O mercado imobiliário está de “boa saúde” e recomenda-se: 2018 está a ser um ano de recordes e 2019 deverá manter uma evolução positiva. Esta é, pelo menos, a opinião das três principais redes imobiliárias em Portugal - Century 21, Remax, e ERA - que estiveram à conversa com o idealista/news no SIL 2018. Não têm dúvidas de que o setor deverá continuar a dar gás à economia, mas pedem maior estabilidade legislativa e fiscal ao Governo, para que “as regras” do jogo não afastem o investimento. Recusam o cenário de bolha, ainda que os preços tenham disparado em flecha.
Para Ricardo Sousa, CEO da Century 21, o ano de 2018 destaca-se pelo aumento de preço nos centros das principais cidades - devido ao investimento estrangeiro e ao turismo - mas também, e sobretudo, nas zonas periféricas. Um cenário motivado pelo comportamento dos portugueses que, por várias razões, estão a procurar soluções fora das grandes cidades.
“Está a criar-se uma nova dinâmica”, diz o responsável, referindo os resultados do I Observatório do Mercado da Habitação em Portugal da Century 21, segundo o qual os portugueses estão a alterar as suas preferências, nomeadamente no que ao tamanho da casa diz respeito.

“Estão a escolher casas cada vez mais pequenas para poderem comportar o preço que podem pagar, uma vez que os portugueses têm como ‘budget’ os 500 euros, quer seja no arrendamento, quer no financiamento”, refere Ricardo Sousa. Segundo o CEO da Century 21, esta realidade está a levar as pessoas a “optar por mercados periféricos”, e a criar uma dinâmica que está a colocar pressão sobre os preços praticados nessas zonas.
Bolha imobiliária? Eis a questão
A resposta à pergunta acolhe unanimidade: os três responsáveis rejeitam o cenário de bolha. Para Beatriz Rubio, CEO da Remax Portugal, “há lugares especiais”, como Lisboa ou Porto, onde há preços muito elevados, mas que não representam o estado do imobiliário nacional. Garante que ainda há ofertas nas duas grandes cidades, mas que é preciso “ter muito cuidado quando compramos e fazer bem as contas ao metro quadrado (m2)”. “Há oferta já com preços acima do que se deveria pagar, e esse produto não se deve comprar”, recomenda.

Ricardo Sousa acrescenta que houve “uma clara alteração de escala em Portugal”, e que agora a capital e a Invicta já estão a competir num mercado global. O responsável admite que o forte investimento colocou o imobiliário nacional noutra escala, mas que essa alteração de paradigma não significa uma bolha, uma vez que esse investimento é sustentado por capitais próprios e procura externa.
Da mesma opinião é João Pedro Pereira, membro da Comissão Executiva da ERA. Para o responsável o que existe é uma “escassez de oferta”, fruto da crise que atravessou a construção. “Recomeçámos a construir e a reabilitar há dois anos e não é o tempo suficiente para que essas casas cheguem ao mercado”, explica. O gestor acredita que essa situação “vai ser corrigida naturalmente pelo mercado à medida que estas novas habitações começam a aparecer no mercado e vão fazer reduzir a tendência de aumento de preços”.
Regresso à construção nova é a “boa notícia”
A falta de imóveis é, neste momento, o principal problema para quem procura, mas também para quem vende ou arrenda. A obra nova, aquela que será a próxima onda do imobiliário em Portugal, é por isso apontada como solução para travar a escalada de preços. Ricardo Sousa diz mesmo que a construção nova é a “grande boa notícia”, que “era necessária e que a procura já pedia há algum tempo”.
O responsável acrescenta que uma das soluções de mercado passa por uma aposta crescente nos segmentos médio e médio baixo, segmentos onde os portugueses “tanto precisam de soluções de habitação”. Adianta ainda que há cada vez mais investidores a apostar neste segmento, “o que está de facto a criar uma grande dinâmica”.
Também João Pedro Pereira, da ERA, acredita que o ano de 2018 e os próximos se apresentam “como um bom momento para a obra nova, desde que o enquadramento legal e fiscal não sofra alterações radicais”.

Beatriz Rubio considera que o regresso à obra nova é importante, mas pede maior atenção às questões do arrendamento. Para a responsável “este é um problema que não é de agora”. Defende a criação de leis que incentivem o arrendamento, “não só para as pessoas que não têm acesso à compra de uma casa, mas também aos jovens”. “É impensável que um jovem tenha de comprar uma casa, porque sim”, refere.
Estabilidade legislativa e fiscal é fundamental
Os especialistas concordam que Portugal entrou no mapa dos países que estão na moda e antecipam que o mercado deverá continuar a evoluir positivamente em 2019. Ainda assim, deixam alertas. Pedem ao Governo e ao Parlamento maior estabilidade legislativa e fiscal, uma vez que os investidores são regularmente confrontados com alterações de regras “a meio do jogo”.
O Estado, defendem, deverá também ele ter um papel mais significativo na estabilização da oferta. João Pedro Pereira destaca, aliás, que o Estado “é o maior proprietário imobiliário nas grandes cidades”, tendo, por isso, uma “ferramenta excelente para calibrar a oferta para os diferentes momentos económicos”, que devia utilizar para garantir um crescimento sustentado.
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