
O atual cenário macroeconómico não é animador. Continua a ser marcado pelas dúvidas quanto à evolução da guerra na Ucrânia. E embora os riscos da pandemia para as economias tenham diminuído, não desapareceram. A tudo isto acresce ainda “os riscos e as incertezas sobre a resiliência da economia chinesa e, em particular, do seu setor imobiliário que continuarão a pressionar o dinamismo da economia global”, explica o Governo na proposta do Orçamento de Estado para 2023 (OE2023). Isto quer dizer que o período de maior incerteza irá prolongar-se para 2023, tornando a “tomada de decisões mais complexa”, admite o Executivo de António Costa.
A evolução da economia mundial – inclusive da portuguesa - encontra-se dependente de dois fatores, que “mantêm elevados os níveis de incerteza e volatilidade”, lê-se no OE2023 analisado pelo idealista/news:
- a persistência dos efeitos da pandemia de Covid-19 e das ruturas nas cadeias de abastecimento global;
- pelo prolongamento da guerra na Ucrânia, com os consequentes impactos nos mercados internacionais de produtos energéticos e de matérias-primas.
É por isso que a generalidade das instituições e organismos internacionais procedeu à revisão em baixa do crescimento económico mundial e à revisão em alta da taxa de inflação para o ano de 2023. Em Portugal, o Executivo de António Costa prevê um crescimento económico de 6,5% em 2022, embora assuma uma desaceleração do PIB em 2023 para 1,3%.

“Problemas" no imobiliário da China trava novos investimentos no setor
A generalidade dos países emergentes assumem um crescimento económico no segundo trimestre de 2022, em resultado da robustez da procura interna associada à implementação de medidas de apoio às famílias e empresas, apesar do forte ajustamento das condições financeiras. Mas há um país que foge à regra: na China observou-se uma (quase) estagnação da economia, já que o PIB só aumentou 0,4% em termos homólogos reais entre abril e junho, o valor mais baixo registado neste século.
E porque é que isto está a acontecer? Esta estagnação do crescimento económico chinês reflete “as fortes limitações à circulação e à atividade económica que as autoridades chinesas têm imposto face à persistência de casos da doença Covid-19, bem como a quebra no mercado imobiliário num contexto de elevado endividamento do setor empresarial”, explicam ainda no OE2023.
“O riscos e incertezas sobre a resiliência da economia chinesa e, em particular, do seu setor imobiliário continuarão a pressionar o dinamismo da economia global. Este período de maior incerteza prolongar-se-á para 2023, tornando a tomada de decisões mais complexa”, refere o OE2023
Uma persistência das medidas restritivas na China continuará a ter impacto nos fluxos internacionais de comércio, desde a produção às cadeias de abastecimento, reforçando as "pressões inflacionistas no mundo". E é por isso que o contexto económico atual da China é considerado pelo Governo português um outro “risco na envolvente externa” do nosso país.
Além disso, os “problemas no setor imobiliário” da China – com a queda de grandes grupos imobiliários, como é o caso da Evergrande - antecipam “novas quedas no investimento imobiliário nos próximos anos, com impacto significativo nos bancos, juros e poupança, influenciando de forma significativa a procura externa deste país, com reflexo negativo nas exportações mundiais”, referem ainda no documento.

Economia portuguesa: como vai mitigar os impactos externos?
Os principais riscos para o cenário macroeconómico são essencialmente de natureza externa, analisa o Governo, salientando que, embora seja “pertinente” cautelá-los, existem na economia portuguesa elementos que poderão mitigar estes impactos negativos, lê-se na proposta:
- Mercado de trabalho: os níveis de desemprego historicamente baixos e os aumentos salariais que se têm verificado conferem uma “robustez à base da procura interna que não pode ser negligenciada”, reforçam;
- Menor dependência energética: Portugal apresenta menor dependência energética, nomeadamente relativamente ao gás russo, face à generalidade das demais economias europeias e conta com uma elevada proporção de produção de energia elétrica baseada em energias renováveis;
- Resiliência do setor do turismo: este setor constituiu um “pilar fundamental” da retoma em 2021 e 2022, devendo manter a importância no desempenho da economia em 2023;
- "Solidez atual" das finanças públicas: em 2022, Portugal deverá registar uma redução histórica do endividamento público, que deverá situar-se nos 115% do produto, abaixo do nível pré-pandemia de Covid-19;
- Investimentos no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR): espera-se, em 2023, o "impacto favorável" da entrada em pleno da implementação dos projetos de investimento associados ao PRR com o respetivo efeito multiplicador no tecido económico, dizem no OE2023.
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