Há um encanto melancólico em percorrer corredores vazios, quartos empoeirados e salões luxuosos – locais onde reinava o requinte e agora reina o silêncio. Em Portugal, vários hotéis abandonados que outrora prometiam glamour e conforto transformaram-se em ruínas silenciosas.
Alguns fecharam por falências, outros, por má gestão ou mudanças sociais e turísticas. Visitar estes espaços desperta muita curiosidade. Há quem vá explorar as salas vazias e quem recorde os dias de glória. Mas por detrás das fachadas partidas há histórias de sonhos grandes demais, de crises e de abandono. Neste artigo damos-te a conhecer os 6 hotéis portugueses foram apagados com o tempo.
Hotel Monte Palace, Ilha de São Miguel, Açores
O Hotel Monte Palace está situado na zona da Vista do Rei, sobre as encostas da cratera que forma a Lagoa das Sete Cidades, na ilha de São Miguel, nos Açores – um dos cenários naturais mais icónicos e reconhecíveis do arquipélago.
A unidade hoteleira abriu em abril de 1989, com ambições de luxo e conforto, projetada para servir tanto turistas atraídos pela beleza natural da região como um público exigente em termos de serviços.
Quando estava em funcionamento, o Monte Palace destacava-se pelo seu perfil cinco estrelas, com um edifício de cinco pisos, e uma área construída de cerca de 14 mil metros quadrados (m2), inserida em 50 hectares de paisagem natural.
A oferta era ampla e variada, com:
- 88 quartos no total, divididos entre 52 suítes júnior, 27 quartos duplos, 4 quartos duplos com saleta, 4 suítes de luxo e 1 suíte presidencial;
- Dois restaurantes, discoteca, loja, bar, cabeleireiro, tabacaria, loja de lembranças e quatro salas de conferência;
- Infraestruturas pensadas para o lazer e conveniência: a localização privilegiada, a magnitude do edifício e os serviços premium tornavam o hotel num ponto de referência;
Em 1990, a apenas cerca de um ano após a abertura, o Monte Palace conquistou o prémio de Hotel do Ano em Portugal.
A queda e o abandono prolongado
Apesar dos elogios e da distinção, o luxo não foi sinónimo de sustentabilidade. Passados cerca de 18 meses, o hotel declarou falência.
Com o encerramento, o edifício passou a ser alvo de abandono e vandalismo. Meses depois não havia praticamente nada dos antigos luxos: os móveis e decorações foram removidos ou destruídos.
Apesar de, até 2010, ter existido segurança permanente no local, a deterioração não foi travada – o edifício transformou-se numa ruína visível do alto da encosta, contrastando com o esplendor natural da Lagoa das Sete Cidades.
Planos de reabilitação: será o fim da história?
Em 2017, o imóvel foi adquirido por um grupo chinês, a Level Constellation, com a intenção de recuperar e reconverter o antigo hotel. O plano anunciado incluía a reabertura como unidade hoteleira, mantendo o traço arquitetónico original.
As promessas para o novo projeto são ambiciosas. Além da tradicional oferta hoteleira, o futuro empreendimento deverá incluir um centro de ciência, um spa, espaços organizados para atividades na natureza (como “hiking” e “birdwatching”), e um rooftop com vista sobre a lagoa.
Segundo a promotora, com a reabilitação, o número de quartos será expandido. A proposta recente aponta para cerca de 132 unidades, contudo, até à data, o projeto ainda depende de aprovações municipais e de definição de operador hoteleiro. A incerteza e a curiosidade sobre se o hotel voltará ao mapa turístico dos Açores permanecem.
Hotel do Parque, Gerês
O Hotel do Parque foi fundado no final do século XIX – oficialmente a sua génese remonta a 1892, altura em que um chalé era destinado apenas a hospedar pessoas que fossem para as termas do Gerês, contudo, foi alargado para dar lugar ao que se tornaria o hotel.
O hotel era considerado o mais emblemático da vila termal continha jardins e bosques com árvores de sombra, cascatas, nascentes de água potável e um parque que prometia ser “único no país”.
Estrutura, serviços e prestígio ao longo de décadas
A unidade hoteleira destacava-se por oferecer comodidades de prestígio, próprias de um destino de luxo na serra. Havia salas de estar, áreas de lazer, zonas ajardinadas e facilidades associadas à tradição termal do Gerês.
Era procurado por quem visitava as termas, herdando uma tradição histórica que remontava aos romanos, aproveitando não só os banhos, mas também o ambiente da serra e a natureza em redor.
Durante grande parte do século XX, o hotel funcionou como referência turística e termal, acomodando visitantes à procura de cura, repouso e lazer.
Declínio, abandono e demolição
A partir da década de 1990, o declínio do termalismo – aliado a alterações no turismo e nas preferências dos visitantes – abalou a viabilidade de muitos hotéis tradicionais no Gerês e o Hotel do Parque não escapou. A procura diminuiu e os custos de manutenção elevados tornaram o seu modelo insustentável.
Em 1997, o hotel encerrou portas definitivamente, iniciando-se um período de abandono prolongado em que a estrutura começou a degradar-se seriamente.
Durante cerca de duas décadas, o edifício permaneceu devoluto, sem manutenção, perdeu o telhado, sofreu infiltrações, vandalismo e degradação crescente.
Na noite de 20 de abril de 2016, parte da fachada colapsou, com blocos de pedra a caírem para a via pública, obrigando a encerrar a estrada e a evacuar o local como medida de segurança. Como consequência, o edifício foi declarado perigoso e a câmara municipal e os proprietários decidiram pela demolição total, encerrando de vez a história deste ícone da hotelaria minhota.
Hotel Boavista, Curia
O Hotel Boavista nasceu de um antigo Chalé Pinheiro, construído em 1917, propriedade do Coronel Pinheiro. Mais tarde, em 1923, a Sociedade das Águas da Curia adquiriu o chalé e mandou ampliá-lo, transformando-o num hotel.
A expansão deu ao edifício características bem marcadas:
- Uma torre cilíndrica numa das alas;
- Um alpendre semi-circular (balcão/terraço) na entrada;
- Vitrais nas portas;
- Um estilo arquitetónico que combinava elementos clássicos com a elegância da Belle Époque.
Durante décadas, o Hotel Boavista foi sinónimo de elegância e bem-estar. Fazia parte da estância termal da Curia, popular em meados do século XX, beneficiando das águas termais, do sossego da natureza da Bairrada.
Estrutura e comodidades: um hotel de referência
Quando funcionava a pleno, o hotel oferecia:
- Quartos e áreas comuns com padrão elevado, compatível com o turismo de luxo da época;
- Acesso privilegiado às termas e ao balneário das águas da Curia, o que era um grande atrativo para quem procurava repouso, terapias ou lazer termal;
O fim da era termal e o fecho do hotel
Como muitas unidades termais portuguesas, o Hotel Boavista acabou por sofrer com o declínio do termalismo. A procura diminuiu, os custos de manutenção aumentaram e o turismo mudou – variedades de alojamento mais modernos e económicas contrastavam com o modelo tradicional do hotel.
Com o tempo, a falta de ocupação e os elevados encargos levaram ao fecho do hotel. Desde então, o edifício não teve reabilitação eficaz nem uso contínuo, entrando num processo lento de degradação.
Hotel inacabado do Louriçal
O Hotel inacabado do Louriçal situa-se entre Pombal e Soure, na localidade do Louriçal, no distrito de Leiria, região do Centro de Portugal. As obras começaram nos anos 90 com ambição de criar um hotel moderno, destinado a beneficiar da localização central, talvez como um ponto de paragem ou alojamento para quem circulasse pela região. Porém, o projeto nunca se concretizou. Problemas de financiamento e falhas no licenciamento obrigaram à suspensão definitiva da obra.
Hoje, o edifício “inacabado” permanece como um esqueleto visível. Paredes erguidas, estrutura em betão, mas sem sinais de conclusão. A unidade nunca chegou a funcionar, tornando-se numa ruína semi-acabada que assombra o imaginário local.
Palacete do Mondego, Penacova
O Palacete do Mondego encontra-se no concelho de Penacova, distrito de Coimbra, numa zona conhecida como Monte da Senhora da Guia, a poucos metros do miradouro Emídio da Silva, de onde se obtém uma vista desafogada sobre o rio Mondego e toda a vila.
Originalmente, o edifício era um preventório ou seja, um sanatório idealizado nos anos 30 para tratar problemas respiratórios e doenças como a tuberculose.
Nas décadas seguintes, deixou de cumprir essa função e o imóvel foi abandonado até que, em 2001, foi convertido em hotel com o nome “Palacete do Mondego”, numa tentativa de transformar o passado de hospital em oferta de turismo e alojamento.
A reabertura como hotel visava aproveitar a localização – natureza, paisagem sobre o Mondego, proximidade de recursos naturais e tranquilidade – como argumentos para atrair visitantes interessados num turismo de charme.
Glória curta: funcionamento e encerramento
Quando transformado em hotel, o Palacete do Mondego abriu em janeiro de 2002. A unidade hoteleira tinha classificação de três estrelas e incluía quartos, suítes, uma piscina exterior, sala de refeições e um miradouro sobre o rio, o que o tornava promissor para turismo de relaxamento e lazer.
No entanto, a sua vida foi breve. O hotel fechou portas em 1 de novembro de 2007, quando a empresa concessionária rescindiu o contrato com a entidade proprietária, deixando 11 funcionários desempregados e encerrando oficialmente o serviço. Desde então, o edifício foi largado ao abandono.
O que está planeado para o futuro?
Em 2024, surgiu uma luz de esperança para o Palacete do Mondego. O grupo Vila Galé adquiriu o imóvel com o plano de transformá-lo numa unidade de quatro estrelas.
O projeto – que integrará também um antigo hospital devoluto nas proximidades – poderá representar o maior investimento turístico dos últimos anos no concelho de Penacova, com potencial para dinamizar a economia local e reverter décadas de abandono.
Segundo o presidente da câmara local, esta aposta pretende responder a uma procura crescente por turismo de natureza, descanso e paisagens sobre o Mondego, valorizando o território e suas potencialidades.
Antiga Estalagem de Seia, Serra da Estrela
A Antiga Estalagem de Seia foi, em tempos, um dos alojamentos destinados a visitantes da Serra da Estrela, ideal para quem chegava ao concelho de Seia à procura de montanha, natureza e lazer serrano. Contudo, há mais de uma década que o edifício está fechado e abandonado.
Com o declínio do turismo tradicional e das termas, e face à concorrência de alojamentos mais modernos, o hotel deixou de ser sustentável. As sucessivas tentativas de reabilitação, projetos de venda ou reconversão nunca avançaram de forma concreta. Com o abandono prolongado, o edifício entrou em degradação significativa: infiltrações, fachada coberta de musgo, partes interiores vandalizadas.
Localização estratégica com destino incerto
Situada em Seia, a estalagem beneficiava da proximidade com a Serra da Estrela – ideal para quem procurava neve, natureza e escapadinhas de montanha. Seia é uma das portas de entrada para a serra e mantém uma forte tradição no turismo de natureza.
Apesar da sua localização e potencial, o abandono prolongado deixou o edifício sem utilização e à espera de um destino. As memórias de hóspedes e turistas contrastam hoje com portas fechadas, janelas partidas e ausência de manutenção. O que restava de vida hoteleira transformou-se em silêncio e desgaste, um retrato da mudança de hábitos turísticos e dos desafios de reter investimento no interior.
O que o futuro reserva?
Recentemente, surgiu um plano de reabilitação. A antiga Estalagem de Seia será transformada no Hotel Gelo – um empreendimento turístico de 4 estrelas. O projeto, a cargo da empresa Soberba e Aprazível, Lda., representa um investimento de mais de 4,4 milhões de euros, com apoio de fundos europeus. O plano prevê:
- 57 unidades de alojamento distribuídos no edifício reabilitado;
- Restaurante, spa (sauna e banho turco), zona de massagens, piscina aquecida, ginásio;
- Infraestruturas diferenciadoras para a serra: pista de gelo, zona para ski/trenó, campos de padel e bar temático – visando atrair turistas durante todo o ano, não apenas na época de neve;
- A aprovação oficial do projeto foi dada pela câmara municipal, com prazo de conclusão previsto para março de 2028.
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