Margarida Galanducho assumiu o cargo de Chief Operating Officer (COO) da LivinGroup aos 28 anos.
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Créditos: LivingGroup e Freepik

Uma nova geração de executivas está a redefinir as regras da liderança, e Margarida Galanducho é um dos rostos dessa mudança. Nunca deixou que a idade, o género ou os estereótipos ditassem os seus passos e, aos 28 anos, tornou-se Chief Operating Officer (COO) da promotora LivinGroup. Cresceu entre desafios, aprendeu a fazer perguntas e descobriu cedo que a liderança não é uma questão de rótulos, mas de competência. No setor imobiliário e da construção, tradicionalmente dominado por uma cultura masculina, não pediu licença para entrar — fê-lo com trabalho, pensamento disruptivo e visão estratégica. 

Margarida não vê o seu percurso como exceção, até porque quando se estreou no mercado de trabalho sentiu dificuldade em perceber qual o seu lugar e o que é que gostava realmente de fazer. A sua história reflete, em certa medida, a mudança que está a acontecer no tecido empresarial: mais mulheres a liderar, mais diversidade nas decisões, menos barreiras invisíveis a travar talento. Mas a COO não se ilude – sabe que há ainda um longo caminho pela frente. E é precisamente por isso que quer assumir o seu papel não só como gestora, mas também como agente de transformação.

Natural de Évora e criada em Moura, mudou-se para Lisboa aos 18 anos para investir na sua formação. Licenciada em Contabilidade e Administração pelo ISCAL, iniciou a sua trajetória profissional ainda durante o curso, como assistente da diretora financeira numa cadeia de hotéis de luxo. Concluiu, depois, um Mestrado em Economia da Empresa e da Concorrência no ISCTE Business School, e a sua experiência inclui passagens por empresas como PwC e BNP Paribas, onde se especializou em análise financeira e contabilidade no setor de mercados de capitais.

Por ocasião do Dia Internacional da Mulher, partilhou com o idealista/news o seu trajeto profissional e como equilibra as funções de executiva com a vida pessoal. Margarida defende uma liderança baseada no mérito, na inovação e na construção de equipas diversas e eficientes. “Acredito firmemente no reconhecimento das aptidões, capacidades técnicas, soft skills, ferramentas e conhecimentos, independentemente do género, e espero que, num futuro próximo, esta distinção deixe de ser pertinente, permitindo uma avaliação baseada única e exclusivamente no mérito e na competência”, salienta.

Sabe que o caminho para a igualdade está a ser trilhado, mas também que ainda há obstáculos a superar. E, como exemplo de liderança da nova geração, assume o compromisso de fazer parte dessa mudança. 

projeto LivinGroup
Projeto LivinGroup - Mourisca

A Margarida torna-se COO da Living Group antes de completar 30 anos. Representa uma nova geração de executivas. Como é ser mulher no mundo empresarial?

Felizmente, não me sinto condicionada ou limitada pelo facto de ser mulher. Acredito que a realidade tem evoluído de geração em geração, refletida num aumento significativo da presença feminina em cargos de alta direção e nos conselhos de administração das empresas. Reconheço, contudo, que ainda há um longo caminho a percorrer, sobretudo no que toca à desconstrução do estereótipo de que o papel da mulher se resume à maternidade e aos cuidados familiares. Além deste papel tradicional, somos também gestoras, empresárias e líderes em diversos setores. Acredito firmemente no reconhecimento das aptidões, capacidades técnicas, soft skills, ferramentas e conhecimentos, independentemente do género, e espero que, num futuro próximo, esta distinção deixe de ser pertinente, permitindo uma avaliação baseada única e exclusivamente no mérito e na competência. Assumi o cargo de COO da LivinGroup aos 28 anos. Integro uma nova geração de executivos, mulheres e homens, que têm a responsabilidade social de liderar pela igualdade de direitos e pela meritocracia, garantindo equipas eficientes e produtivas que conduzam a empresas saudáveis e multidisciplinares. 

Reconheço, contudo, que ainda há um longo caminho a percorrer, sobretudo no que toca à desconstrução do estereótipo de que o papel da mulher se resume à maternidade e aos cuidados familiares. 

Quais foram os maiores desafios que enfrentou ao longo da sua carreira?

Como em tudo na vida, o mais difícil é dar os primeiros passos. Confesso que, quando me estreei no mercado de trabalho, senti alguma dificuldade em perceber qual o meu lugar, o que queria e gostava realmente de fazer. A rotina de tarefas repetitivas e, em muitos casos, a falta de clareza em relação ao planeamento estratégico das organizações, deixava-me com uma sensação de incompletude que me levava a questionar o meu propósito profissional. De facto, é uma fase da vida em que a vontade de mudar o mundo é tão grande, que facilmente nos podemos vir a sentir assoberbados pelas nossas próprias ambições e expectativas. Passei por diversas áreas e setores e, embora não me tenha apercebido na altura, hoje tenho plena convicção de que essa diversidade de experiências me enriquece como profissional, porque me permite uma visão mais rica e multifacetada da gestão e do papel que desejo desempenhar.

Atualmente, o grande desafio passa por continuar a pensar de forma disruptiva e a propor soluções inovadoras num mercado cada vez mais competitivo e num mundo que nos confronta diariamente com um excesso de informação. Apesar da complexidade deste cenário, encontro motivação na constante necessidade de aprendizagem e reinvenção, procurando encarar as dificuldades como oportunidades de desenvolvimento.

projeto LivinGroup
Projeto LivinGroup - Graceful

Como define o seu estilo de liderança e que valores considera essenciais para uma boa gestora?

Frequentar o Executive MBA permitiu-me expandir a perspetiva sobre a gestão de empresas e, em particular, sobre liderança, e adquirir uma visão mais ampla e abrangente. A conceção do líder enquanto ditador de regras encontra-se, felizmente, ultrapassada. No entanto, também não me identifico com um estilo de liderança que se assemelhe ao de ser o "amigo" ou "irmão mais velho", pois, para conduzir bem uma equipa, é igualmente necessário ser capaz de assumir uma postura mais firme se a situação assim o exigir. Considero que o verdadeiro líder é aquele que inspira os outros e, através do seu próprio exemplo, os incita a comprometer-se verdadeiramente com os princípios, valores e cultura da organização que representam. Este líder tem de ser plenamente consciente das suas limitações e estar disposto a aprender com os outros, reconhecendo que o contributo da equipa é fundamental para o sucesso coletivo. Além disso, é fulcral que valores como a transparência, a resiliência, o espírito crítico e a capacidade de ouvir estejam enraizados no seu método de trabalho, pois são, para mim, imprescindíveis na conquista de objetivos comuns e no desenvolvimento de uma liderança verdadeiramente eficaz.

Considero que o verdadeiro líder é aquele que inspira os outros e, através do seu próprio exemplo

Como é ser COO da LivinGroup?

Acima de tudo, é extremamente gratificante. Integrei a equipa LivinGroup há dois anos, com a função de otimizar e liderar o departamento financeiro, mas sempre me preocupei com temas transversais a todas as áreas da organização. Agora, a minha jornada no grupo ganhou um novo capítulo. Assumir a coordenação das operações é um desafio que encaro com a maior seriedade e com a motivação de querer fazer mais e melhor. O grupo é composto por quatro empresas, todas elas bastante dinâmicas e com especificidades que as tornam únicas, o que acaba por nos obrigar a estar constantemente atualizados e a par das tendências de vários mercados, sempre com foco nos valores que nos caracterizam: solidez, competência, excelência, customização e confiança. 

projeto LivinGroup
Projeto LivinGroup - Alhambra

Como COO, assumo a missão de construir um futuro ainda mais promissor e sustentável, através da implementação de novas estratégias e do desenvolvimento constante de soluções eficientes, inovadoras e financeiramente responsáveis, de forma a reforçar o crescimento e a reputação da LivinGroup a nível nacional e internacional.

Como vê a evolução da presença feminina em cargos de liderança e que mudanças ainda são necessárias? Vê diferenças no setor imobiliário e da construção?

É notória a evolução significativa da presença feminina em cargos de liderança, resultado do crescente reconhecimento das competências e da diversidade de perspetivas que as mulheres trazem para as organizações. Contudo, persistem desafios que nos chegam, sobretudo, de gerações passadas, como a diferença salarial entre homens e mulheres em cargos idênticos ou a dificuldade que algumas mulheres enfrentam em subir na hierarquia de empresas mais conservadoras, apesar de apresentarem resultados semelhantes ou superiores aos dos seus pares de sexo masculino. 

Atualmente, creio que a realidade está a mudar e que se tem procurado cada vez mais a implementação de políticas que garantam a equidade de género. No setor do imobiliário e da construção esta mudança de paradigma é cada vez mais visível. Falamos de setores historicamente marcados por uma cultura predominantemente masculina que necessitaram de um esforço adicional para criar ambientes mais inclusivos e propícios à participação ativa das mulheres. É fundamental promover incentivos estruturais, rever práticas de recrutamento e estabelecer políticas que valorizem a diversidade e o talento, independentemente do género, de forma a garantir uma transformação cultural que beneficie não só as mulheres, mas o mercado como um todo.

Creio que a realidade está a mudar e que se tem procurado cada vez mais a implementação de políticas que garantam a equidade de género. No setor do imobiliário e da construção esta mudança de paradigma é cada vez mais visível.

Que conselhos daria a outras mulheres?

O principal conselho que posso oferecer é que não se deixem intimidar pelo facto de serem mulheres.  É essencial traçar objetivos claros e empenhar-se arduamente para os alcançar, sem negligenciar a importância dos estudos e da constante atualização. Não se restringir apenas à área de inserção, mas procurar estar a par de diversos temas, pois essa abordagem enriquece o pensamento e estimula a criatividade – qualidade fundamental na procura de soluções inovadoras. Além disso, é crucial trabalhar num ambiente onde os valores da organização estejam alinhados com os valores pessoais, pois será mais fácil criar um verdadeiro compromisso com a visão da empresa. Sei que parece “cliché”, mas “vestir a camisola” não só cria um sentimento de pertença, como faz realmente toda a diferença na produtividade e felicidade com que se trabalha e isso transparece para as nossas equipas.

A TalentGo é um reflexo do seu compromisso com o desenvolvimento de talentos. O que a inspirou a criar esta empresa?

A TalentGo surgiu na minha vida através de um convite do CEO da LivinGroup, Dr. João Toscano, que me desafiou a criar esta empresa em parceria. É um projeto ambicioso e, a meu ver, extremamente inovador, destinado a estabelecer uma ponte entre as necessidades das empresas e o talento qualificado, disponível para agregar valor. Apesar de ainda se encontrar numa fase embrionária, tem sido gratificante ter a oportunidade de construir uma empresa desde a sua raiz e integrar um modelo de negócio disruptivo e singular no segmento de recrutamento e seleção de profissionais. São estes projetos que, à primeira vista, parecem impossíveis, que realmente nos fascinam e motivam a ultrapassar fronteiras. 

Como equilibra o seu papel na LivinGroup com o seu espírito empreendedor, e a vida pessoal, a nível de conciliação?

Nem sempre é fácil conciliar a carreira com a vida pessoal, mas acredito que o segredo reside na capacidade de estabelecer prioridades e manter um equilíbrio saudável. É natural que, em determinados momentos, seja necessário dedicar maior atenção à esfera profissional, enquanto noutras fases o foco se volte para o círculo pessoal. Contudo, é essencial reservar momentos para o convívio familiar, amizades e interesses pessoais. Para mim, o verdadeiro sucesso profissional passa também pelo reconhecimento da importância de viver experiências que nos permitam desligar da rotina diária, seja através de hobbies, viagens ou simples momentos de lazer. Estas atividades não só enriquecem a vida, como também contribuem para recarregar energias e abrir horizontes, proporcionando uma sensação de realização e bem-estar que, consequentemente, se reflete nos projetos profissionais.

projeto LivinGroup
Projeto LivinGroup - Casa das Nunes

Que mulheres a inspiraram ao longo da sua vida e carreira?

Considero que neste aspeto tenho bastante sorte. Ao longo da minha vida tenho estado rodeada de mulheres fortes e determinadas, que me inspiram e ensinam a “arregaçar as mangas” e lutar pelos meus objetivos e convicções. Desde as mulheres da minha família, às minhas amigas e colegas, todas elas moldaram e enriqueceram o meu percurso.  Não posso deixar de mencionar que os meus irmãos também foram uma fonte de inspiração, especialmente no que concerne à continuidade dos meus estudos e à valorização da formação contínua. Além disso, encontrei diversos líderes e mentores, homens e mulheres, no meio empresarial, alguns deles dentro do meu próprio grupo de trabalho do Executive MBA, que demonstraram que a verdadeira liderança assenta na capacidade de fomentar ambientes colaborativos em que as diferentes perspetivas se completam, criando um recurso valioso. E também o CEO da LivinGroup que, pela sua visão estratégica, coragem e determinação, serviu de exemplo e continua a ser uma fonte de inspiração contínua. Estes novos líderes desafiaram o status quo e implementaram práticas inovadoras, incentivando-me a ultrapassar barreiras e a valorizar a diversidade de pensamento. 

Qual é a sua visão para o futuro da liderança feminina nos negócios?

A minha visão para o futuro da liderança feminina nos negócios é de um cenário onde a diversidade e a inclusão sejam não só valorizadas, mas integradas de forma intrínseca nas estratégias organizacionais. Prevejo um ambiente empresarial composto por profissionais altamente qualificados, não só a nível técnico, mas sobretudo a nível humano, com capacidade de desempenhar papéis estratégicos e contribuir para tomadas de decisão que promovam a inovação e a sustentabilidade. 

A minha visão para o futuro da liderança feminina nos negócios é de um cenário onde a diversidade e a inclusão sejam não só valorizadas, mas integradas de forma intrínseca nas estratégias organizacionais.

Esse futuro passa pela implementação de políticas que favoreçam o desenvolvimento de competências e a igualdade de oportunidades, criando um ecossistema que valorize o talento, independentemente do género. Estou convicta de que, à medida que as barreiras se reduzem, veremos uma transformação cultural profunda que potencia o crescimento e a competitividade das organizações, tornando a liderança consciente num elemento imprescindível para o sucesso e a resiliência dos negócios. Uma liderança humana poderá ser o catalisador para um futuro sustentável das organizações.

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