Taxa de refinanciamento bancário volta a ficar em 4,5% até junho. Redução dos juros estará perto.
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Juros do BCE
Christine Lagarde, presidente do BCE Getty images

A inflação na zona euro está a desacelerar e a economia europeia está a dar sinais de melhoria, embora continue fraca. Apesar de haver bons argumentos a favor de um alívio da política monetária, o Banco Central Europeu (BCE) decidiu voltar a manter as três taxas de juro diretoras inalteradas na reunião desta quinta-feira, dia 11 de abril. Isto porque Christine Lagarde, presidente do regulador europeu, quer ter garantias de que a inflação na zona euro está mesmo a descer até aos 2% (o seu objetivo). E quer ainda ter acesso a mais dados económicos, nomeadamente sobre os salários, que só serão conhecidos em junho. Será precisamente a 6 de junho que o Conselho do BCE se vai voltar a reunir, e se os dados económicos estiverem a favor deverão mesmo avançar com aquele que será o primeiro corte dos juros diretores.

Pela quinta vez consecutiva o regulador liderado por Christine Lagarde decidiu manter os juros inalterados nos atuais patamares restritivos. Assim, as três taxas de juro diretoras ficam nos seguintes valores até dia 6 de junho de 2024, data em que se vai realizar a próxima reunião de política monetária do BCE:

  • Taxa de juro das principais operações de refinanciamento fixa-se nos 4,5%, o valor mais elevado desde maio de 2001;
  • Taxa aplicável à facilidade permanente de cedência de liquidez fica nos 4,75%, um valor igual ao registado em outubro de 2008;
  • Taxa aplicada à facilidade permanente de depósitos situa-se em 4,00%, sendo, ainda assim, o maior valor alguma vez registado.

Porque é que o BCE decidiu manter os juros inalterados?

Esta decisão cautelosa surge num momento em que "os argumentos para considerar cortes nas taxas estão a fortalecer-se”, admitiram os membros do Conselho do BCE na reunião de março. Isto porque a economia europeia está a dar sinais de melhoria, apesar de continuar frágil. E a inflação na zona euro continua a desacelerar, tendo-se fixado em 2,4% em março, o nível mais baixo em quase três anos. Também a inflação subjacente - que exclui o efeito dos preços da energia e dos alimentos por ser mais volátil – caiu três décimas, para 2,9% em março.

Estes fatores económicos positivos foram esta quinta-feira sublinhados pelo BCE para justificar a nova manutenção dos juros diretores: "A inflação continuou a descer, impulsionada pela menor inflação dos preços dos produtos alimentares e dos bens. A maioria das medidas da inflação subjacente está a abrandar, o crescimento salarial regista uma moderação gradual e as empresas estão a absorver, nos respetivos lucros, parte do aumento dos custos do trabalho. As condições de financiamento permanecem restritivas e os anteriores aumentos das taxas de juro continuam a pesar sobre a procura, o que está a ajudar a reduzir a inflação. Contudo, as pressões internas sobre os preços são fortes e estão a manter a inflação dos preços dos serviços elevada", lê-se no comunicado.

Apesar dos sinais positivos do mercado, o BCE quer, assim, ter garantias de que a inflação na zona euro está mesmo a estabilizar para níveis perto dos 2% (o seu objetivo para assegurar a estabilidade de preços). E ainda quer saber se as recentes descidas da inflação não mascaram a “persistência da inflação subjacente”, explica Felix Feather, economista da abrdn, à Lusa. Além disso, falta ainda conhecer a evolução dos salários e o seu potencial impacto na subida generalizada dos preços por via do aumento do consumo, dados esses que só serão conhecidos em junho.

Foi neste contexto que Christine Lagarde admitiu em março que o Conselho do BCE ainda não está “suficientemente confiante” para iniciar a flexibilização monetária, precisando “claramente de mais provas, de mais detalhes”, nomeadamente sobre a evolução dos salários. Estes dados económicos serão conhecidos nos próximos meses: "Saberemos um pouco mais em abril, mas saberemos muito mais em junho”, disse.

Esta ideia foi esta quinta-feira reforçada pela presidente do BCE: "Alguns membros (...) sentiam-se suficientemente confiantes com base nos dados limitados que recebemos em abril [para começar a cortar os juros]. Eram apenas alguns e concordaram em unir-se ao consenso de uma maioria muito ampla dos governadores que se sentiam cómodos com a necessidade de reforçar a confiança quando recebermos mais dados em junho".

Assim, o regulador europeu continua a considerar "que as taxas de juro diretoras do BCE se encontram em níveis que estão a dar um contributo substancial para o processo de desinflação em curso", referem ainda no documento esta quinta-feira divulgado. E, assim, dar as provas necessárias para aliviar a política monetária. Claro está que as "Conselho do BCE continuará a seguir uma abordagem dependente dos dados e reunião a reunião na determinação do nível e da duração adequados da restritividade", sublinham.

Esta é, de resto, uma linha de política monetária cautelosa que está também a ser adotada por outros bancos centrais do mundo, como é o caso do banco central da Suécia, da Reserva Federal dos EUA e do Banco do Canadá, que também optaram por manter os juros tal como estão nas suas últimas reuniões. Mas numa altura em que a maioria dos bancos centrais fez progressos significativos em direção ao seu objetivo de inflação, o Fundo Monetário Internacional (FMI) defende que "continuar a apertar ou manter as taxas de juro elevadas por mais tempo pode representar um grande risco agora", tendo em conta os diferentes comportamentos dos mercados hipotecários e imobiliários.

Cortes dos juros pelo BCE
Getty images

BCE deverá descer os juros em junho – e depois?

O BCE poderá dar início ao primeiro corte das taxas de juro diretoras em junho, isto se os dados económicos conhecidos até então continuarem favoráveis. "Se estes dados revelarem um grau suficiente de alinhamento entre a trajetória da inflação subjacente e as nossas projeções, e partindo do princípio que a transmissão se mantém forte, podemos passar à fase de revisão do nosso ciclo de política monetária e aliviar a orientação restritiva", afirmou Christine Lagarde no final de março. Isto quer dizer que o BCE pode avançar com o primeiro corte dos juros mesmo antes dos EUA.

Esta foi uma ideia também deixada pelo Conselho do BCE esta quinta-feira, que disse que "se a avaliação atualizada das perspetivas de inflação, da dinâmica da inflação subjacente e da força da transmissão da política monetária reforçasse a confiança do Conselho do BCE de que a inflação está a convergir para o objetivo de forma sustentada, seria apropriado reduzir o atual nível de restritividade da política monetária". Mas também dizem que as suas futuras decisões "vão assegurar que as taxas diretoras permaneçam suficientemente restritivas durante o tempo que for necessário".

Assim, "o BCE continuou a direcionar gentilmente os mercados para um corte na taxa de juros em junho, após a reunião", comenta David Brito, diretor-geral da Ebury Portugal, ao idealista/news. "No entanto, não houve nada de inovador no anúncio desta quinta-feira, pois os mercados já antecipavam em grande parte um corte apenas em junho", diz ainda. 

Mas a abordagem futura dos juros diretores continua em aberto: “Mesmo após o primeiro corte das taxas, não nos poderemos comprometer antecipadamente com uma trajetória específica das taxas",  disse Lagarde em março, reforçando que as decisões futuras do BCE continuarão dependentes dos dados e se estes apoiam novos alívios da política ou não. O Conselho do BCE reforçou esta quinta-feira que "não se compromete previamente com uma trajetória de taxas específica".

"Não houve orientação explícita futura nem na declaração, nem na conferência de imprensa da presidente Lagarde, embora tenha sugerido que os cortes são viáveis se a inflação na zona euro continuar na sua trajetória atual", analisa David Brito. Este tom moderado de Lagarde, que não ofereceu "pistas sobre o possível ritmo de flexibilização monetária, explica a reação bastante moderada do euro, que encerrou a conferência de imprensa com pouca alteração em relação ao dólar americano.

Ainda assim, as expectativas do mercado apontam para que haja várias reduções dos juros do BCE ao longo do ano. “Esperamos vários cortes nas taxas este ano, a partir de junho”, prevê o economista Felix Feather. Também David Brito, da Ebury, admite que “os mercados já estão a assumir quase por completo um primeiro corte nas taxas de juro em junho e preveem um total de 3 a 4 descidas de 25 pontos base este ano, o que deixaria o preço do dinheiro em 3,75% - 3,5% no final de 2024”.

Para Miguel Cabrita, responsável pelo idealista/créditohabitação em Portugal, "o que parece claro é que a queda acentuada dos juros que se previa no início de 2024 não ocorrerá, e que se houver reduções da taxa serão pequenas. Não é de prever que o BCE tome decisões até ter a certeza de que a inflação está sob controlo e de que não há risco de voltar a subir", prevê.

*Notícia atualizada dia 11 de abril, às 16h44, com novas declarações de David Brito, diretor-geral da Ebury Portugal, e dia 12 de abril, às 8h46, com declarações da presidente do BCE

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