Especialistas de mercado apontam que as taxas Euribor caiam para o patamar dos 3% até dezembro de 2024.
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Euribor a descer em 2024
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Hoje, as famílias que têm créditos habitação de taxa variável estão a ver as prestações da casa a ficarem mais caras, consoante sobem as taxas Euribor, que estão no patamar dos 4%. Mas poderá haver boas notícias em breve. O Banco de Portugal (BdP) prevê que a subida das prestações da casa poderá estar a chegar ao fim, uma vez que os especialistas de mercado esperam que as taxas Euribor caiam ao longo de 2024, mas “de forma gradual”, atingindo “valores um pouco acima de 3% em dezembro de 2024”.

Sobre o impacto dos juros nos créditos habitação de taxa variável, o regulador liderado por Mário Centeno diz que “todos os contratos com taxa variável já registaram um aumento do indexante”, até porque as taxas Euribor já estão a subir há quase dois anos, estando hoje no patamar dos 4%, refere o Relatório de Estabilidade Financeira de novembro de 2023, publicado esta quarta-feira.

Mas a subida das prestações da casa por via da Euribor poderá estar perto do fim, estima o BdP. Isto tendo em conta as perspetivas dos aumentos consoante as taxas Euribor contratadas e as expectativas de mercado mais recentes:

  • Euribor a 3 meses: a prestação atual estará “muito próxima” do valor máximo;
  • Euribor a 6 meses: uma parte dos contratos deverá ter ainda um “pequeno aumento”;
  • Euribor a 12 meses: alguns créditos habitação poderão sentir um “aumento com alguma expressão”.

Quanto ao futuro da Euribor, os especialistas de mercado esperam que as taxas caiam ao longo de 2024, mas “de forma gradual”. A descida será entre 0,7 p.p. e 1 p.p. (dependendo do prazo), face ao valor máximo observado, para valores um pouco acima de 3% em dezembro de 2024”, destaca o supervisor bancário.

Para Mário Centeno, governador do BdP, a taxa de juro real (a diferença entre a taxa de juro nominal e a inflação) ainda deverá continuar a subir nos próximos meses, o que agravará as dificuldades das famílias. E deu ainda a entender que as taxas de juro nominais já deverão ter atingido o patamar máximo, mas que assim irão manter-se durante algum tempo.

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Juros do BCE deverão descer de forma “prolongada no tempo”

O que é certo é que a evolução das taxas Euribor irá depender das decisões do Banco Central Europeu (BCE) no que diz respeito à evolução das suas taxas de juro diretoras, que estão no patamar dos 4%, depois de o regulador ter decidido fazer uma pausa na subida dos juros em outubro. Esta pausa ocorreu só após dez aumentos consecutivos desde julho de 2022.

“A luta contra inflação fez muitos danos e ainda vai fazer alguns porque nunca antes o BCE aumentou tanto as taxas de juro em tão pouco tempo”, afirmou Mário Centeno esta quarta-feira. Afinal, esta subida tão rápida das taxas de juro não permitiu aos agentes económicos terem “tempo para se ajustarem”, o que criou dificuldades extra, considera o governador português.

Também a presidente do BCE, Christine Lagarde, concorda que, tendo em conta a dimensão dos aumentos das taxas de juro até agora, será dado algum tempo para ver o seu efeito na economia, estando agora numa fase “vigilante e concentrada". Até porque o regulador considera que as taxas de juro atingiram níveis que, se forem mantidos durante um período suficientemente longo, darão um contributo substancial para garantir o regresso atempado da inflação para o objetivo de 2%.

Embora o aperto da política monetária estejam a demorar a ter efeitos nas economias, o mesmo não se verifica na banca. “Os aumentos das taxas de juro diretoras da área do euro estão a ser transmitidos às condições de financiamento”, porque “a restritividade das condições de financiamento é patente na evolução das taxas de juro interbancárias”, explica o BdP no relatório. E, por conseguinte, "os novos empréstimos para aquisição de habitação (excluindo renegociações) registaram quedas homólogas durante os primeiros nove meses do ano" em Portugal.

“As expetativas dos investidores, implícitas nos futuros da Euribor, acerca das taxas de juro do BCE apontam para que a futura descida das taxas de juro ocorra de forma mais gradual e prolongada no tempo do que em maio de 2023”, refere ainda o BdP. E recentemente Mário Centeno indicou que o ideal seria os juros do BCE se fixarem em cerca de 2%, em harmonia com a inflação.

Mas Lagarde alertou que "ainda não é tempo de gritar vitória", apesar da descida da inflação na Zona Euro para 2,9% em outubro. "Podemos agir de novo se constatarmos que há riscos crescentes de não atingir o nosso objetivo de inflação", de 2% a médio prazo, avisou a presidente do BCE.  Entre os principais riscos está, por exemplo, o escalar dos conflitos na Ucrânia, no Médio Oriente, que podem mexer nos preços da energia, e ainda a crise climática, que pode levar a aumentos dos preços dos alimentos.

Também no relatório, o BdP concorda que “as perspetivas económicas podem ser agravadas pelos conflitos militares em curso, na Ucrânia e no Médio Oriente, cuja escala permanece ainda incerta. Estes conflitos têm um potencial efeito ascendente sobre os preços, nomeadamente por via do aumento dos preços da energia, e sobre a atividade económica, com consequências adversas para o comércio internacional”.

Por isso mesmo, “mantém-se incerteza quanto à duração da restritividade da política monetária, sendo que a redução sustentada da inflação na área do euro continuará a ser a prioridade do BCE, que atuará de modo a manter as expetativas de inflação de longo prazo ancoradas no objetivo de estabilidade de preços”, conclui o regulador português.

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