Presidente do CFP admite cenário de recessão no país e aponta "perda de rendimento real" dos trabalhadores.
Comentários: 0
habitação
Foto de August de Richelieu no Pexels

Num contexto de forte subida das taxas de juro, e numa altura em que se assiste a uma escalada sem precedentes da inflação e os preços das casas não param de subir, a presidente do Conselho Superior das Finanças Públicas (CFP), Nazaré Costa Cabral, diz estar "muito preocupada com o custo da habitação que terá de ser suportado pelas famílias". A responsável admite uma “perda de rendimento real” dos trabalhadores, e não afasta um cenário de recessão no país, apesar da estimativa da instituição de um crescimento do PIB de 1,2% no próximo ano.

“Não é de excluir uma recessão. O cenário que temos é um cenário prudente face à informação que dispomos”, disse a responsável da instituição durante a conferência de imprensa de apresentação do relatório de atualização das perspetivas económicas e orçamentais 2022-2026, divulgado esta quinta-feira, 22 de setembro de 2022.

O CFP melhorou as perspetivas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano para 6,7%, mas cortou as do próximo ano, prevendo agora uma forte desaceleração para 1,2%. Contudo, a instituição alerta que o cenário macroeconómico que traça é marcado pela “elevada incerteza”, com, diz, “os riscos a serem predominantemente de natureza externa, e a penderem de forma descendente para o crescimento da atividade económica e de forma ascendente quanto à inflação”.

Nazaré Costa Cabral
Flickr

Presidente do Conselho de Finanças Públicas

Salários, poder de compra e crédito habitação preocupam

Segundo as previsões do CFP, a perda de poder de compra de um consumidor que não tenha visto o salário atualizado irá equivaler no total de 2022 a cerca de um salário menos, no caso de quem recebe 14 meses de ordenado.

A instituição presidida por Nazaré Costa Cabral (na foto) assinala que os consumidores veem a capacidade de aquisição diminuir devido ao aumento dos preços, se, entretanto, não virem os seus rendimentos nominais atualizados em proporção equivalente. O CFP alerta que “ao longo do ano de 2022 este efeito é de grande importância”.

O CFP destaca ainda que “a retração do consumo é também explicada pelo aumento das taxas de juro recentemente determinado pelo Banco Central Europeu”, assinalando que muitas famílias portuguesas têm créditos a taxa variável, essencialmente com o crédito habitação - para o qual o Governo ainda não anunciou qualquer medida de apoio, apesar de já ter dito que está a avaliar o tema, estando em cima da mesa o regresso das deduções dos empréstimos habitação no IRS.

Um dos outros efeitos provocados pela inflação é, aponta o Conselho de Finanças Públicas, “a perda de valor de um montante em dívida ou de ativos financeiros, como depósitos bancários, que se encontrem definidos em termos nominais”.

O CFP prevê que a taxa de inflação suba dos 0,9% registados em 2021 para 7,7% este ano, antes de diminuir para 5,1% em 2023.

CFP diz que processo de atualização de pensões não foi bem conduzido

Nazaré Costa Cabral disse também que o processo de atualização das pensões não foi conduzido da melhor forma, defendendo que deveria ter sido feita uma alteração à lei com antecedência.

Quando questionada sobre a solução adotada pelo Governo para atualização das pensões no próximo ano, Nazaré da Costa Cabral considerou que “houve tempo” para “proceder a uma alteração da lei”. “A forma como este processo foi conduzido não foi a melhor forma”, disse.

*Com Lusa

Ver comentários (0) / Comentar

Para poder comentar deves entrar na tua conta