Logo depois da Fed ter cortado os juros, o euro subiu face ao dólar. E a Euribor retomou quedas. Porquê?
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Euribor a descer em 2024
Jerome Powell, presidente da Fed; Kazuo Ueda, governador do Banco do Japão; e Christine Lagarde, presidente do BCE Getty images

O mercado bancário mundial está interligado. As decisões de política monetária dos bancos centrais acabam por afetar as taxas de câmbio dos países e, por conseguinte, as trocas comerciais e os investimentos (imobiliário inclusive). É por isso mesmo que o Banco Central Europeu (BCE), embora seja independente, continua bem atento às decisões da Reserva Federal dos EUA (Fed), entidade que decidiu cortar os juros em 50 pontos base na semana passada, pela primeira vez em quatro anos. Até porque a decisão da Fed logo se refletiu na valorização do euro face ao dólar e ainda mexeu com as taxas Euribor.

O BCE deve continuar de olhos postos no que se passa no outro lado do Atlântico, nos EUA. Isto porque se a Fed não acompanhar as descidas dos juros ao seu ritmo, o mercado europeu corre o risco de sentir uma depreciação do euro (face ao dólar americano) e um regresso da inflação mais elevada (por via dos produtos importados). Por isso mesmo, todas as decisões do banco central norte-americano acabam por afetar a economia europeia direta ou indiretamente.

Logo depois da Fed ter anunciado que iria avançar com o corte das taxas de referência de 50 pontos base na passada quarta-feira (dia 18 de setembro) – que foi, aliás, a primeira redução dos juros nos EUA desde 2020 –, o euro avançou face ao dólar, acumulando ganhos. Na quinta-feira, pelas 18:10 (hora de Lisboa), o euro negociava a 1,1156 dólares, acima dos 1,1123 dólares registados na quarta-feira, apontou a Lusa.

Quando o euro valoriza face ao dólar, há boas notícias para os investidores europeus que procuram imóveis noutras geografias além fronteiras, uma vez que o seu poder de compra aumenta. "No entanto, para investidores estrangeiros, especialmente os norte-americanos, o aumento do valor do euro pode encarecer os imóveis em Portugal, o que pode reduzir o interesse de compra",resume Luís Figueiredo, administrador executivo da Santander Asset Management, à Funds People.

Euro valoriza face ao dólar
Freepik

Como é que a decisão da Fed afeta a Euribor? E porquê?

Também foi sentida uma influência das taxas Euribor, que tocam no crédito habitação. Na semana passada, “todas as atenções estavam viradas para a reunião de setembro da Fed, onde o banco central deu finalmente início ao seu ciclo de flexibilização com um corte de 50 pontos base. Isto permitiu que a Euribor retomasse a descida das suas taxas diárias e levou a média de setembro para 3%”, referem os analistas da Ebury Portugal em declarações ao idealista/news.

De notar que a taxa diária da Euribor teve uma “ligeira recuperação” nos dias que se seguiram à última reunião de política monetária do BCE (realizada a 12 de setembro). Apesar de o regulador europeu liderado por Christine Lagarde ter avançado com mais um corte dos juros, o banco central deu a entender aos mercados que uma nova descida das taxas de juro em outubro é improvável e o indexante já estava a descontar uma possível descida de 25 pontos base no próximo mês.

Sobre a influência das decisões da Fed na Euribor, os mesmos especialistas da Ebury explicam que “um grande corte nas taxas, em teoria, deveria exercer uma pressão descendente sobre a dívida global e as taxas de juro. Neste cenário, a Euribor poderia ver aceleradas as quedas que tem vindo a registar durante a maior parte de setembro, uma vez que o indicador responde aos juros aplicados pelos bancos nas suas operações de financiamento, uma taxa que também está sujeita às pressões do mercado”, concluem.

Portanto, "se a redução das taxas de juro da Fed resultar numa tendência global de taxas de juro baixas, (...) os compradores de imóveis podem ter acesso a crédito com taxas de juro mais baixas, o que aumenta a procura de imobiliário [em Portugal], provocando uma pressão de aumento nos preços", refere ainda Luís Figueiredo citado pelo mesmo meio. 

Como juros dos EUA afetam Euribor?
Christine Lagarde, presidente do BCE Getty images

Qual vai ser o próximo corte dos juros do BCE? E da Fed?

Agora, resta saber qual é o ritmo de descida dos juros de referência pelo BCE e pela Fed – e se vão andar alinhados ou não. Há quem defenda que o regulador europeu só deverá avançar com reduções dos juros trimestralmente. Mas há quem diga que poderá haver mais cortes.

Uma destas vozes é a de Mário Centeno, governador do Banco de Portugal (BdP), que defendeu na semana passada que o ritmo de cortes de taxas de juro poderá ter de ser acelerado, uma vez que os dados mais recentes sugerem que o crescimento económico e a inflação poderão ficar abaixo das expectativas do BCE. Além disso, “tendo em conta a posição em que estamos hoje, no ciclo de política monetária, temos realmente de minimizar o risco de ficar aquém [nos cortes de taxas face à Fed], porque esse é o risco principal", alertou ainda, em entrevista ao Politico publicada pelo BdP.

Já os analistas da Ebury acreditam que o BCE manterá, por enquanto, os cortes de juros trimestrais, sendo o próximo apenas na reunião de política monetária de dezembro. Até porque, na última reunião, o banco central sugeriu que seria improvável avançar com novo corte em outubro.

No caso dos EUA, só agora é que a Fed iniciou o processo de alívio da sua política monetária e pouco se sabe sobre o futuro. São esperadas mais reduções das taxas diretoras neste ciclo de flexibilização, com os responsáveis pela política monetária a sinalizar que "ao considerar ajustes adicionais ao intervalo-alvo para a taxa dos fundos federais, o Comité avaliará cuidadosamente os dados recebidos, a evolução das perspetivas e o equilíbrio dos riscos". A par de tudo isto, Jerome Powell acrescentou que instituição avançará "tão rapidamente ou tão lentamente" com os cortes dos juros quanto os seus responsáveis julgarem "apropriado em tempo real".

Assim, paira a incerteza sobre quando e a que ritmo vai haver alívios na política monetária europeia e norte-americana. Mas Luis de Guindos, vice-presidente do BCE, não acredita que possa voltar a época de dinheiro barato com juros negativos nos próximos dois ou três anos. “Foi uma situação extraordinária. As taxas de juro a zero ou negativas responderam a uma situação muito concreta e penso que não voltaremos a elas no futuro próximo”, disse ao Expresso.

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