O atual cenário da habitação em Portugal e Espanha é de escassez de oferta. Não há casas suficientes para atender à alta procura, motivo pelo qual os preços sobem. Esta situação está a limitar as escolhas das famílias, de viver numa casa própria ou arrendada, e a melhor forma de criar poupança e constituir património. É o que diz o sociólogo espanhol Jorge Galindo assumindo que, hoje, “o arrendamento tornou-se uma armadilha que impede poupar”. E explica o porquê ao idealista/news.
É neste contexto que o autor espanhol do livro "Três Milhões de Casas: Como Passar da Escassez à Abundância", sublinha a necessidade de construir mais casas, e de forma mais rápida, para atender à atual procura no país vizinho. Até porque “como há escassez, a habitação não é acessível”, aponta. Este é, de resto, um panorama similar ao cenário da habitação em Portugal.
Na sua visão, seria importante que, “primeiro, as pessoas pudessem escolher o que é mais acessível para elas, seja viver de uma forma ou de outra [comprar ou arrendar], e segundo, que as pessoas pudessem escolher a melhor forma de poupar e construir património”. Mas, hoje, “é evidente que nenhuma destas condições se verifica” em Espanha, avalia.
É por isso que Jorge Galindo diz que em Espanha “estamos a assistir a um aumento da percentagem de pessoas a viver em casas arrendadas devido à dificuldade de acesso à casa própria, causada pela escassez de habitação. E também estamos a assistir ao que poderíamos chamar de armadilha do arrendamento, porque não permite que as pessoas poupem. Este é o pior dos mundos possíveis”, lamenta.
“Arrendar casa tornou-se uma armadilha para a poupança, porque se o arrendamento é muito caro e a entrada para comprar uma casa é muito alta, não se consegue economizar se os salários não forem aumentando”, explica o sociólogo espanhol identificando três problemas principais: rendas muitos caras, entradas para os créditos habitação muito altas e salários que só agora estão a começar a subir um pouco para os jovens.
Este é um cenário no qual também se encontra Portugal, onde o esforço financeiro exigido para arrendar uma casa continua bem mais elevado (83%) do que o necessário para comprar casa (70%), segundo os dados do terceiro trimestre de 2025 do idealista. Com as rendas a pesar tanto nos rendimentos líquidos médios dos agregados familiares, sobra pouca margem para poupar para dar de entrada no crédito habitação.
Importa lembrar que no nosso país os jovens até aos 35 anos têm apoios para comprar casa, como a isenção de IMT e a garantia pública, que financia empréstimos para a compra de casa própria a 100%, não sendo necessário dar entrada. Mas esta última ajuda vem com um senão: os jovens ficam a pagar prestações da casa mais elevadas, o que pesa mais nos seus salários e limita a sua capacidade de poupança.
Por outro lado, os preços das casas para comprar em Portugal estão a subir a um ritmo muito mais acelerado do que as rendas, dificultando o acesso a este mercado residencial pelos jovens e ainda mais por outros potenciais compradores acima dos 35 anos que não possuem quaisquer ajudas do Estado.
Como sair da “armadilha” do arrendamento?
Para sair desta situação, Jorge Galindo aponta três pontos essenciais a mudar: “O arrendamento precisa ser mais acessível, as entradas precisam ser mais fáceis de obter e os rendimentos precisam aumentar de forma mais rápida”. É preciso chegar a um “novo mundo” que precisa de ter “habitação acessível e mais opções para gerar riqueza”, resume.
Na visão do sociólogo, as novas medidas aprovadas pelo Governo espanhol - que vêm regular o mercado com novos tetos de preços, por exemplo – não ajudam a chegar a esse “novo mundo”. “Acredito que a regra de ouro que estamos a deixar de seguir é evitar a implementação de quaisquer medidas regulamentares que reduzam a disponibilidade de casas para arrendamento de longo prazo, que é, teoricamente, o nosso objetivo”, sintetiza.
Nesta entrevista ao idealista/news, Jorge Galindo sugere um conjunto de medidas que podem ajudar a incentivar a criação de mais oferta no mercado de arrendamento espanhol:
- Mais habitação social;
- Tornar o “mercado mais funcional com seguro contra o incumprimento no arrendamento, no qual o Estado tenha uma participação significativa e compartilhe o risco em vez de transferi-lo para o proprietário”;
- Considerar “modelos com uma intermediação estatal ainda maior entre proprietário e inquilino. Por exemplo, se acreditarmos que os arrendamentos turísticos em áreas específicas reduzem a oferta de imóveis residenciais para arrendamento de longo prazo, poderíamos (…) criar impostos que desestimulem os arrendamentos turísticos nesses locais específicos e, em contrapartida, incentivem os arrendamentos de longo prazo".
O sociólogo espanhol acredita que todas estas medidas fazem “mais sentido do que o controlo de preços ou restrições de licenciamento” que o Governo quer implementar no seu país.
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