
Aquele que é considerado o maior encontro da Igreja Católica vai decorrer entre dia 1 e 6 de agosto em Lisboa e contará com a presença do Papa Francisco. Os preparativos para realizar a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) já estão a decorrer e com polémicas à mistura, no que diz respeito aos gastos da construção do altar-palco que superam os 4 milhões de euros. Mas os 155 milhões de euros que a Igreja Católica, o Governo e os municípios de Lisboa e de Loures vão gastar para organizar o evento deverão ter um retorno económico para o país de cerca do dobro, estimam. Até porque são esperadas 1,5 milhões de pessoas no evento que vão impulsionar o turismo da capital de Portugal. Os preços dos alojamentos já estão bem mais caros e a oferta começa a escassear, tal como mostram os dados da Rentalia.
As principais cerimónias Jornada Mundial da Juventude vão ter lugar no Parque Tejo, a norte do Parque das Nações, na margem ribeirinha, em terrenos dos concelhos de Lisboa e Loures. Estão já pré-inscritos mais de 420 mil peregrinos na JMJ, mas são esperadas na capital cerca de 1,5 milhões de pessoas.
Para realizar este evento de grande dimensão, que contará com a presença do Papa Francisco, está previsto investir um total de 155 milhões de euros. Os custos da JMJ têm estado sob os holofotes mediáticos depois de ter sido conhecido que a construção do altar-palco no Parque Tejo, a cargo do município da capital, foi adjudicada à Mota-Engil por 4,24 milhões de euros (mais IVA), somando-se a esse valor 1,06 milhões de euros para as fundações indiretas da cobertura.
A polémica em contorno dos custos da construção do altar-palco tem sido tal que o Vaticano já se pronunciou sobre o tema, esclarecendo que não tomou qualquer decisão sobre a construção da estrutura. Segundo frisou o diretor do gabinete de imprensa, Matteo Bruni, “a organização do evento é local” e, por isso, a decisão sobre o custo recai sobre o município lisboeta. Em reação a toda a polémica, Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, pediu a revisão dos preços e dos projetos JMJ e garantiu que, a partir de agora, vai coordenar “tudo diretamente”.
Ficar alojado em Lisboa na semana da JMJ: resta pouca oferta disponível e mais cara do que o habitual
A verdade é que todos os investimentos e constrangimentos associados aos projetos da JMJ deverão valer a pena, já que o evento, ao atrair mais de 1,5 milhões de pessoas, será um importante motor do turismo em Portugal este verão e uma projeção do país no mundo. Mas quem quiser participar neste grande evento da Igreja Católica e precisar de alojamento terá de se preparar para pagar preços mais elevados.
Segundo os dados da Rentalia – plataforma de alojamentos de curta duração do idealista – o preço médio das casas turísticas em Lisboa durante a semana da JMJ, de 1 a 6 de agosto, é de 49,5 euros por pessoa por noite. Este valor é 14,6% superior ao registado na semana anterior ao evento e 20,7% mais elevado do que a média de preços registada na semana seguinte. Contas feitas, passar cinco noites em Lisboa para participar na JMJ poderá custar, em média, quase 250 euros por pessoa.
Os turistas que quiserem arrendar uma casa durante a semana da Jornada Mundial da Juventude vão deparar-se com uma menor oferta, já que quase 3 em cada 4 casas já estão reservadas, indica ainda a Rentalia. Isto é, 73,1% da oferta de alojamentos em Lisboa nesta plataforma já não está disponível.

Quais são os investimentos previstos para a Jornada Mundial da Juventude?
A realização da Jornada Mundial da Juventude em Lisboa, em agosto, tem um custo estimado de, pelo menos, 155 milhões de euros, segundo as estimativas mais recentes da Igreja Católica, do Governo e dos municípios de Lisboa e Loures.
Só a Câmara de Lisboa vai investir “até 35 milhões de euros na exigente criação de condições para os diferentes eventos” integrados na JMJ, tal como confirmou na semana passada pelo presidente da autarquia. A maior de fatia do investimento, de 21,5 milhões de euros, destina-se ao Parque Urbano Tejo-Trancão, onde vai ocorrer:
- a reabilitação do aterro sanitário de Beirolas (7,1 milhões);
- a montagem de um altar-palco (4,24 milhões, sem IVA e sem incluir as fundações), com nove metros de altura e capacidade para 2.000 pessoas, que está a cargo da Mota-Engil e tem sido alvo de críticas;
- a construção de uma ponte pedonal sobre o rio Trancão (4,2 milhões);
- construção de infraestruturas e equipamentos de saneamento, abastecimento de água e eletricidade (3,3 milhões).
Para financiar investimentos emergentes do evento – que não inclui palcos ou altares – a Assembleia Municipal de Lisboa prepara-se para aprovar um empréstimo de médio e longo prazo de 15,3 milhões de euros. Este valor destina-se à empreitada do Parque Tejo-Trancão (cerca de 10 milhões de euros), à construção da rede ciclável-ciclopedonal JMJ (3,7 milhões de euros) e ao parque de estacionamento JMJ (cerca de 1,3 milhões de euros), escreve o Expresso.
Em resposta às duras críticas sobre os investimentos associados à JMJ, em particular à construção do altar, Carlos Moedas pediu esta segunda-feira, dia 30 de janeiro, a revisão dos preços e dos projetos relativos ao evento. “Eu pedi a todos que olhem novamente para os preços, que olhem novamente para todos os projetos”, afirmou, sublinhando que há que garantir que os “palcos têm segurança”. Para garantir que tudo corre como previsto, o autarca de Lisboa frisou que “vai coordenar diretamente tudo aquilo que será feito a partir de agora”.
Por parte da Câmara Municipal de Loures está previsto um investimento de 10 milhões de euros, que serão aplicados à modelação do terreno, na construção de uma ponte ciclopedonal (Loures-Lisboa), no plano de drenagem e na execução de passagens hidráulicas, acessos e mobilidade.
Governo vai investir mais de 30 milhões e Igreja Católica 80 milhões de euros
Neste evento, o “Estado participará também através do apoio, nomeadamente, na área da saúde, segurança, socorro e mobilidade", explicam em comunicado. Os investimentos previstos pelo Governo português na JMJ ascendem aos 30 milhões de euros (sem IVA), segundo as dados divulgados no passado fim de semana.
Segundo o comunicado divulgado pelo Executivo de António Costa, os compromissos poderão ir “até aos 21,8 milhões de euros” (incluindo a aquisição de torres multimédia, instalações sanitárias, transmissão televisiva, abastecimento de água, ponte militar, promoção do país no estrangeiro, centro de comando e segurança, centro de apoio à imprensa nacional e internacional), aos quais se somam 8,2 milhões de um contrato “adjudicado pela Infraestruturas de Portugal para a deslocação do terminal de contentores”, no âmbito da requalificação da zona ribeirinha da Bobadela.
Por parte da Igreja Católica, o presidente da Fundação JMJ Lisboa 2023 e coordenador geral do Comité Organizador Local, Américo Aguiar (bispo auxiliar de Lisboa), adiantou que o orçamento da Igreja ainda não está fechado e será divulgado em breve, tendo já um valor provisório superior a 80 milhões de euros. O memorando de entendimento prevê que a Igreja tenha a responsabilidade e custos de tudo o que diga respeito ao acolhimento dos peregrinos, explicou, referindo que, “no fim, assumirá os prejuízos”, se houver. Eventuais lucros serão entregues às autarquias de Lisboa e Loures para projetos relacionados com a juventude.
As características do evento criado por iniciativa do Papa João Paulo II (em 1985) e o seu retorno a nível económico (atualmente a ser contabilizado pela Universidade de Lisboa), as especificidades do terreno do Parque Tejo e a sua requalificação e futura utilização (inclusive do palco) têm sido apontados pelas entidades envolvidas para justificar o investimento.
Segundo as contas do coordenador do evento nomeado pelo Governo, o retorno económico do evento deverá chegar aos 350 milhões de euros. “O retorno dos estudos económicos feitos em relação a Madrid representa um benefício económico de cerca de 350 milhões de euros. Eu presumo que Portugal vai ter um retorno económico desta grandeza“, disse José Sá Fernandes no final de novembro de 2022. Para Carlos Moedas, todo o investimento da autarquia de Lisboa "vai ser multiplicado por 10 ou por 20", disse na semana passada citado pelo Observador.
*Com Lusa
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