O crescimento do teletrabalho e a vontade de refúgio estão a aumentar o interesse em ter um imóvel em zonas rurais, muitas vezes heranças dos avós ou dos pais, nos arredores das grandes cidades. Mas antes de partir para uma reabilitação de uma casa de campo devemos ter em conta alguns aspetos fundamentais durante o processo de reabilitar este tipo de imóveis, que devido à sua antiguidade e exposição ao frio/calor, costuma apresentar grandes deficiências em termos de conforto, habitabilidade, acessibilidade, consumo de energia ou segurança estrutural.
Tendo em atenção esses aspetos, a opção sustentável é a melhor opção, pelas múltiplas facilidades que se obtém até a nível de ajudas financeiras oferecidas pelas administrações públicas, quer pelas vantagens deste tipo de reabilitação:
- menor consumo energético e consumo de resíduos;
- maior durabilidade em relação aos danos causados pela passagem do tempo - fissuras, humidade, fugas de calor, descascamento da tinta, possíveis pragas, etc;
- valorização do imóvel;
- e mais conforto, graças ao facto de garantir uma melhor qualidade do ar interior e uma temperatura ambiente acolhedora ao longo de todo o ano.
Num artigo preparado para o idealista/news, a MELOM*, empresa especializada e líder em remodelação de imóveis, apresenta várias sugestões e dicas sobre os cuidados a ter na reabilitação de uma casa de campo, desde os materiais às soluções de construção mais sutentáveis.
Cuidados na reabilitação de uma casa de campo
Melhorar o isolamento térmico de paredes, solos e tetos
O isolamento térmico isola-nos do calor no verão e do frio no inverno, sem que seja necessário recorrer a equipamentos de climatização. Uma casa bem isolada permite-nos poupar energia e beneficiar de conforto térmico, todo o ano.
Um isolamento térmico eficiente limita as perdas e trocas de calor do interior com o exterior da casa. Até 25% da energia escapa pelas paredes e tetos das casas mal isoladas. Um desperdício que obriga a um aumento do consumo em aquecimento e ar condicionado para além de multiplicar as emissões de CO2, diminuindo também o conforto da nossa habitação. Para compensar estas perdas, a solução é otimizar o isolamento da nossa casa. Esta melhoria proporciona inúmeras vantagens nomeadamente:
- Manter a temperatura ideal;
- Poupar na fatura;
- Reduzir a pegada energética;
- Evitar a humidade e a condensação;
- Reduzir o ruído;
- Ganhar espaço útil.
Aspetos a ter em conta na escolha do isolamento térmico são a condutividade térmica e resistência térmica. Neste sentido, a melhor opção é utilizar materiais isolantes sustentáveis: lã de rocha, fibra de madeira, espuma rígida mineral.
Substituir as janelas por outras mais eficientes
As janelas eficientes têm impacto direto na fatura energética e na pegada ambiental, sendo que proporcionam mais conforto e ajudam a valorizar a casa. A utilização de vidros duplos nas janelas é atualmente a solução mais adotada em novas janelas. Os vidros duplos surgiram para incrementar o isolamento térmico e acústico da janela, sendo constituídos por duas chapas de vidro separadas por um espaço de ar ou de gás nobre (por exemplo árgon, kripton, xénon).
A espessura do espaço de ar pode variar, sendo comum a utilização de uma caixa de ar a partir de 16mm para otimizar o desempenho térmico. Os vidros triplos, à semelhança dos duplos, surgiram para incrementar ainda mais o isolamento térmico e acústico das janelas. A correta seleção da caixilharia (ou perfil) pode garantir soluções de elevado desempenho da janela. Os materiais mais usuais são alumínio, PVC e a madeira, existindo também outras opções como a fibra de vidro como as que têm maior desempenho. Da mesma forma, é preferível que sejam de estrutura batente ou oscilo batente, pois as janelas de correr não são tão herméticas. É necessário garantir o isolamento das caixilharias, para evitar perdas de calor para que a janela consiga cumprir o seu desempenho.
Eliminar as tintas plásticas e apostar nas naturais não tóxicas
Opta por eliminar as tintas plásticas que contêm toxinas e componentes tidos como cancerígenos, os COVs (compostos orgânicos voláteis), além de emitirem gases nocivos para a atmosfera até alguns meses depois da sua aplicação. As tintas ecológicas são aquelas que não apresentam estes problemas. Elas podem ser industrializadas ou naturais, mas não é qualquer tinta à base d’água que é considerada ecológica, elas realmente precisam ser livres destes componentes nocivos.
As alternativas mais naturais são as tintas de terra e de cal, que podem ser adquiridas prontas ou ser feitas em casa, e que, além de não possuírem materiais perigosos em sua composição, ainda contribuem para reduzir o impacto ambiental pelo processo artesanal de fabricação.
- As tintas de terra têm como principal vantagem o fato de deixarem a parede “respirar”, já que não formam uma camada impermeável como as tintas comuns. Quando adquiridas prontas, são compostas por uma mistura de pigmentos minerais extraídos de jazidas certificadas, e emulsão aquosa. Podem ser usadas em paredes internas ou externas, com acabamento liso ou texturizado, e têm cores variadas de acordo com a tonalidade da pigmentação usada. Quando feitas em casa, as tintas adquirem a cor da terra utilizada.
- Já as tintas de cal, feitas com cal e pigmentos naturais, são ideias para aplicação em superfícies porosas, internas ou externas, que não tenham sido pintadas anteriormente. Considerada praticamente natural, a cal só passa pela ação do fogo, que modifica a rocha original, e depois a adição da água.
Há três tipos de tintas ecológicas ou naturais que variam de acordo com sua composição. Lembrando que, para ser considerada nesta categoria, o ciclo de produção da tinta é avaliado desde o consumo de energia até consumo de água, embalagens, descarte e reciclagem de materiais e insumos, de maneira que realmente seja ecologicamente correta. Até mesmo a quantidade de solventes e produtos de limpeza que são usados na higienização dos recipientes onde são fabricadas as tinta, são levados em consideração no momento da mesma ser classificada como natural.
São três opções para tinta ecológica:
- mineral:
- vegetal:
- ou com insumos naturais, que levam caseína, ligante que se extrai do leite da vaca.
Apostar no condicionamento acústico
Quando tratamos de condicionamento acústico referimo-nos de como o som emitido dentro do ambiente se comporta no mesmo. Este som emitido pode ser a música produzida por um instrumento, a própria fala e o som emitido por alto-falantes. Embora o sistema de condicionamento acústico esteja mais direcionado para estúdios de gravação, cinemas, igrejas, bares, restaurantes etc, hoje em dia com o teletrabalho a crescer e a necessidade de fazer videochamadas, conseguir estra concentrado abstraindo-se dos restantes ruídos externos é uma mais valia incorporar este tipo de sistema no projeto habitacional.
Revisão das instalações elétricas
Os imóveis projetados há duas ou mais décadas, certamente não levaram em consideração aspetos da vida quotidiana do século XXI e carregam uma grande possibilidade de estarem subdimensionados para lidar com tanto consumo. Pelo que se deverá fazer uma revisão verificando o quadro de distribuição se possui ligação à terra, cabos, tomadas, e interruptores identificar se estão em mau estado ou se é necessário uma mudança generalizada.
Ajustes no dimensionamento e reparos que podem ser feitos a partir das revisões, como a substituição de equipamentos já obsoletos por novos e a incorporação de novas tecnologias, como as lâmpadas de LED, tendem a resultar em menos consumo, mais capacidade de atuação e menor custo.
Substituição das canalizações e instalação de soluções de poupança de água
Da mesma forma que outros materiais entram em deterioração, o mesmo acontece com os tubos e acessórios, nomeadamente os canos. Antigamente utilizavam-se tubos de cobre, os quais devem ser substituídos por tubos em materiais mais recentes com propriedades mais duradouras e benéficas para a saúde. É importante substituir as canalizações antigas de chumbo e cobre por outras mais atuais de aço inoxidável, cerâmica em última instância pode utilizar os de polietileno ou polipropileno.
Para a solução de poupança de água podem ser utilizados filtros domésticos que podem ser utilizados não só em água para consumo humano, como também em equipamentos, como por exemplo a máquina da roupa ou da louça, ajudando a prolongar o seu tempo de vida e a evitar avarias provocadas pelo calcário ou outros minerais ou detritos presentes na água.
- Redutores e reguladores de caudal
Os redutores de caudal reduzem a quantidade de água que sai na torneira através da mistura de ar na água e os reguladores de caudal (mais indicados para o setor hoteleiro) asseguram que o caudal de água é sempre o mesmo, independentemente da pressão disponível, através de um o-ring reativo à pressão da água.
- Torneiras e chuveiros
Atualmente, existem torneiras e chuveiros já com integração de sistemas económicos e ecológicos, como, por exemplo, cartuchos com discos cerâmicos fechados, que exercem uma pequena resistência durante a abertura do manípulo, obrigando a uma abertura total em dois passos, ou seja, no primeiro passo a torneira abre apenas com 50% do caudal disponível. Igualmente económicas são as torneiras temporizadas (acionadas por um botão, com um tempo pré-definido) ou com sensor (acionadas por sensor de movimento).
Além destas soluções, existem ainda as torneiras termostáticas que ajudam a evitar desperdícios de energia, pois garantem a mesmas temperatura e caudal durante todo o banho, sendo o controlo feito na própria torneira e não pelo sistema tradicional de mistura manual de água que, por vezes, provoca situações desagradáveis de diminuição de caudal e de temperatura bruscas.
- Autoclismo
Os mecanismos de dupla descarga permitem reduzir o consumo de água ao possibilitarem descargas parciais ou completas do autoclismo, aquando do uso da sanita. Além deste botão de descarga dupla, os próprios autoclismos, atualmente, têm capacidades mais reduzidas, comparativamente com os existentes no passado. Na verdade, estas soluções só são realmente viáveis quando utilizadas em sanitas preparadas para este tipo de descargas. É, por isso, importante assegurar a solução completa.
Mudar ou atualizar o sistema de aquecimento e água quente
Se optarmos pelo recurso a energias renováveis, como a biomassa ou a energia solar, ao invés de energias cujo recurso são os combustíveis fósseis, altamente poluentes, a nossa pegada ecológica irá, irremediavelmente, ser muito menor.
Se precisares de substituir ou instalar um sistema de aquecimento na reabilitação da casa, deverá considerar:
- A opção a pellets. Existem diversos equipamentos que permitem o aproveitamento deste recurso para aquecimento das habitações e de águas sanitárias. Recuperadores de calor, salamandras e caldeiras são exemplos que oferecem rendimentos extraordinários. Além disso, atualmente, a oferta é tão vasta, seja a nível de design, cores e dimensões, que facilmente se enquadrará com a decoração e espaço de qualquer habitação.
- A tecnologia das bombas de calor é dos sistemas mais eficientes e completos. Utiliza como fonte de energia o calor extraído do ar exterior e, por isso, acaba por utilizar muito menos energia para manter o nível de conforto pretendido. A bomba pode facilmente extrair 65% a 80% da sua energia do ambiente, sendo o resto proveniente da rede. Este é um sistema completo, dado que permite o aquecimento das habitações no inverno, o arrefecimento no verão, o aquecimento de águas sanitárias e ainda o aquecimento de piscinas. As emissões de CO2 deste sistema são também muito menores do que as de um sistema de aquecimento convencional. E se ligarmos a bomba de calor a painéis solares, vamos obter um aquecimento de forma 100% ecológica.
A energia solar brilha, ilumina e aquece. Sem dúvida, a melhor fonte de energia natural. O sol pode, sem grande complexidade técnica, funcionar como fornecedor de energia ou calor. Basta utilizar painéis e alguns equipamentos complementares. Tudo isto com o melhor balanço energético e ambiental possível: zero emissões de poluentes.
Nesta área podem encontrar-se dois tipos de soluções.
- Por um lado, pode fazer-se o aproveitamento de energia solar para produção de energia elétrica, através do recurso a sistemas solares fotovoltaicos, podendo ainda acoplar a estes sistemas baterias, que vão permitir armazenar a energia produzida durante o dia, para suprir os consumos durante a noite;
- Outra das opções é o aproveitamento da energia solar para produção de calor, que resultará no aquecimento das águas sanitárias. Falamos aqui, por exemplo, de um sistema termossifão que, com um investimento reduzido, oferece poupanças que podem ascender os 80%.
Novas construções: madeira é a melhor opção
A madeira tem vindo a assumir um papel cada vez mais importante na arquitetura moderna. Além das suas caraterísticas naturais de força, beleza, durabilidade, eficiência térmica e acústica, resistência ao fogo e aos sismos, a madeira tem atualmente a resposta a um dos maiores desafios do nosso tempo: a sustentabilidade.
Utilizar produtos de madeira ajuda a preservar as florestas, uma vez que madeira é uma esponja de carbono. Em crescimento, uma árvore absorve quase uma tonelada de CO2 por cada metro cúbico de crescimento. Este CO2, retido na madeira, continua afastado da atmosfera mesmo quando a madeira é transformada em produto acabado. Desta forma, a madeira contribui fortemente para a redução dos gases que provocam o efeito de estufa.
Vantagens da madeira:
- A madeira é um material renovável e versátil. Os produtos em madeira podem ser reconvertidos em outros produtos, ao longo do seu tempo de vida útil, e mesmo os resíduos de madeira podem ser utilizados para a produção de energia limpa;
- A madeira é um material forte e resistente para além de ser um elemento de construção proporciona o conforto, o calor, a beleza e a possibilidade de criar vários designs.
- É um excelente isolante térmico e acústico, as construções que utilizam a madeira como elemento construtivo poupam energia e CO2; como isolante térmico a madeira é 15 vezes melhor que o betão, 400 vezes melhor que o aço e 1.770 vezes melhor que o alumínio. A madeira é uma solução competitiva quando se trata de edifícios onde a eficiência térmica é um requisito inquestionável.
- É durável e pode ter um elevado nível de pré-fabricação. Os produtos em madeira atualmente existentes no mercado possibilitam a pré-fabricação das construções em fábrica, reduzindo os custos e a necessidade de mão de obra e minimizando o impacto no local de implantação não enferruja a madeira mantém o seu aspeto natural por muito tempo para além de ser mais resistente ao fogo de que o aço.
Optar por uma decoração sustentável
Uma decoração sustentável faz parte de um estilo de vida e é feita pensando no futuro descarte de materiais, que consequentemente afetarão a natureza. Para começar, ao falarmos sobre sustentabilidade, é preciso pensar em três conceitos: reutilizar, reduzir e reciclar.
Usa a criatividade e reaproveita. Sem utilizar mais nenhum poluente, a primeira ideia para se ter em mente na hora de procurar a sustentabilidade na decoração é reaproveitar o que ja tens. Mudar de lugar, de função ou até mesmo dar uma renovação num móvel.
Mas se comprares novos móveis para a casa, dá preferência a marcas sustentáveis que utilizam madeira de reflorestamento, uma vez que estes não agridem o meio ambiente, possuem uma alta durabilidade e trazem bem estar, sofisticação e harmonia para o lar.
*Este artigo contou com o apoio técnico do Querido Mudei a Casa – Obras Querida Cristina Lopes (Lisboa - Loures)
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