
Perante a crescente escassez de habitação acessível em Portugal – e em muitos outros países Europa fora –, a construção industrializada começou a afirmar-se como uma solução capaz de transformar estruturalmente o setor imobiliário. Redução de custos, maior rapidez na execução e controlo rigoroso de prazos e qualidade são alguns dos trunfos desta abordagem, que promete colocar no mercado mais casas — e a preços mais acessíveis — num curto espaço de tempo. A First Properties, que nasceu da evolução da 'joint-venture' Sunny Casais, destaca-se neste segmento e quer afirmar-se como referência ibérica neste novo paradigma de promoção imobiliária.
A aposta na industrialização da construção — com soluções modulares, sistemas híbridos de betão e madeira, e uma forte componente de pré-fabricação — permite à empresa responder com agilidade às exigências de um mercado em rápida transformação, sem abdicar da qualidade ou da sustentabilidade, garante Luísa Figueiredo, da First Properties nesta entrevista ao idealista/news.
“A construção industrializada é uma das ferramentas mais eficazes para acelerar a resposta à escassez de habitação, sobretudo em contextos urbanos pressionados. Do ponto de vista da promoção, permite-nos colocar mais rapidamente no mercado produtos residenciais ajustados à procura e com maior controlo de custo e prazo”, sublinha a responsável.
Num contexto em que construir mais e melhor se tornou uma urgência social, a industrialização surge, portanto, como um modelo com capacidade real de resposta. Este sistema minimiza desperdícios, reduz o impacto ambiental e viabiliza projetos com margens mais sustentáveis — tanto para os promotores como para os consumidores —, permitindo “escalar soluções com qualidade e repetibilidade”.
E foi assim que nasceu o conceito de “First Studios”, um modelo baseado na lógica do micro-living. Com ele, a empresa oferece “unidades habitacionais compactas, mas altamente funcionais, integradas em edifícios que disponibilizam áreas comuns alargadas e bem equipadas para uso partilhado”, permitindo uma versatilidade de aplicação, uma vez que “pode ser implementado em projetos residenciais, em regime de arrendamento, ou até conjugado com unidades de hotelaria”.

A First Properties nasce da evolução da Sunny Casais. O que motivou esta mudança de nome e de posicionamento?
A mudança para First Properties é um reflexo natural daquela que tem sido a evolução da nossa estratégia e posicionamento no setor. A Sunny Casais nasceu como uma joint-venture entre o Grupo Casais e a Sunny Real Estate, com o objetivo de explorar soluções diferenciadoras na promoção imobiliária. Ao longo do tempo, essa visão foi amadurecendo, e a industrialização da construção passou a estar no centro da nossa atividade.
Até agora, operávamos sobretudo no segmento B2B, com forte presença na área da hotelaria e em projetos multidisciplinares. Com o crescimento da marca e a diversificação do portefólio, sentimos a necessidade de criar uma identidade mais forte e transversal, que nos permita comunicar de forma mais eficaz também com o público B2C, e afirmar a nossa visão junto de um mercado mais alargado.
Este rebranding não é apenas uma mudança de nome, mas sim a afirmação clara do nosso compromisso com a inovação, sustentabilidade e eficiência. Queremos liderar a transformação do setor imobiliário, desafiando modelos tradicionais, colocando as pessoas e o planeta no centro das decisões, e desenvolvendo soluções integradas que respondam aos desafios habitacionais atuais e futuros.
Queremos liderar a transformação do setor imobiliário, desafiando modelos tradicionais
Quais são, na vossa perspetiva, os principais benefícios da construção industrializada face à construção tradicional?
Para uma promotora como a First Properties, a construção industrializada representa uma alavanca estratégica para tornar os projetos mais rápidos, eficientes e sustentáveis. Este modelo permite-nos responder com maior rapidez, qualidade e sustentabilidade aos desafios do mercado atual — e isso traduz-se em benefícios concretos, tanto para quem constrói como para quem habita.
Desde logo, destacamos a eficiência e previsibilidade do processo. Ao recorrer a componentes pré-fabricados em ambiente controlado, conseguimos reduzir significativamente os prazos de construção, controlar custos e minimizar os desvios em obra.

Além disso, falamos de um modelo mais sustentável e circular. A construção industrializada reduz o desperdício de materiais, promove a reutilização de componentes e diminui a poluição sonora e o impacto nos espaços envolventes. Também aumenta a segurança em obra e reduz o risco de acidentes.
Por fim, este tipo de construção permite maior escalabilidade e repetibilidade de soluções, mantendo elevados padrões de qualidade e adaptando-se às exigências dos diferentes mercados. É uma abordagem que alia o melhor da engenharia e da arquitetura à inovação tecnológica, garantindo um futuro mais sustentável para o setor — e mais acessível para os cidadãos.
O modelo híbrido betão/madeira tem sido uma das vossas apostas. Quais são as vantagens e limitações dessa solução?
O modelo híbrido é uma das principais inovações que temos vindo a implementar e que reflete bem a nossa abordagem à construção industrializada. Esta solução combina a solidez estrutural do betão com as propriedades sustentáveis e leves da madeira de engenharia, resultando num sistema construtivo que é, simultaneamente, robusto, eficiente e ambientalmente responsável.
Entre as principais vantagens, destacamos a redução significativa da pegada de carbono — até 60% quando comparado com edifícios construídos apenas em betão. Utilizamos apenas cerca de um terço do betão tradicional, complementado com madeira certificada, o que contribui para a circularidade dos materiais e menor impacto ambiental ao longo de todo o ciclo de vida do edifício.
Quanto às limitações, é importante reconhecer que ainda existem barreiras culturais e técnicas à adoção em larga escala deste modelo. A regulamentação nem sempre acompanha a inovação, e há um caminho a percorrer em termos de formação de mão de obra especializada e adaptação de processos de licenciamento. No entanto, acreditamos que o futuro passa por aqui, e estamos comprometidos em liderar essa transição.

A escassez de habitação é uma realidade na Península Ibérica. Como é que a construção industrializada pode ajudar a resolver esse problema?
A construção industrializada é uma das ferramentas mais eficazes para acelerar a resposta à escassez de habitação, sobretudo em contextos urbanos pressionados. Do ponto de vista da promoção, permite-nos colocar mais rapidamente no mercado produtos residenciais ajustados à procura e com maior controlo de custo e prazo — dois fatores críticos para garantir acessibilidade.
Do ponto de vista da promoção, permite-nos colocar mais rapidamente no mercado produtos residenciais ajustados à procura
A capacidade de desenvolver projetos com base em sistemas construtivos eficientes dá-nos a agilidade necessária para responder a oportunidades urbanas, tanto em centros como em zonas em crescimento. Ao mesmo tempo, permite escalar soluções com qualidade e repetibilidade, garantindo uma resposta mais ampla e consistente às necessidades de habitação.
O conceito “First Studios” é uma resposta a essa realidade. Podem explicar como funciona e qual o público-alvo?
O conceito "First Studios" surge como uma resposta inovadora às novas necessidades habitacionais e aos desafios da urbanização, especialmente em grandes centros urbanos onde o espaço é limitado e o custo da habitação se torna proibitivo. Este modelo baseia-se na lógica do micro-living: unidades habitacionais compactas, mas altamente funcionais, integradas em edifícios que disponibilizam áreas comuns alargadas e bem equipadas para uso partilhado.
Funciona da seguinte forma: cada residente dispõe de um espaço privado otimizado — com todas as funcionalidades essenciais — e partilha, zonas de lazer, como salas de condomínio, ginásio, espaços de coworking ou áreas verdes com os restantes moradores. Este modelo favorece a criação de um ambiente de comunidade, estimulando a convivência e o uso eficiente dos recursos disponíveis, sem comprometer a privacidade.
O público-alvo dos "First Studios" é maioritariamente composto por jovens profissionais, estudantes, nómadas digitais e casais em início de vida, ou seja, pessoas que valorizam a localização, a mobilidade, o design inteligente e a sustentabilidade. Trata-se de um segmento urbano, cosmopolita, exigente, que procura soluções práticas, acessíveis e alinhadas com um estilo de vida mais flexível e consciente.
Além disso, este conceito permite uma versatilidade de aplicação: pode ser implementado em projetos residenciais, em regime de arrendamento, ou até conjugado com unidades de hotelaria. Esta flexibilidade torna o modelo atrativo também do ponto de vista do investimento, sendo adaptável a diferentes contextos urbanos, regiões e perfis de utilizadores.

A industrialização pode, de facto, contribuir para reduzir o custo final da habitação para o consumidor?
Sim, e esse é precisamente um dos grandes trunfos da industrialização enquanto ferramenta ao serviço da promoção imobiliária. Ao desenharmos os nossos projetos desde início para sistemas industrializados, conseguimos reduzir custos operacionais e minimizar ineficiências típicas da construção tradicional.
Mas mais importante do que isso, conseguimos entregar produtos mais acessíveis sem comprometer a qualidade, o design ou a sustentabilidade.
Além disso, a industrialização permite-nos planear melhor a rentabilidade do projeto, reduzindo o risco de derrapagens que acabam por ser refletidas no preço final para o consumidor.
A longo prazo, os benefícios estendem-se também à operação: edifícios mais eficientes, com menor manutenção e maior durabilidade, significam custos totais mais baixos para quem vive ou investe.
Têm projetos em Oeiras, Montijo, Guimarães, Gaia, Olhão e Tres Cantos. Que outros mercados (nacionais ou internacionais) estão nos vossos planos para os próximos anos?
O nosso foco continuará a ser a Península Ibérica, onde já temos presença consolidada. Pretendemos alargar a nossa atuação em contextos urbanos com potencial de transformação e onde as nossas soluções — residenciais, turísticas ou de investimento — possam trazer valor acrescentado ao mercado local.
Mais do que estar apenas nos centros das grandes cidades, procuramos oportunidades em zonas urbanas emergentes, bem conectadas e com procura sustentada. Estamos atentos a dinâmicas de mobilidade, reconversão urbana e novas formas de habitar, e é nesse cruzamento que queremos continuar a operar.
Como é que o mercado espanhol tem reagido à construção híbrida e modular?
A receção em Espanha tem sido francamente positiva. O mercado espanhol está cada vez mais recetivo a soluções inovadoras que permitam acelerar a resposta aos desafios urbanos e habitacionais, e a construção híbrida e modular tem-se afirmado como uma alternativa sólida à construção tradicional.
Um bom exemplo disso é o projeto do B&B HOTEL Madrid Tres Cantos, promovido pela First Properties construído pela UTE (Unión Temporal de Empresas), entre a CASAIS ESPAÑA DE INGENIERIA Y CONSTRUCCIÓN S.L. (EIC) e a ACR CONSTRUCIONES, SAU,, que foi distinguido em 2024 nos prémios Re Think Hotel como um dos 10 melhores projetos de sustentabilidade e reabilitação hoteleira por executar.
Este reconhecimento evidencia o potencial transformador da construção híbrida — não apenas pela rapidez de execução, mas também pela sua robustez, flexibilidade e desempenho ambiental.

A experiência em Espanha tem demonstrado que o modelo CREE — que combina betão e madeira de engenharia — é perfeitamente adaptável à realidade local, inclusive em edifícios com vários andares e funções diversas, como habitação, hotelaria ou espaços mistos. O mercado valoriza cada vez mais projetos que conseguem aliar eficiência, design e sustentabilidade — e é exatamente isso que levamos para Espanha.
Quais são atualmente os maiores desafios à adoção em larga escala da construção industrializada?
Um dos principais desafios é ainda a mudança de mentalidade no setor imobiliário. Enquanto promotores, sentimos que muitos stakeholders continuam presos a modelos convencionais, com receio de arriscar em soluções inovadoras, mesmo quando estas já demonstram vantagens objetivas.
É um desafio de mudança sistémica — e é nesse processo que queremos estar na linha da frente.
A nível regulamentar, os processos de licenciamento nem sempre acompanham a inovação. A legislação continua muitas vezes pensada para métodos construtivos tradicionais, o que pode dificultar ou atrasar a aprovação de projetos com componentes industrializados ou soluções híbridas.
Por fim, a industrialização exige uma nova abordagem à cadeia de valor: desde o projeto até à obra, passando pela engenharia, arquitetura e fabrico. Isso implica formação técnica especializada, digitalização e uma maior integração entre todos os intervenientes. É um desafio de mudança sistémica — e é nesse processo que queremos estar na linha da frente.

Qual é o grande objetivo da First Properties para os próximos 5 anos?
O nosso principal objetivo para os próximos cinco anos é afirmar a First Properties como uma referência em promoção imobiliária sustentável e industrializada. Queremos liderar a transformação do setor, demonstrando que é possível construir mais e melhor — de forma mais rápida, eficiente e com menor impacto ambiental.
Queremos reforçar a nossa presença em Portugal e Espanha, expandindo o número e a escala dos projetos residenciais, turísticos e de investimento que desenvolvemos, sempre com foco na inovação, sustentabilidade e qualidade.
Paralelamente, pretendemos reforçar o nosso posicionamento B2C, consolidando uma marca reconhecida pela inovação, pela qualidade dos seus projetos e pelo impacto positivo que gera nas comunidades onde atua.
Nos próximos anos, continuaremos a investir na digitalização, na sustentabilidade e na colaboração com parceiros estratégicos, com o objetivo de desenhar soluções integradas, flexíveis e orientadas para o futuro.

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