
O uso de obras de arte em projetos imobiliários está a tornar-se tendência, valorizando os empreendimentos e atraindo investidores. Mais do que simples decoração, esculturas, pinturas e/ou instalações artísticas criam um diferencial competitivo, ajudando a construir uma identidade exclusiva para cada projeto. Para os promotores, a arte contribui para a valorização do imóvel e reforça a imagem de inovação e prestígio, enquanto para os futuros residentes proporciona um espaço que promove a sofisticação, originalidade, qualidade de vida e bem-estar. Ao investir em arte, o mercado imobiliário está a redefinir a experiência de habitar, apontando a mira a um público cada vez mais exigente e refinado. Afinal, por que é tão importante viver com arte? O idealista/news foi ouvir vários profissionais do setor.
Incluir obras de arte em projetos imobiliários oferece inúmeras vantagens para os promotores e futuros residentes, na perspetiva de Catarina Diniz, fundadora da Staging Factory. Em ambos os casos, defende, “a arte vai muito além da estética, influenciando emoções e valorizando a experiência de habitar o espaço”. Para os promotores, garante, a arte valoriza o empreendimento, destacando-o no mercado, conferindo-lhe prestígio, reforçando a identidade e ajudando a atrair um público-alvo específico. Para os residentes, proporciona status, inspiração contínua e um ambiente dinâmico e culturalmente enriquecido, além de reforçar o valor futuro do imóvel. “A arte cria uma marca única”, defende.
“Ser proprietário de um apartamento num edifício indistinto e anónimo é uma experiência completamente diferente de viver no edifício da 56 Leonard Street, que inclui a primeira obra de arte permanente de Anish Kapoor em Nova Iorque. Ou seja, a arte não valoriza apenas o edifício; mas também quem ali mora. A arte torna este projeto único e capta a atenção e as câmaras de todos os que aqui passam. Entrar aqui é como entrar numa galeria de arte. Outro exemplo é a piscina projetada por Joana Vasconcelos na Fundação Jupiter Artland, na Escócia, que se tornou uma atração por si só”, acrescenta a especialista em design de interiores.
E exatamente prova da cada vez maior relevância cultural é que a arte marca a agenda esta semana, na capital portuguesa, acolhendo o Lisbon Art Weekend. A 6.ª edição deste certame cultural, que decorre até ao dia 10 de novembro e, conta com o patrocínio do idealista e da RedCollectors, reúne mais de 200 artistas em mais de 40 espaços cheios de experiências imersivas de arte contemporânea.

Promoção de mãos dadas com a arte
Em Portugal, há cada vez mais promotores a investir em arte nos seus projetos. É o caso da Vanguard Properties. Além das obras de João Louro, José Pedro Croft e, de outras peças produzidas pela ArtWorks nas Terras da Comporta, a promotora tem colaborações com vários artistas contemporâneos em diferentes empreendimentos, tal como explica Duarte Zoio, Chief Communications Officer da Vanguard.
“Em Lisboa, no Infinity, temos uma obra de Joana Vasconcelos e uma peça da Inês Norton; no Castilho 203, de José Pedro Croft; e na A’Tower, uma peça de Cláudia R. Sampaio, artista do Manicómio, produzida pela Viúva Lamego. No White Shell, em Porches, contamos com a obra de Anna Westerlund, enquanto no Bayline, também no Algarve, convidámos a Vanessa Barragão. Os Terraços do Monte, o nosso projeto mais exclusivo até à data, não será exceção”, avança.
Além disso, a promotora tornou-se o primeiro mecenas a apoiar as três principais fundações e respetivos museus de arte em Portugal – o MAAT da Fundação EDP, o CAM da Fundação Calouste Gulbenkian e a Fundação Serralves. “Este compromisso reflete a nossa dedicação à promoção da arte e da cultura, tanto no contexto dos nossos projetos como no panorama cultural nacional”, indica o responsável.

Também a Mexto procura estar ligada à arte de múltiplas formas, desde a forma como imagina os empreendimentos até as causas em que está envolvida. Atualmente, é patrocinadora da ARCOLisboa, estando envolvida na organização de conferências, pré-lançamento de livros, entre outros.
“Um exemplo concreto foi a campanha que organizou na ARCOLisboa, onde os visitantes puderam votar entre duas réplicas de uma peça de arte decorativa do artista Pedro Pires que será instalada no O’LIVING, um dos nossos empreendimentos que está neste momento em fase de comercialização”, conta Elson Angélico, fundador e partner da Mexto. “Recebemos centenas de votos, e o artista está agora a finalizar a peça vencedora, que será instalada para receber os novos moradores neste outono. Este tipo de iniciativa mostra como a arte pode criar interesse, iniciar conversas, e envolver a comunidade de forma emocional com o desenvolvimento de um projeto imobiliário. Além de diferenciar os empreendimentos, a arte torna-os mais cativantes, contribuindo para a valorização do espaço”, refere.
A iniciativa "Not a Museum" é outro exemplo. “Aproveita o tempo ocioso dos nossos projetos imobiliários para ceder espaços a galerias de arte e realizar exposições enquanto não se arranca com a reabilitação dos edifícios. A nossa última exposição, no nosso edifício na Rua Castilho, terminou recentemente, e em breve daremos início às obras de construção e reabilitação”, indica Elson Angélico.

Catarina Diniz lembra que a “arte transcende a função estética, desempenha um papel essencial na narrativa do projeto”. Além disso, “uma curadoria bem pensada pode aumentar significativamente o valor percebido do imóvel. Pormenores exclusivos ou assinados por artistas reconhecidos transformam um projeto vulgar em algo único e apelativo”, aponta.
“A arte confere uma aura de exclusividade e prestígio, o que pode tornar o empreendimento mais atrativo para um público disposto a investir mais por uma experiência diferenciada. Além disso, cria um maior apelo emocional e simbólico ao espaço, tornando-o mais memorável e desejável no mercado imobiliário de luxo”, acrescenta.
O Chief Communications Officer da Vanguard Properties não tem dúvidas de que a inclusão de arte pode aumentar o valor comercial de um imóvel. “A arte confere uma aura de exclusividade e prestígio, o que pode tornar o empreendimento mais atrativo para um público disposto a investir mais por uma experiência diferenciada”, refere Duarte Zoio.
Uma opinião partilhada pelo responsável da Mexto. “A arte tem um impacto direto na perceção de valor de um imóvel. Um edifício que incorpora obras de arte cuidadosamente selecionadas torna-se mais atraente e pode destacar-se num mercado competitivo. Além disso, a presença de arte pode influenciar positivamente a avaliação de um imóvel, especialmente em projectos de luxo, onde o conceito de lifestyle é fundamental. A exclusividade associada à arte pode aumentar o valor do ativo e a sua procura”, acrescenta Elson Angélico.

Criar ambientes exclusivos e memoráveis
O projeto Art House Boavista, no Porto, é um exemplo de um empreendimento imobiliário de luxo, comercializado pela Remax Collection, que incorpora arte no projeto, nomeadamente a arte do artista brasileiro Jotape. A CEO da mediadora, Beatriz Rubio, considera igualmente que a arte “atrai clientes como investidores sofisticados e investidores com interesse em design, cultura e que valorizam a estética e a originalidade dos espaços”, criando uma “sensação de exclusividade que eleva a perceção de valor e justifica preços mais elevados”.
Jotape é o criador das obras do Art House Boavista. Nascido no Brasil, divide o seu sucesso entre o Rio de Janeiro, Milão e Miami, cidade onde tudo começou, e agora tem a sua arte exporta num projeto português. “A espontaneidade marca as obras do artista, criadas a partir da cor e da resina, e podem ser definidas como pinturas abstratas com efeitos pop”, tal como pode ler-se numa breve descrição do artista plástico.

Ao idealista/news, Jotape salienta que, antes de mais nada “a arte quando é vivida e contemplada exalta as maiores emoções e memórias no ser humano”. “Quem vive a arte dentro da sua própria casa passa a ter um ambiente cercado de novas possibilidades, que trazem uma aura de alegria e virtude para sempre poder vivências”, destaca.
Segundo o artista, “uma peça de arte é também um foco de disrupção, uma quebra no ritmo que traz valor e obriga a parar e a repensar um espaço de forma diferenciada”. No Art House Boavista, frisa o desafio de enquadrar o seu trabalho com o de Carla Guilhem, designer responsável pela decoração do projeto, destacando a espontaneidade, a cor e a textura das peças expostas, que “deram mais vida e dinâmica aos espaços, contribuindo para a sua valorização em termos de originalidade e unicidade.
Enquanto artista, diz, a sua inspiração vem do dia a dia, das muitas experiências que já viveu, artistas que admira e de locais, cidades e países por onde passou e viveu. “Não sigo um estilo singular, gosto de explorar diferentes técnicas, entre as mais clássicas e as mais contemporâneas. Gosto de pensar que consigo criar uma experiência diferente para cada pessoa. Todos estes temas acabam por me inspirar a criar arte que traga beleza e vida à tela”, conclui.

Arte para atrair clientes
A arte tem, portanto, uma função mais profunda no conceito de um projeto, permitindo criar “um sentimento de pertença e comunidade para quem o habita, podendo inclusive ser um ponto de atração para um bairro inteiro”, na opinião de Catarina Diniz. “Instalações artísticas icónicas tendem a tornar-se referências visuais, ajudando a promover o imóvel de forma orgânica e, muitas vezes, viral”, acrescenta a Home Stager.
Apesar disso, a especialista lembra que a curadoria das obras de arte “deve ser cuidadosa e considerando o estilo arquitetónico, o posicionamento e o público-alvo”, e que “dependendo do segmento e dos objetivos comerciais, pode inclusive ser feita por curadores especializados garantindo que as obras se alinham com os objetivos do promotor e perfil dos compradores”. “A arte deve dialogar com o espaço, respeitando o conceito imobiliário, as proporções, paleta de cores, o ambiente desejado e a sensação que se pretende criar”, sublinha.

A fundadora da Staging Factory considera que, embora a arte tenha o poder de influenciar a todos, enquanto ferramenta de marketing, tende a ser usada nos segmentos de luxo. “A arte é mais valorizada por clientes que procuram não só um espaço para viver, mas também uma experiência estética. Este segmento procura sofisticação, exclusividade e diferenciação e está disponível a investir em tais benefícios. Por outro lado, apenas nos segmentos mais altos se desenvolvem conceitos com atributos diferenciadores que vão para além das áreas úteis, custo e funcionalidade”, diz.
Duarte Zoio confirma que, investir em arte, quando feito com conhecimento, “é financeiramente vantajoso a longo prazo, especialmente em projetos de alto perfil e em localizações premium, como, por exemplo, as Terras da Comporta”. Para o promotor da Vanguard, arte valoriza o imóvel ou resort de várias formas, criando “um ambiente distinto que atrai um público específico e exigente, aumenta a perceção de valor e exclusividade do empreendimento, e pode mesmo ser um fator decisivo para muitos investidores”.

O responsável da Mexto, Elson Angélico, acrescenta que quando a arte é integrada de forma estratégica e coerente, “ela não só valoriza o imóvel no momento da venda, mas também pode aumentar o interesse pelo empreendimento ao longo do tempo”. “A arte contribui para a criação de marcos arquitetónicos que resistem às tendências de mercado, mantendo o seu valor e relevância”, remata o responsável.
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