Casas sociais e sustentáveis em Londres centram vida em comunidade

No coração do bairro londrino de Haringey, onde o solo escasseia e o crescimento urbano ameaça a homogeneização, surgiu um modelo habitacional que demonstra que a sustentabilidade não entra em conflito com a dignidade, a estética e o bem-estar.

O complexo Edith Road, em Londres, responde às necessidades de habitação social com uma abordagem inovadora, visando emissões líquidas zero de carbono e um design que devolve o protagonismo à comunidade.

Richard Chivers

Arquitetura ao serviço das pessoas

O pequeno terreno devoluto disponível transformou-se, para o atelier Satish Jassal Architects, numa oportunidade para reinventar o desenvolvimento urbano em zonas densamente povoadas, apostando num esquema que integra três blocos ligados por um pátio comum, dando lugar a cinco apartamentos, um dúplex e duas moradias geminadas — todos orientados para um espaço partilhado que constitui “o coração do complexo”.

Um dos pontos-chave deste projeto é que não se limita a cumprir os padrões existentes: ultrapassa-os largamente. Tal como explica o atelier: “O design enfrenta o desafio de conciliar a relação, muitas vezes desconexa, entre o tecido urbano tradicional e o moderno”.

Espaços exteriores Richard Chivers

Para isso, foi adotada uma forma triangular que se funde com o ambiente envolvente, incorpora vistas amplas e contribui para a continuidade da paisagem urbana. O resultado é um conjunto que se integra com as casas vitorianas vizinhas através da utilização do tijolo vermelho, mas introduz elementos contemporâneos, como detalhes em pedra e grades metálicas inspirados no caráter histórico do bairro.

Habitações conectadas

Além da fachada, o Edith Road destaca-se pela qualidade de vida que proporciona aos seus residentes — cada habitação foi concebida com dupla ou tripla orientação, o que melhora a ventilação natural, o aproveitamento da luz solar e a ligação visual com o parque próximo.

Richard Chivers

Além disso, todas as casas dispõem de espaços exteriores: os rés-do-chão contam com jardins privados, enquanto os andares superiores têm varandas amplas. Estes espaços privados são complementados por um pátio central comunitário, cuidadosamente concebido com zonas ajardinadas e uma pequena horta, com o objetivo de promover a interação entre vizinhos e criar um ambiente de apoio mútuo.

O acesso ao conjunto faz-se através de um núcleo envidraçado, onde uma escada liga os pisos superiores ao pátio interior. Este acesso aberto reforça a ideia de transparência e convivência, sem barreiras visuais ou físicas.

Richard Chivers

Sustentabilidade real

A grande aposta do projeto reside no seu compromisso com o meio ambiente. Graças a uma envolvente térmica de alto desempenho, painéis solares fotovoltaicos e bombas de calor aerotérmicas, o complexo consegue uma redução de 104% nas emissões de carbono em relação aos critérios definidos pela Autoridade da Grande Londres (GLA).

Por outras palavras: não só não polui, como compensa mais do que consome. Segundo o ateliê responsável, “a escolha dos materiais não é meramente uma decisão estética, mas sim uma parte integrante da identidade do edifício, da sua sustentabilidade e do seu diálogo com o tecido urbano”.

Richard Chivers

O bloco mais pequeno do conjunto foi reservado como espaço de arrumação para bicicletas, uma decisão coerente com a visão de reduzir a pegada de carbono associada ao transporte.