Quando entramos na La Nena somos sugados por uma dimensão quase paralela. Há beleza e tranquilidade. É um showroom, mas poderia ser uma casa ou mesmo uma galeria de arte. Os tons terrosos levam-nos para um imaginário de influências árabes e africanas, a luz e as texturas apelam a todos os sentidos, e as peças expostas revelam a essência do artesanato. Mais do que um espaço de design de interiores, a La Nena apresenta-se como um laboratório criativo focado no singular e disruptivo. Afasta-se das massas, porque quer que cada produto tenha a sua própria história e personalidade, combinando decoração funcional com experiências imersivas. Matosinhos, no Grande Porto, foi a localização escolhida para acolher a chegada desta marca exclusiva espanhola a Portugal e o idealista/news foi conhecer o espaço e a filosofia deste projeto inovador do mundo do imobiliário.
Fundada na Galiza, em Espanha, a La Nena quer distinguir-se pelo design sofisticado, criativo e natural, utilizando o microcimento como material-chave para criar ambientes personalizados e únicos. A marca, especializada em revestimentos, mobiliário e decoração, transforma o este material em quase tudo, tal como explica Ana Pinto, fundadora da aniStudio e responsável pela expansão da La Nena em Portugal.
“O que fizemos foi trabalhar a fórmula do microcimento e a partir daí podemos criar qualquer tipo de desenho, como mesas, bancos, cadeiras ou objetos decorativos. Não se limita a pavimentos, paredes ou tetos”, indica, acrescentando que este processo versátil permite criar tanto mobiliário exclusivo como revestimentos arquitetónicos contínuos. “Tudo pode ser personalizado. Nós temos neste momento mais de 4.000 acabamentos. Ou seja, não há limites”, acrescenta.

Apesar de a expansão internacional da La Nena ter começado em outros mercados mais distantes, como Itália, Holanda e até o Dubai, a entrada em Portugal era um objetivo antigo. A proximidade geográfica com a região galega de Lugo, onde a marca foi criada, tornava quase inevitável esta expansão. No entanto, a escolha do momento e do local certo foram decisivos: foi a conexão com o aniStudio e a descoberta de uma parceria perfeita que concretizou este passo.
O compromisso da La Nena com a sustentabilidade é outro dos pilares da marca. A utilização de materiais reciclados, como vidro e fibras têxteis, não só contribui para a redução do desperdício, mas também confere texturas e acabamentos únicos às peças produzidas. O showroom quer funcionar, por isso, como um verdadeiro laboratório criativo, onde arquitetos e designers de interiores podem explorar as infinitas possibilidades que a marca oferece para projetos comerciais e residenciais, mas também como fonte de inspiração e um local onde as ideias podem ganhar forma, reforçando o papel da marca como uma referência no design de interiores e na inovação de materiais.
Para começar, gostaria que definisse a La Nena.
Tudo o que veem neste espaço, desde pavimentos, paredes e tetos é revestido por nós e nós oferecemos esse serviço para qualquer pessoa que o queira fazer em casa ou num espaço comercial, como um restaurante, etc.. O que fizemos foi trabalhar a fórmula do microcimento e, a partir daí, agora podemos criar qualquer tipo de desenho, quer seja para uma mesa, um banco ou um candeeiro, e revesti-lo com o material e a cor e textura que queiramos.
Por que motivo a La Nena quis expandir-se para Portugal? E porquê agora?
A La Nena já estava a tentar entrar em Portugal quase desde o início, porque porque são de Lugo, ou seja, estão a três horas de distância daqui, super perto. Mas o objetivo deles é abrir cada espaço com um arquiteto ou um designer e ainda não tinham encontrado a pessoa certa para este projeto. E quando os conheci, percebi que fazíamos um match perfeito.

E porquê Matosinhos? Talvez porque a Ana está aqui...
Sim, por um lado, por eu já estar aqui e, por outro, porque o nosso objetivo não é abrir num espaço turístico, isto é, não faria sentido irmos para uma baixa do Porto, por exemplo. Fazia sentido, sim, termos um espaço que nos permitisse criar um conceito espetacular. Aqui temos cinco metros de altura, o que não é o tipo de premissa que existe em qualquer espaço comercial. E Matosinhos fazia sentido, havendo uma proximidade ao Porto, muita habitação e sendo um espaço onde nos podem vir visitar facilmente. No futuro, queremos abrir em Lisboa, mas para já fazia sentido aqui.
Abriram o espaço há cerca de dois meses... Qual a recetividade das pessoas que vos visitam?
O feedback tem sido incrível. As pessoas quando entram, ficam como vocês, ou seja, “uau!”. O primeiro impacto é logo dizerem-nos que parece que entraram noutro ambiente ou noutra dimensão. Dizem-nos muito que se sentem super tranquilos, em paz, com este espaço. Notam muito, principalmente as pessoas que não são da área, sem perceber muito bem o tema da iluminação, que realmente é muito tranquilizante estar neste espaço e referem que é uma coisa muito diferente, que fazia falta algum espaço deste género, principalmente aqui no Porto, que temos muito menos coisas do que em Lisboa.

Explique-nos um pouco qual foi o papel da aniStudio na expansão da La Nena para Portugal.
O projeto da aniStudio começou em 2021, com o objetivo de criar telas personalizadas para um cliente que queria comprar uma tela e não sabia muito bem onde nem o quê, nem o que é que encaixaria nesse espaço. E o processo da aniStudio acho que se encontra muito bem com o processo de arquitetura, de microcimento ou design de interiores. Ou seja, a aniStudio oferece um processo que é personalizado para um espaço, para um cliente, que funciona muito por camadas. O próprio processo de pintura não é linear e isso vai muito ao encontro de um espaço que queiras fazer, um projeto de arquitetura ou de design de interiores, que também funciona muito por camadas, por diferentes texturas, ambientes.
"O tema da La Nena está muito ligada à arte do microcimento, a arte de artesãos".
As duas coisas acabam por se completar, porque um espaço com uma arquitetura incrível precisa muito de um design de interiores que funcione, do qual as telas fazem parte. E então são áreas que acabam por se complementar. Por outro lado, o tema da La Nena está muito ligada à arte do microcimento, a arte de artesãos. Estamos mesmo a falar de uma equipa de artistas que trabalha conosco. Isto é um trabalho super manual. Há muita coisa que é feita no espaço, se estivermos a falar, por exemplo, de pavimento e paredes, é feito no local. Se estivermos a falar de uma mesa ou de um banco, será feito em fábrica. Mas é sempre um trabalho que está ligado a uma equipa de artistas que trabalham com as mãos. E daí haver também esta conexão entre a aniStudio e a La Nena.

A La Nena criou aqui uma espécie de laboratório criativo...
A nossa ideia é conseguir trazer profissionais que acabam por ser o foco de com quem queremos trabalhar. Conseguir que os profissionais venham aqui perceber o que é que se pode fazer e o alcance da criação que eles próprios podem ter. Nós, como arquitetos e designers, estamos super limitados, isto é, o papel aguenta tudo, podemos desenhar um candeeiro que é um círculo, mas depois, se não houver quem o produza, não conseguimos torná-lo realidade. E neste espaço, e o nosso objetivo com a La Nena, é mostrar que podemos criar tudo. Ou seja, um profissional que tenha um projeto onde o que faz sentido é ter um banco ondulado, às vezes basta mandar-nos um esquiço ou uma imagem de inspiração do que está a pensar e nós vamos modelar essa peça e mostrar-lhe como é que ficaria e que pode tornar-se realidade.
Essa é uma das grandes vantagens, portanto, do microcimento, que é o vosso material-chave...
Tudo pode ser personalizado. Nós temos neste momento mais de 4.000 acabamentos. Ou seja, não há limites, porque mesmo que não tenhamos esse acabamento específico criado, por exemplo, gostas da cor da tua camisa e querias que a tua casa de banho tivesse essa cor, então nós vamos criar esse tipo de acabamento. Mas basicamente existem imensos tipos de textura, pigmentos, tudo pode ser criado.
"Tudo pode ser personalizado. Nós temos neste momento mais de 4.000 acabamentos".
A questão da sustentabilidade também é importante para a La Nena?
O que tentamos fazer é tentar reaproveitar materiais que estão em fim de vida, quer seja vidro reciclado, restos de fibras de roupas que já não vão ter outra utilização possível. E ao juntá-la à nossa carga de microcimento, conseguimos não só que o microcimento fique mais resistente, como também que acabe por ter uma textura e uma imagem diferente, em que pode ter a marca do vidro ou uma espécie de cor e textura que está ligado a esses materiais que reutilizamos.
Em Portugal, têm algum foco de mercado, digamos assim, mais comercial, mais lojas, cafés ou mais residencial, por exemplo?
O nosso objetivo é conseguir fazer tudo, dar resposta a todo o tipo de projetos e apresentar um serviço 360. Se vocês virem no nosso espaço, nós começamos por dizer que temos os revestimentos de microcimento, mas depois também temos a chávena para beber café, que é a nossa equipa de cerâmica que produz. Por isso, nós queremos ter um processo completo, mas o foco é ter profissionais que queiram trabalhar connosco no sentido de nós podermos realmente aproveitar esta vantagem de criar peças que até então não seriam possíveis. E acho que tem uma aplicação muito direta em tudo o que é hotelaria, restauração, mas habitação também. Pode ir um bocadinho para todos os âmbitos.

A versatilidade é a palavra de ordem... Também vão organizar workshops, certo? Pode falar-nos sobre isso?
Workshops, eventos. O nosso espaço está disponível para ser arrendado para o caso de, por exemplo, quereres fazer um evento privado, uma apresentação de uma marca de vinhos, um lançamento de um livro. Estamos disponíveis para arrendar o espaço para este tipo de eventos e vamos também ter alguns workshops de pintura. Vamos ter, por exemplo, um workshop de maquilhagem, isto é, queremos também ter algumas atividades que possam trazer público aqui ao nosso espaço e que permitam organizar eventos num local que é totalmente diferente.
Fale-nos um pouco da questão da iluminação, algo muito importante para vocês, que permite criar ambientes mais aconchegantes. Como é que funciona esta vossa estratégia?
No nosso espaço, toda a iluminação é super pensada. Este é um tema, principalmente em Portugal, que é super descurado, ou seja, quer seja em casa de uma pessoa particular, quer seja num espaço comercial que acabamos por ter uma luz branca muito intensa que às vezes só nos apetece fugir dos espaços. Aqui o que tentamos é o contrário. Cada ponto de luz é muito bem pensado. Quer seja teto, iluminação indireta... Através de sancas, linhas de luz por detrás das molduras. Ou seja, coisas que o cliente comum acaba por nem se aperceber. Mas quando lhe explicamos, percebe que realmente faz todo o impacto no espaço, ou seja, o impacto da iluminação acaba por transformar completamente a experiência de um local, para o bem e para o mal.
"Se vocês virem no nosso espaço, toda a iluminação é super pensada. Este é um tema, principalmente em Portugal, que é super descurado"
O vosso serviço pode passar, portanto, desde chegar aqui e comprar peças individuais, como também pode passar pelo design todo de um espaço interior.
Nós temos a loja aberta ao público de segunda a sexta, em que pode vir um cliente particular e gosta de uma mesa, de um banco, de um conjunto de talheres, velas e compra no momento. Como podemos ter um cliente que gosta deste ambiente e quer fazer a reprodução do mesmo em casa ou quer uma mesa de jantar e não sabe muito bem como... E nós vamos dar apoio como estúdio de design e desenhar a mesa e mostrar o que podemos fazer.

Estão em várias cidades do mundo. A estratégia aqui em Portugal vai ser diferente dos outros mercados?
Não, acaba por ser semelhante. A nossa perspetiva é que em Portugal possamos ter pelo menos mais duas La Nena. Exatamente com este conceito, passará por ter uma em Lisboa e outra no Algarve. Além disso, temos o conceito do La Nena Coffee, que neste momento já temos um parceiro, que é o que temos no Dubai. É um espaço La Nena para irmos beber um café, mas que depois, ao tomar o café, o cliente gosta da chávena ou da mesa e também pode fazer essa compra. Acho que os La Nena Coffees vão ser um projeto também super aliciante em Portugal, que podem acabar por surgir muito mais espaços.
Relativamente ao laboratório criativo... Onde é que estas peças são feitas atualmente? Ou seja, ainda em Espanha ou já têm aqui uma fábrica em Portugal que conta com artesãos portugueses? E qual é também o papel da tecnologia?
Nós temos neste momento produção em Espanha e Marraquexe. Em Portugal, já estamos a começar também com alguns parceiros a ter produção aqui e o que tentamos é tirar partido do melhor de cada mercado em que abrimos. Por exemplo, em Marrocos, abrimos loja e fábrica e estamos a tirar partido de tudo o que é cerâmicas e tapetes, porque é o forte de Marrocos. Aqui, por exemplo, estamos a iniciar a produção de uma linha têxtil de sanitários e torneiras, porque somos muito bons produtores em Portugal, então a linha La Nena será produzida aqui. Em Espanha estamos com tudo o que é a produção de mobiliário, no nosso acabamento, ou seja, nos microcimentos, e depois vamos aproveitando cada local onde abrimos para tirar partido desse espaço.
"Aqui, por exemplo, estamos a iniciar a produção de uma linha têxtil de sanitários e torneiras, porque somos muito bons produtores em Portugal"

Em relação à tradição vs tecnologia, temos investido imenso em Lugo. Temos fábricas com mais de 3.000 metros quadrados, com tudo o que é tecnologia de máquinas de corte, para conseguirmos fazer todo o tipo de formatos que temos aqui. As peças acabam por passar por um processo em que inicialmente estão completamente dependentes de tecnologia para conseguir fazer este desenho, mas a partir do momento em que sai o cru, digamos, é um artesão que vai sempre trabalhá-la manualmente até ela chegar ao ponto final.
Uma família que queira a casa decorada, assim como a La Nena. O que é que quer levar para casa?
Acho que é muito este tema de sentir que estamos num espaço tranquilo, que nos dá muita calma, que nos faz sentir, talvez, que estamos de férias, que é um bocadinho aquele sentimento de chegar a casa e consigo libertar-me e descansar e estar completamente em paz. Acho que é isso que que o nosso espaço consegue transmitir às pessoas.

Quais as perspetivas e próximos passos para o futuro?
Num futuro próximo, será abrir o La Nena Coffee na baixa do Porto, que acho que vai ser importante para nós. O futuro passa por conseguirmos parceiros a nível profissional em todo o país que que queiram realmente fazer projetos conosco e conseguir trazer as pessoas a visitar o nosso showroom, porque realmente conseguindo que as pessoas passem a porta, o sentimento é de uma recetividade muito grande, é um conceito super diferenciador que nunca se viu noutro sítio. Acho que quem entra aqui também percebe que isto não é resultado de um conceito único, ou seja, estão espelhadas aqui experiências de muitas pessoas. Isto é um resultado de muitas viagens, de muita coisa que acaba por culminar neste conceito. Acho que isso passa e as pessoas sentem isso. Então, é conseguir que as pessoas venham até nós.
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