O idealista/news esteve na goodmood, em Algés, para falar sobre as vantagens da construção com aço galvanizado.
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Pedro Gois (Colaborador do idealista news) ,
Joana Malaquias (Colaborador do idealista news)

É cada vez mais comum ver construções com estrutura em aço galvanizado, mas ainda existem muitas dúvidas em relação a este “sistema inovador para fazer construções tradicionais”. O arquiteto Alexandre Ribeiro e o seu irmão quiseram, desde o primeiro dia, construir de forma diferente “com um índice de sustentabilidade muito grande”.

“Existiu, desde o início, uma expressa vontade de inovar e modernizar no setor, com um serviço integrado, profissional e personalizado, e materiais distintos dos mais frequentemente aplicados", explica ao idealista/news para para a rubrica “Em casa do arquiteto”.

A goodmood surgiu em 2010, e para além dos sócios fundadores, juntaram-se à equipa Joana Inácio, marketing e design de interiores, e Diogo Botelho, na modelação 3D e archviz.

Alexandre Ribeiro recebeu-nos no novo escritório da goodmood em Algés, uma espécie de casa com materiais utilizados na construção com aço galvanizado - LSF (Light Steel Frame) -, para uma conversa sobre a forma como este tipo de construção pode ser uma resposta para as preocupações de sustentabilidade, mas também de enorme grau de conforto, personalização e beleza.

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idealista/news

Sempre sonhou ser arquiteto?

Foi sempre um sonho e trabalhei nesse sentido desde muito cedo, tanto na própria formação, como também alguma cultura visual. Todas as coisas são necessárias para podermos hoje fazer aquilo que fazemos.

Sempre foi uma atividade que me fascinou bastante: conceber espaços onde as pessoas vivem.

Como nasceu o projeto goodmood? Quem faz parte desta história?

A goodmood começa em 2009/2010, porque inicialmente e no pós-faculdade nós trabalhámos em vários sítios, em vários ateliers, tanto nos estágios como depois profissionalmente. A equipa é constituída por mim, pelo meu irmão, como fundadores, e uma terceira pessoa que já cá não está, que nos ajudou a fundar a empresa. Depois temos a Joana e o Diogo, que fazem parte do “core” da empresa.

O meu irmão, nessa altura, acaba o curso de design industrial nas Caldas e nós juntamo-nos precisamente para um projeto de arquitetura e design um bocadinho diferente daquilo que se fazia na altura. Quisemos repensar um bocadinho algumas das coisas que vínhamos a experimentar e criámos a goodmood nesse sentido, logo desde o início, para fazer algo diferente.

Em que aspetos é que se queriam diferenciar?

A ideia foi logo, desde o início, trabalharmos tanto na solução técnica como até na parte conceptual, a nível arquitetónico, em espaços que não fossem a continuação do que se fazia. Normalmente a construção tradicional baseia-se num sistema pórtico de betão armado, numa estrutura relativamente conhecida por todas as pessoas.

Na altura, em 2009/2010, atravessando o país a crise que estava a atravessar, nós concebemos umas unidades especiais que eram pré-fabricadas em estaleiro, off-site, e depois eram colocadas em obras já todas concluídas, ou seja, na realidade acabava por ser uma instalação em obra mais do que uma construção. Foi aí que contactámos com diversos sistemas construtivos, lá está, muito diferentes daquilo que era o sistema tradicional, e depois acabámos por adotar o aço galvanizado como um dos sistemas que hoje mais praticamos e mais usamos nas nossas casas, às vezes até pequenas reabilitações, onde pode haver o interesse de usar esse sistema construtivo, que acaba por ser uma solução técnica com índice de sustentabilidade muito grande e com algumas das características que nós privilegiamos, a nível de rapidez, pouca utilização de recursos, etc.

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Há muita capacidade de industrialização, daí também a intervenção do meu irmão ser muito grande nessa área, por causa da questão da industrialização da construção. Nesse sentido, acabamos por ficar com o aço galvanizado como o sistema que nós hoje mais trabalhamos.

Quais são de facto as vantagens, as mais-valias, desta outra forma de fazer construção tradicional?

Para nós, a grande questão é realmente a questão da sustentabilidade, ou seja, estamos a trabalhar com um sistema seco, um sistema que não requer uma utilização de água muito grande, ou seja, é completamente irrelevante comparada com um sistema mais tradicional. Por outro lado, acaba por ter um conjunto de características térmicas muito interessante para o nosso país.

Nós conseguimos ter uma alta classificação energética sem nenhum tipo de aquecimento, sem nenhum tipo de sistema mecânico de aquecimento ou arrefecimento de um espaço.

Todos os países, dada a sua localização e a sua condição a nível de conforto térmico, têm os seus requisitos. No nosso caso, o aço galvanizado consegue oferecer um conforto espacial muito grande e isso é uma grande mais-valia, além de todas as outras: o ser mais rápido, o ser um sistema que se pode industrializar com alguma facilidade.

Isto aliado a um projeto que já é desenhado e concebido nesse sentido, acaba por trazer aqui um impacto no nosso ambiente muito menor do que muitas outras construções que existem no mercado.

Para nós, desde o início, que era uma mais-valia, não só porque o mercado nos estava a exigir isso, mas também porque nós estamos preocupados com isso, e aliar as duas coisas foi muito importante.

Como funciona o LSF em termos de custo?

Uma boa construção em sistema tradicional acaba por ter hoje o mesmo preço de uma boa construção em aço. Mas o mercado ainda alimenta muito essa expectativa, e nós temos esses contactos diariamente, acham que a construção em aço leve é uma construção mais barata, quando na realidade nós estamos a investir muito menos em mão de obra, mas muito mais em materiais, porque os materiais são de facto mais caros, mas estamos principalmente a investir numa construção que nos permite, ao longo do tempo de vida útil de um edifício, ter poupanças em termos de energia incomensuráveis.

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Uma casa pode ter 200/300 euros de custo energético mensal, enquanto uma casa que não tenha nenhum sistema de aquecimento mecanizado, que trabalhe apenas com o sol, é uma pequena percentagem desse valor.

O custo energético do aquecimento do espaço é talvez um dos maiores impactantes no planeta. E nós conseguirmos, através do processo de decisão dos clientes e da nossa prescrição, diminuir em parte aquilo que é talvez o maior impactante em termos de consumo de energia.

Há alguma linguagem comum nos vossos projetos?

Sim, nós temos sempre uma abordagem ao problema, porque acaba por ser sempre um problema quando o cliente chega a nós. É tentar, com o programa que nos é dado, de uma forma simples resolvê-lo e fazermos com que o espaço seja um bocadinho aquele ator que está permanentemente na nossa vida, mas não tenta falar connosco.

Tentamos que a nossa arquitetura tenha essa simplicidade e tenha esse minimalismo do ponto de vista estético e do ponto de vista espacial.

Como é ter um atelier em Portugal?

Em Portugal não é fácil trabalhar nesta área a nível daquilo que é conceber um projeto, aprovar um projeto, chegar à obra, atravessar todo aquele oceano de entidades e de pessoas.  Depois disso, temos toda a parte da obra, que tem os seus desafios próprios, desafios que têm a ver com a mão da obra, com os materiais, e o planeamento é muito importante.

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Nós aqui temos uma grande dose de planeamento, precisamente por causa disso, porque não podemos deixar que as obras fiquem à espera de um material, ou fiquem à espera de uma parte de uma infraestrutura que é necessário instalar. Quando vamos para a obra, já temos tudo aquilo que é necessário fazer, tudo pré-definido, os mapas estão feitos, ou seja, existe um grande trabalho de projeto de excursão que obviamente tem vindo a ser apurado ao longo do nosso trabalho e que ajuda muito em obra.

O processo de decisão em obra tem que ser inexistente, tem que ser tudo decidido antes para que a obra seja basicamente a execução de um projeto que já está concebido e decidido.

Como é que os arquitetos podem contribuir para a solução do problema da habitação nos grandes centros?

A habitação nos grandes centros depende muito do conceito de habitação que nós estamos a falar, porque aquilo que nós temos estado a assistir, pelo menos aqui no nosso atelier, é que há muita gente que está a deixar de viver no centro. 

Há muita gente que está a privilegiar um tipo de vivência que não se faz no centro, faz-se na periferia de Lisboa.

Há muita gente que tinha uma vida dentro de Lisboa, ou dentro dos grandes centros urbanos, que não correspondia à expectativa de vida urbana que nós muitas vezes temos. Há muita gente que está a tomar essa decisão e nós estamos a acompanhar essa criação de algumas comunidades, até em pequenas zonas, e estamos a conseguir ajudar a que essa transição se faça.

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Pegar numa família que tem um conceito de vivência urbano e transportá-la para uma zona completamente rural, conceber um espaço que tenha ao mesmo tempo algumas dessas valências, mas por outro lado consegue potenciar uma vivência que não é urbana, é muito interessante.

O desafio da habitação passa por vermos as coisas não só nos centros urbanos, mas um bocadinho fora daquilo que são os centros urbanos. A pandemia veio, feliz ou infelizmente, acentuar muito esse aspeto.

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