Com o BCE a subir os juros, especialistas preveem que a Euribor mensal termine o ano nos 2%. Simulamos o impacto nas prestações.
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Euribor a 2% até ao final de 2022
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A era dos empréstimos habitação mais baratos de sempre chegou ao fim e deu lugar a tempos de instabilidade. As taxas Euribor abandonaram o terreno negativo e estão a subir a grande velocidade para todos os prazos, encarecendo a prestação da casa nos contratos com taxa variável. E poderão subir ainda mais com os próximos aumentos das taxas de juro diretoras anunciadas pelo Banco Central Europeu (BCE) – a segunda, de 75 pontos base, foi comunicada na semana passada e há mais na calha. Neste contexto, a média mensal da Euribor a 6 meses poderá chegar a 2% no final de 2022 e a média da Euribor a 12 meses deverá mesmo ultrapassar essa barreira, apontam os especialistas - na crise do subprime, em 2008, chegou a superar os 5%. Este aumento a pique das taxas terá novo impacto na prestação da casa, que poderá vir a subir entre 10% e 17% até ao final de 2022. E tudo isto num contexto de agravamento do custo de vida gerado pela alta inflação. Explicamos tudo tendo por base simulações.

Para travar a inflação que se faz sentir no espaço europeu – e que atingiu os 9,1% em agosto –, o BCE anunciou uma nova subida das taxas de juro diretoras na passada quinta-feira, dia 8 de setembro, desta vez em 75 pontos base. Recorde-se que a primeira subida destas taxas em 11 anos foi revelada no passado dia 21 de julho na ordem dos 50 pontos base.

E tudo indica que esta decisão de política monetária terá um novo impacto na Euribor, já que estas taxas mantêm estreita relação com os juros diretores. No rescaldo da decisão tomada pelo BCE, as taxas Euribor diárias reagiram, subindo para todos os prazos. No prazo de 12 meses, a Euribor subiu esta sexta-feira 0,112 pontos percentuais, para 2,015%, fixando-se num novo máximo os últimos dez anos. Também a Euribor a 6 meses - a mais utilizada em Portugal nos créditos habitação - subiu para 1,442%, mais 0,088 pontos do que do dia anterior, batendo um novo máximo.

Para o calcular os juros do crédito habitação são tidas em conta as taxas Euribor médias de cada mês e não as diárias. E estas ainda estão em níveis bem inferiores a 2%, se bem que os especialistas antecipam que já não faltará muito para se chegar lá. As médias de agosto foram de:

  • 0,837% no caso da Euribor a 6 meses;
  • 1,249% no caso da Euribor a 12 meses.

Euribor média deverá chegar aos 2% até ao final do ano, apontam especialistas

Acontece que estas duas subidas das taxas de juro diretoras não chegam para travar a inflação na Zona Euro: Christine Lagarde, presidente do supervisor europeu, indicou que os juros poderão subir mais três ou quatro vezes, até porque ainda “estamos longe das taxas de juro necessárias para levar a inflação de volta à meta de 2%".

Dado o cenário macroeconómico de continua subida das taxas de juro diretoras, os especialistas apontam que as taxas Euribor médias continuem a subir e cheguem mesmo aos 2% até ao final do ano. "No caso da Euribor a 12 meses é praticamente evidente que ultrapassará a barreira dos 2% até final do ano”, corrobora Miguel Cabrita, responsável pelo idealista/créditohabitação em Portugal. E no caso da “Euribor a 6 meses é bastante provável assistirmos ao mesmo percurso neste período, dadas as previsões da inflação”, estima ainda.

Também Pedro Lino, economista e presidente da DiF Broker e Optimize, considera que "é expectável que a Euribor a 6 meses atinja os 2% ainda antes do fim do ano, a refletir a subida dos juros nas próximas reuniões do BCE e a manutenção desta política em 2023", cita o Dinheiro Vivo.

Para Filipe Garcia, economista e presidente da IMF, o mercado "desconta uma Euribor [a seis meses] perto de 2,25%" e é possível "que chegue perto dos 2,5% daqui a oito ou nove meses, e se mantenha nesses níveis", refere citado pelo mesmo jornal. Isto porque, na sua perspetiva, é esperado que “o BCE suba as taxas em mais 150 pontos base face aos níveis atuais, com o ciclo a terminar no final do primeiro semestre de 2023".

Prestação da casa mais cara
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Prestações da casa: que valores podem atingir com Euribor a 2%?

Ter um empréstimo à habitação de taxa variável está a tornar-se numa verdadeira dor de cabeça. E a verdade é que este tipo de crédito representa mais de 90% dos contratos em Portugal, o que significa que a maioria dos portugueses vão ser diretamente afetados pelas subidas da Euribor, já que as prestações da casa variam consoante as flutuações destas taxas. Quando as prestações forem atualizadas (a 3,6 ou 12 meses consoante o prazo contratado) vão pesar muito mais nas carteiras das famílias, as quais já se encontram pressionadas pelos efeitos da inflação nos vários setores da economia

Tendo em conta que, segundo as previsões dos especialistas, as médias mensais da Euribor a 12 meses e a 6 meses deverão chegar, pelo menos, a 2% até ao final do ano, o idealista/créditohabitação simulou quanto as famílias ficarão a pagar pelas prestações da casa para diferentes valores de financiamento bancário, pagos no prazo de 30 anos e com um spread de 1%:

Os resultados variam consoante o valor financiado pelo banco, sendo que quanto mais dinheiro se tem em dívida, maior será o aumento sentido na prestação da casa com a Euribor a 2% (a 6 ou a 12 meses). Dos níveis da Euribor registados em agosto para taxas estimadas de 2%, as prestações sobem, em média:

  • 17% nos empréstimos com Euribor a 6 meses;
  • 10% para créditos com a Euribor a 12 meses.

Analisamos cada caso consoante três valores de referência de financiamento concedido para comprar casa com recurso a empréstimo bancário. Estes são os resultados das simulações feitas com a ajuda do idealista/créditohabitação:

  • Crédito habitação de 150.000 euros

Um novo empréstimo da casa deste montante contratado em setembro com uma Euribor a 12 meses de 1,249% (média de agosto) pagará uma prestação de 573 euros no primeiro ano. Este valor poderá aumentar 59 euros quando a taxa atingir os 2%, mostram as simulações. Ou seja, a prestação ficará 10% mais cara.

Já olhando para a Euribor a 6 meses - que se fixou em 0,837% em agosto -, se esta taxa chegar aos 2% até ao final do ano, a prestação da casa aumenta em 90 euros (+17%), passando de 542 euros/mês em setembro para 632 euros/mês.

  • Crédito habitação de 200.000 euros

Neste caso, as famílias que optarem em setembro pelo prazo da Euribor a um ano vão pagar uma prestação mensal de 764 euros nos primeiros 12 meses do empréstimo. Este valor irá aumentar para 843 euros (+79 euros) caso o crédito seja contratado com a Euribor a 12 meses nos 2%.

No caso da Euribor a 6 meses, a prestação da casa estará em setembro nos 723 euros mensais, sendo este o valor a pagar nos seis meses seguintes. Mas se o crédito habitação foi selado com a Euribor a 6 meses nos 2%, os mutuários vão pagar mais 120 euros, apontam os especialistas.

Crédito habitação mais caro
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  • Crédito habitação de 300.000 euros

Aqui, quem contratar crédito habitação com uma Euribor a 12 meses irá pagar em setembro cerca de 1.146 euros de prestação da casa. Este valor aumenta para 1.264 euros (+118 euros) se o empréstimo for contratado com uma taxa de 2%.

No caso da Euribor a 6 meses, hoje a prestação da casa situa-se nos 1.085 euros, um valor que daria o salto de 179 euros no caso de a taxa subir para 2%. Isto é, pagar-se-ia mais 16%.

  • Crédito habitação de 400.000 euros

No caso de uma família contratar um crédito habitação em setembro de 400 mil euros, pagará com a Euribor a 12 meses uma prestação de 1.528 euros mensais no ano seguinte. Mas se o mesmo valor de empréstimo – e com as mesmas condições – for pedido com esta taxa a 2% irá encarecer 158 euros (+10%).

Com a Euribor a 6 meses, a prestação da casa passa de 1.446 euros/mês em setembro para 1.686 euros/mês com a Euribor a 2%. Trata-se de um aumento de 240 euros na prestação mensal (+17%).

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