Veterinário de formação, chegou a Portugal em 1999. Tornou-se agente imobiliário em 2014 e agora ajuda quem foge da guerra.
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Apoio aos refugiados
Vadym Petruk, agente imobiliário da Remax idealista/news

Vadym Petruk vive em Portugal há mais de duas décadas. É ucraniano, com raízes polacas, e fala quatro idiomas. Chegou a Portugal em 1999 e trabalha como consultor imobiliário no país desde 2014. Os efeitos do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, segundo disse ao idealista/news, ainda não se sentem no dia a dia do imobiliário em Portugal, mas, na sua opinião, será difícil o setor escapar ileso se a situação de guerra prolongar. Neste momento, e observando desde longe como o seu povo luta, Vadym está completamente dedicado a ajudar a encontrar uma casa para viver a quem foge da guerra na Ucrânia. Entre os muitos refugiados, a Portugal chegam sobretudo mulheres e crianças - muitas vezes sem nada mais do que os documentos e a roupa que trazem vestida - à procura de um lugar seguro para viver.

Este ucraniano apaixonou-se por Portugal numa viagem que fez pela Europa, há muitos anos. Quando se mudou, Vadym trabalhou no Hospital Veterinário de Faro como diretor clínico e depois numa clínica veterinária em Lagos. Desde 2014, é consultor imobiliário na Remax Praia – Armação de Pêra, e membro do PIR – Portugal Internacional Property Specialist. Para já, considera que ainda não se sente o impacto da guerra na atividade do dia a dia. “Arrendamentos como já temos pouco, a dinâmica continua na mesma. E as vendas continuam a evoluir positivamente, por enquanto”, refere.

Segundo o consultor, há sempre pessoas à procura de casa para arrendar, mas a oferta no Algarve está muito “limitada” no que diz respeito ao arrendamento de longa duração. O foco são as férias e os arrendamentos de curto prazo. “Há muitas pessoas a querer vir trabalhar para cá e não têm alojamento. Há muito pouca oferta”, frisa.

O impacto da guerra da Ucrânia no imobiliário

Vadym trabalha, principalmente, com o mercado do Brasil que, garante, “tem um grande poder de compra”. Alemanha, França, Espanha e Inglaterra são outras nacionalidades de peso em termos de procura, sobretudo para comprar ativos como segunda habitação/férias naquela região. Apesar de não ter compradores russos, antecipa um cenário difícil ao nível do investimento imobiliário russo em Portugal, que em termos globais já é significativo, sobretudo por via dos vistos gold.

Guerra na Ucrânia
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“É provável que assistamos a um desinvestimento russo. Atualmente, eles estão muito limitados. Em termos de financiamento, ligações aéreas... O país está completamente bloqueado. Alguns tentam outros caminhos, fugir pela China, por exemplo, porque entendem que a economia do país vai cair mais. Muitos russos também querem abandonar a terra deles porque não estão a ver futuro ou solução para o país”, adianta.

Relativamente à procura ucraniana, “havia muito pouca”. No entanto, Vadym destaca o facto do país ser bonito, agradável e calmo como fatores que começaram a motivar compras do lado da Ucrânia. “No ano passado começaram a aparecer ucranianos para arrendamento de curto prazo, e provavelmente poderíamos ter mais compras e compradores do lado da Ucrânia, se não tivesse acontecido isto”, salienta. Explica que o mais comum é vir de férias, ver e conhecer o país, e depois comprar. “Poderíamos ter mais um comprador que podia investir em Portugal se não fosse a guerra”, explica.

Apoiar refugiados: o novo dia a dia de Vadym

Dias depois da invasão russa à Ucrânia, começaram a multiplicar-se em Portugal movimentos focados em ajudar e oferecer alojamento às famílias ucranianas. Exemplo disso é a iniciativa “Consultores Imobiliários pela Ucrânia”, fundada por duas agentes imobiliárias, Joanna Koltan e Ana Gomes, através de um grupo no Facebook, que o idealista/news noticiou. O grupo dedica-se exclusivamente a procurar alojamento temporário gratuito e arrendamentos de baixo custo para a comunidade que está a chegar, e mobilizou vários profissionais ligados à mediação imobiliária para organizar e gerir as ofertas de alojamento disponíveis de acordo com o número e contexto das famílias refugiadas que pedem ajuda, garantindo uma rede inicial de apoio. A maioria da oferta, neste momento, são quartos em casas de particulares.

Famílias ucranianas
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Atualmente, e à data de publicação deste artigo, este grupo já conta com mais de 13.000 membros e de cerca de 70 voluntários a gerir as ajudas. Vadym é um destes voluntários da inciativa. Desde cedo e até altas horas da noite, dedica-se exclusivamente a tentar ajudar quem foge da guerra. Por agora, os outros mediadores da agência em que trabalha ajudam-no no dia a dia com os clientes e a parte do negócio. Também está a passar as chamadas que recebe para os colegas porque, diz, “há outras prioridades urgentes”.

Como fala quatro idiomas, acaba por traduzir os muitos pedidos de ajuda, e nem sempre é fácil gerir as emoções. “Passar por mim toda a informação, traduzir tudo... ouvir tudo em primeira mão é difícil, é pesado. Mas agora já estou mais calmo”, explica.

Ajudas à Ucrânia
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Onda de solidariedade a refugiados da Ucrânia conta com o setor imobiliário em Portugal

Num relato muito emocionado, Vadym conta-nos a história de uma mãe que saiu de casa com uma criança de nove anos apenas com algumas malas. Começaram os bombardeamentos perto da zona onde estavam e tiveram de deixar tudo para trás. Foi um desconhecido que os levou até à estação de comboios. Conseguiram chegar à fronteira, com muito frio, onde ficaram 11 horas à espera para passar para o lado da Polónia. Agora, já estão em Portugal.

As histórias de quem está a fugir repetem-se. O caso de uma outra mãe com dois filhos, um de 10 anos – que ficou ferido – e um bebé de três meses. Numa tentativa desesperada de deixar o recém-nascido a salvo, esta mãe entregou o bebé a desconhecidos, “pessoas que não conhecia de lado nenhum”, com o número de telefone do pai que trabalha em Portugal. Essa criança já está também no país.

A onda de solidariedade cresce a cada dia e Vadym explica que há cada vez mais pessoas a disponibilizar o que têm para ajudar, seja uma casa ou um quarto. Começa às 7h da manhã a trabalhar e termina muito tarde, porque é preciso gerir papéis e registos que se foram acumulando ao longo do dia. “Trabalhamos o número máximo de horas que conseguimos por dia para ajudar”, partilha, consternado.

Alojamento para ucranianos
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“Os proprietários portugueses estão a ajudar muito. Se têm uma casa com dois quartos, disponibilizam um quarto, com água, luz e comida por conta deles. Estão a partilhar e ajudar com o que têm”, conta, agradecendo a toda a equipa, membros do grupo, e voluntários que “estão a dar o tudo por tudo para apoiar”.

À data de hoje, já terão conseguido alojar cerca de 180 famílias. Por dia, Vadym consegue arranjar cerca de sete a oito casas. E não é tarefa fácil. O ideal será ficar perto de transportes, escolas e hospitais – porque a maioria das pessoas também não poderá conduzir cá – e dos serviços administrativos para tratar dos documentos, e “essa é a parte complicada”, mas confia que, com a ajuda de todos, "tudo é possível".

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