
O mundo está exausto e a fadiga pandémica é uma realidade e está a aumentar, alimentada por sentimentos de frustração e desilusão. As pessoas estão cansadas e “fartas” daquilo em que a vida se transformou por causa da Covid-19, e há mesmo quem tenha entrado em negação e caído nesta “armadilha”, descuidando os comportamentos. A falta de perspetiva e o novo confinamento assombraram a esperança trazida pela vacina, e o regresso ao ponto de partida parece estar a condicionar o combate efetivo à pandemia.
Em Portugal, por exemplo, e três dias depois de anunciar um novo confinamento geral, o Governo teve de voltar a apertar as regras e a agravar as restrições, face aos “abusos” dos últimos dias, com o desrespeito pelo dever de recolhimento domiciliário. Para os psicólogos este comportamento “não é uma supresa” e “não adianta culpabilizar ninguém”.
Especialistas ouvidos pelo Público reconhecem que há um acumular de cansaço e sentimento de frustração associado à ideia de que parecia que estava tudo a correr melhor, que leva muitas pessoas a entrar em negação. “A fadiga da pandemia, a necessidade de sentir controlo sobre a situação, a falta de perspetiva de melhores dias nos negócios, a dificuldade em aceitar as nossas vulnerabilidades e a dificuldade em compreender porque temos de voltar a confinar são alguns fatores que podem estar a contribuir para alguns comportamentos mais descuidados”, explica a psicóloga clínica Vera Ramalho, citada pelo jornal.
Francisco Miranda Rodrigues, bastonário da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP), refere que compreensão da dimensão do problema e o consequente “ajustar de comportamento” torna-se mais difícil “se do ponto de vista emocional” a pessoa “não estiver no seu melhor”. “Passamos a decidir menos racionalmente, mais sujeitos a enviesamentos”, diz o especialista, e deixa um apelo: “todos temos razões para estarmos fartos e é perfeitamente normal que sintamos uma vontade enorme de ir dar um passeio, mas para o bem de todos e de nós próprios, temos de fazer ainda mais um esforço”.
Para Vera Ramalho, “estamos perante um fenómeno social e emocional de habituação e de uma certa indiferença”, por isso, “não sendo um dos nossos, tudo não passa de um breve momento de tristeza que se desvanece ao mudar de canal”, explica, dando como exemplo a espécie de banalização dos números diários de mortos, infetados e internados.
A psicóloga Teresa Espassandim partilha a mesa opinião. Diz que não se pode “tornar os números distantes da vida das pessoas” porque “quando a vida e a morte se desumanizam, as pessoas também se afastam”.
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