A alta inflação em Portugal tem apertado os orçamentos das famílias nos últimos meses, reduzindo o rendimento disponível e pressionando o poder de compra. Os dados do Banco de Portugal (BdP) espelham bem esta realidade: em janeiro de 2023 foi registada “a maior redução de depósitos de particulares desde o início da série estatística, em 1979”. A verdade é que as famílias também estão a procurar alternativas para rentabilizar mais as suas poupanças, nomeadamente em certificados de aforro, tendo o as subscrições líquidas registado valores recorde em janeiro de 2023.
As famílias portuguesas têm, hoje, menos dinheiro guardado no banco do que no final de 2022. É isso mesmo que mostram os dados do regulador português: em janeiro de 2023, o stock de depósitos de particulares nos bancos residentes reduziu 2,5 mil milhões de euros, totalizando 179,9 mil milhões de euros no final do mês. Recorde-se que, no final de dezembro de 2022, o montante total de depósitos das famílias foi de 182,4 mil milhões de euros.
Esta foi “a maior redução de depósitos de particulares desde o início da série estatística, em 1979”, desta ainda o BdP no boletim divulgado esta segunda-feira, dia 27 de fevereiro. Além disso, o regulador nota ainda que em janeiro de 2023 observou-se um abrandamento do crescimento anual destes depósitos pelo terceiro mês consecutivo, passando de 7% em outubro de 2022 para 5,8% em novembro, 5,4% em dezembro e 3,7% em janeiro.
Os dados do regulador português foram divulgados no mesmo dia em que a presidente do Banco Central Europeu (BCE) apelou a que os bancos europeus reflitam na remuneração dos depósitos dos seus clientes os aumentos das taxas de juro feitas pela instituição em 300 pontos base (e que vão subir ainda mais). Até agora, os bancos da Zona Euro tem subido os juros nos depósitos a prazo, mas de forma muito lenta. Aliás, Portugal tem hoje dos juros nos depósitos a prazo mais baixos da Europa.
"Queremos que as nossas subidas de taxas de juro sejam transmitidas ao setor financeiro, incluindo os bancos. A minha esperança é, porque queremos que a transmissão monetária seja canalizada através da economia, que os bancos também reflitam essas subidas das taxas de juro na sua remuneração de depósitos", salientou Christine Lagarde, em entrevista ao The Economic Times.
Certificados de aforro são refúgio às poupanças
A verdade é que a inflação em Portugal continua alta – 8,3% em janeiro, segundo os dados do INE – muito embora já tenha caído três vezes seguidas devido à desaceleração dos preços da energia. Este facto leva as famílias a gastar mais dinheiro quer no cabaz alimentar, quer na conta da luz. Mas não é o único fator que explica a descida dos depósitos dos particulares.
O regulador liderado por Mário Centeno revela ainda que a descida do montante total dos depósitos “ocorre num mês em que as subscrições líquidas de certificados de aforro aumentaram 2,9 mil milhões de euros”, para 22,5 mil milhões de euros. Isto quer dizer que as famílias têm encontrado nos certificados de aforro uma alternativa para proteger as poupanças da alta inflação.
Os dados do BdP indicam ainda que o montante aplicado em certificados de aforro subiu de 12,5 mil milhões de euros em janeiro de 2022 para 22,5 mil milhões de euros em janeiro de 2022. Ou seja, aumentou 80% num ano marcado pela alta inflação. Este é mesmo o maior valor registado pelo regulador desde que há dados disponíveis (1998).
Afinal, os certificados de aforro são um investimento sem risco, tratando-se de uma garantia do Estado, classificado como um produto de dívida pública. E as taxas de juro dos certificados de aforro, como são calculadas a partir da média da Euribor a 3 meses, têm vindo a tornar-se cada vez mais apetecíveis. Ora, a taxa de juro bruta para as novas subscrições e capitalizações de certificados de aforro foi fixada em 2,842% em dezembro de 2022, um valor que subiu para 3,088% para as subscrições de janeiro de 2023.
*Com Lusa
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