Piscina transparente de luxo liga dois edifícios em Londres e está numa zona onde nas proximidades existem casas de habitação social.
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Sky Poll, uma luxuosa piscina em Londres que está envolta em polémica
GTRES

O verão chegou e muitos aproveitam a onda de calor para dar um refrescante mergulho na piscina. Mas há piscinas e piscinas, havendo umas que dão mais nas vistas que outras e que são, também, mais polémicas. É o caso da Sky Pool, uma piscina transparente de luxo construída a 35 metros de altura e que liga dois edifícios em Londres (Reino Unido). Uma piscina que está a “fazer correr muita tinta”, desde logo por ostentar luxo numa zona onde nas proximidades existem casas de habitação social. 

A polémica em torna da construção da Sky Poll e da ética (moral) em torno da mesma não está a passar ao lado da imprensa britânica, escreve o jornal espanhol El País. “É um delírio obsceno”, disse o arquiteto, designer e colunista do Financial Times Edwin Heathcote sobre a piscina flutuante do complexo habitacional Embassy Gardens. Trata-se, segundo o responsável, da “crónica de um desastre anunciado” ou de “uma ostentação de vergonha e péssimo gosto”, bem como um sinal da triste tendência que se vive em Londres, “do seu mercado imobiliário, política local, arquitetura e senso de estética”.

A Sky Pool, recorde-se, é a primeira piscina suspensa no ar entre dois edifícios, tendo sido construída no Colorado (EUA) em acrílico sobre uma estrutura de aço. Trata-se de um retângulo transparente com capacidade para 150.000 litros de água que paira entre duas torres de luxo no novo bairro de Nine Elms, sendo que apenas está acessível aos residentes. 

Sky Poll, uma luxuosa piscina em Londres que está envolta em polémica
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Já Justin Tallis, correspondente da CNN em Londres, desfaz-se em elogios à piscina, considerando que se está perante um feito técnico excecional. “É a maior piscina suspensa autossustentável do mundo”, a mãe das piscinas futurísticas, aponta. 

Um argumento que Edwin Heathcote “chuta para canto”, alegando que a exibição de qualidades técnicas não compensa o quão inoportuna e infeliz é a ideia. Para o arquiteto, é intolerável, além de absurdo, que a piscina se eleve acima das unidades de habitação social no bairro muito próximo de Vauxhall, que se encontra em pleno processo de acelerada gentrificação, apesar de manter as suas credenciais de bairro operário. Uma zona que está, segundo diz, “degradada e desprovida de serviços e áreas verdes”. 

Ostentação de luxo num ambiente urbano

Nesse sentido, o arquiteto, designer e colunista do Financial Times considera “deplorável” que o ócio extravagante dos ricos seja exibido de forma “descarada” num ambiente urbano como o que está em causa. 

Outra das vozes críticas ao processo de modernização do novo bairro de Nine Elms, onde deverão ser construídos vários empreendimentos de luxo no futuro, é a do jornalista e escritor Cyril Richert, que descreve o bairro “o paraíso da arrogância e da autoindulgência”. O responsável considera que a maioria dos londrinos já está resignada com a ideia de que a Londres do futuro “está a ser construída de costas para seus habitantes, num exercício cínico e traiçoeiro de ‘apartheid’ social para milionários e turistas desfrutarem e para o comum dos mortais sentir inveja”. “O bairro precisava de um planeamento urbano responsável em escala humana, não para se tornar solo zero de um ataque de megalomania e arquitetura de troféus”, comenta, citado pela publicação.

Também citado pelo El País, o paisagista espanhol José Carlos Delgado, que mora em Londres há 25 anos e que se instalou num estúdio em Vauxhall quando chegou à capital britânica, disse que “quase tudo na operação Nine Elms é humilhante para o cidadão a pé, principalmente para quem cresceu em bairros como” os que estão em causa. 

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