Foi a 3 de agosto de 2014, um domingo – antes dos mercados abrirem, o que foi inédito –, que Carlos Costa, governador do Banco de Portugal (BdP), anunciou a resolução do Banco Espírito Santo (BES). A instituição foi dividida num “banco bom” e num “banco mau”. Agora, um ano depois, o tema continua a dar que falar. Foi criado, a 4 de agosto de 2014, o Novo Banco (o “banco bom”), que será agora vendido: dia 7 é a data limite para a entrega das ofertas finais dos interessados.
“Não foi o governador do BdP que resolveu o BES, foi o BES que resolveu o governador. Tudo o que ocorreu no grupo BES passou-se perante a enorme incapacidade da regulação”, considera José Reis, diretor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.
Segundo o especialista, a resolução “correspondeu à solução habitual”. “Visou garantir ao sistema bancário o seu protecionismo na sociedade e economia portuguesas”, disse, em declarações à TSF.
Já Nuno Sousa Pereira, diretor da Porto Business School, referiu que foi adotado o “menor dos males” e considerou que o objetivo (da resolução) de evitar o contágio do sistema financeiro português “foi claramente alcançado”. “O nosso sistema financeiro ainda apresentava debilidades e se essas medidas não tivessem sido tomadas poderia ter havido um efeito de contágio muito perigoso”, justificou.
Ainda não se sabe por quanto será vendido o “banco bom” e se o dinheiro chegará para reembolsar os 3.900 milhões de euros emprestados pelo Estado ao Fundo de Resolução. E também são ainda desconhecidas as contas do “banco mau”. “Esse é o buraco escuro onde muita coisa está. É, porventura, o grande exemplo da pouca transparência, de visibilidade pública, de esclarecimento. O sistema bancário, por definição, deve funcionar de forma transparente e correta”, disse José Reis.
Uma coisa é certa, lembrou Nuno Sousa Pereira, atualmente os bancos estão mais atentos às suas obrigações: “Houve excesso de confiança em relação à atuação dos agentes com responsabilidades no setor financeiro. Acho que essa lição está verdadeiramente assimilada. O regulador terá sempre de assumir um papel de controlo muito rigoroso. Essa obrigatoriedade de prestação de informação é hoje muito melhor do que antes deste caso ter acontecido”.
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