Foi o hacker informático português que entregou ao ICIJ os mais de 715 mil documentos que ficaram conhecidos como Luanda Leaks.
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A fonte do Luanda Leaks tem voz portuguesa: Rui Pinto é o denunciante
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Rui Pinto, o ‘whistleblower’ (denunciante) dos Football Leaks, é também a fonte por detrás dos Luanda Leaks. Foi o hacker informático português – está em prisão preventiva e acusado de 90 crimes ligados ao futebol – que entregou ao Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ) os mais de 715 mil documentos que ficaram conhecidos como Luanda Leaks, que tinham como foco principal os esquemas financeiros que possibilitaram vários negócios da empresária angolana Isabel dos Santos.

A investigação teve por base os referidos documentos fornecidos pela Plataforma para a Proteção de Whistleblowers em África (PPLAAF), uma organização com sede em Paris. Esta segunda-feira (27 de janeiro de 2020), William Bourdon, o advogado e presidente da PPLAAF, revelou que Rui Pinto tinha fornecido à sua organização os documentos do Luanda Leaks, revela o Expresso, que integra o consórcio de jornalistas, tal como a SIC.  

Num comunicado, William Bourdon, que também representa Rui Pinto como advogado de defesa, juntamente com Francisco Teixeira da Mota, disse que o PPLAAF “está satisfeito por, mais uma vez, um whistleblower revelar ao mundo actos que vão contra o interesse público internacional”. “Tal como no caso do Football Leaks, estas revelações devem permitir o lançamento de novas investigações judiciais e assim ajudar na luta contra a impunidade dos crimes financeiros em Angola e no mundo”, referiu. 

Entretanto, em declarações ao Público, Francisco Teixeira da Mota disse que o seu maior “receio neste momento é que a administração prisional tente colocar Rui Pinto num estabelecimento de alta segurança, com o pretexto de o proteger, mas efetivamente punindo-o, nomeadamente dificultando o contacto com os seus advogados e penalizando a sua defesa, quando o seu julgamento se aproxima”. “Não creio que uma decisão deste tipo possa ter uma leitura que não seja uma retaliação ao Rui Pinto”, apontou o advogado.

Em declarações ao Diário de Notícias, William Bourdon adiantou que Rui Pinto é “a única fonte” dos Luanda Leaks. “O Rui Pinto é o Edward Snowden da corrupção internacional. Tem a mesma escala de importância”, acrescentou.

Já o diretor do ICIJ, Gerard Ryle, disse, citado pelo Expresso, que “a partilha desta fuga de informação (...) representou o fornecimento de provas incontestáveis sobre a miséria desnecessária que foi infligida ao povo de Angola e o papel dos intermediários que se enriqueceram ao facilitarem isso”. “Os documentos vieram de um cidadão preocupado — alguém que fez o que está certo em nome do público”, frisou.

Documentação entregue em 2018

O disco rígido contendo toda esta documentação relativa à fortuna de Isabel dos Santos e da sua família foi entregue no final de 2018 à PPLAAF, por via do advogado William Bourdon, apenas algumas semanas antes da detenção de Rui Pinto na Hungria, a pedido das autoridades portuguesas, escreve entretanto o Jornal de Negócios

No comunicado divulgado esta manhã, os advogados asseguram que Rui Pinto “entregou este disco rígido, no cumprimento do que entende ser um dever de cidadania, e sem qualquer contrapartida”, procurando “ajudar a entender operações complexas conduzidas com a cumplicidade de bancos e juristas que não só empobrecem o povo e o Estado de Angola, mas podem ter prejudicado seriamente os interesses de Portugal”, refere a publicação.

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