e evita a troca constante de mobiliário.