Bancos dos EUA, Inglaterra, Suécia, Japão e China decidiram manter juros inalterados, preocupados com guerra comercial global.
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Guerra comercial dos EUA
Donald Trump,presidente dos EUA Getty images

A incerteza sobre a política comercial global intensificou-se desde que Donald Trump assumiu a presidência dos EUA no início do ano. A guerra tarifária gerada pelos EUA estalou na Europa e no mundo, deixando os bancos centrais de olhos pontos nos seus potenciais efeitos na aceleração da inflação e no crescimento económico. E é por isso que têm assumido uma posição mais cautelosa deixando os juros diretores inalterados nas reuniões realizadas em março – foi o caso da Fed, do Banco de Inglaterra e do Banco do Japão, por exemplo. Tudo indica que o Banco Central Europeu (BCE) vai seguir o mesmo caminho deixando os juros como estão na reunião de abril.

Esta semana, houve várias reuniões de política monetária dos bancos centrais pelos quatro cantos do mundo, desde os EUA até ao Japão, passando também pela Europa. E a grande maioria dos reguladores decidiu deixar os juros inalterados em março, mostrando-se preocupados com os desenvolvimentos do comércio global perante as novas tarifas alfandegárias anunciadas por Donald Trump:

  • Reserva Federal dos EUA: a Fed decidiu voltar a manter os juros inalterados no intervalo de 4,25%-4,5%, apontando para o aumento da "incerteza" em torno da evolução da economia norte-americana. Aliás, Jerome Powell, presidente da Fed, admitiu que as tarifas de Trump estão a subir a inflação nos EUA e a atrasar meta dos 2%;
  • Banco da Inglaterra: também decidiu manter as taxas de juro diretoras em 4,5%, justificando a decisão pela intensificação da incerteza sobre a política comercial global devido à guerra tarifária instigada pelos EUA e ainda por “outras incertezas geopolíticas aumentaram a volatilidade nos mercados financeiros”. Além disso, inflação no Reino Unido aumentou para 3% em janeiro (um máximo de 10 meses) e a economia continua fraca (caiu 0,1% em janeiro);
  • Banco central da Suécia (Riksbank): deixou ficar os juros diretores em 2,25% esta quinta-feira, interrompendo o ciclo de cortes iniciado em maio. Embora considerem que o crescimento económico e a inflação no país deverão continuar como esperado, admitem que a guerra comercial pode desestabilizar a economia;
  • Banco do Japão: também manteve as taxas de juro inalteradas (em 0,5%), apesar da persistência da inflação. E admitiu adotar uma postura cautelosa, sublinhando as potenciais consequências da guerra comercial desencadeada por Trump, até porque os EUA visaram diretamente as exportações de aço japonesas;
  • Banco da China: manteve os juros em 3,1% pelo 6º mês consecutivo. Embora admitam um ambiente internacional "cada vez mais complexo" após o regresso de Trump à presidência dos EUA, as autoridades chinesas voltaram a estabelecer 5% como meta de crescimento económico em 2025.

O Banco Nacional da Suíça também se reuniu esta quinta-feira, dia 20 de março, mas teve uma decisão diferente: optou por baixar a taxa diretora básica para 0,25%, sendo esta a quinta queda consecutiva. A decisão foi tomada tendo em conta uma ligeira revisão em alta da inflação em 2025 (para 0,4%) e a confirmação da previsão do crescimento económico (no intervalo entre 1,0% e 1,5%). Mas o banco central suíço sublinhou que este cenário está sujeito a um elevado grau de incerteza e que a situação pode alterar-se rápida e significativamente, especialmente do ponto de vista comercial e geopolítico.

Também o Banco Central Europeu (BCE) decidiu voltar a descer os seus juros diretores na reunião de política monetária que se realizou a 6 de março, deixando as taxas entre 2,5% e 2,9%. Esta decisão foi tomada, sobretudo, tendo em conta um “processo desinflacionista bem encaminhado” rumo aos 2% e a fraqueza da economia europeia. O futuro das taxas do BCE é ainda incerto, estando o banco central bem atento aos desenvolvimentos do cenário geopolítico.

Juros do BCE
Christine Lagarde, presidente do BCE, e Donald Trump, Presidente dos EUA Getty images

Tarifas de Trump também preocupam BCE: poderá manter juros em abril?

Sobre o futuro, Christine Largarde insiste que o banco “está determinado a garantir que a inflação estabiliza de forma sustentável na sua meta de médio prazo de 2%”, mas não pode comprometer-se antecipadamente com uma trajetória de taxas específica, especialmente nas atuais condições incertas no comércio global. 

Na última reunião, houve uma alteração do discurso do BCE que saltou à vista dos analistas de mercado: “A política monetária está a tornar-se significativamente menos restritiva”. “Com esta nuance, os responsáveis do banco central fizeram saber ao mercado que a taxa neutra, ou seja, aquela que não restringe nem estimula a economia, está mais próxima do que inicialmente previsto. Isto levou a uma redução das expetativas de um novo corte das taxas na próxima reunião do BCE em abril, sendo que o nosso cenário de base é que estas se mantenham inalteradas”, dizem os analistas da Ebury Portugal ao idealista/news.

“Numa potencial guerra tarifária com os EUA, é provável que a incerteza da inflação na zona euro aumente e que se verifique uma deterioração económica se as exportações diminuírem. Dado o impulso económico que o investimento europeu na defesa e o investimento alemão em infraestruturas irão gerar, acreditamos que o BCE não estará disposto a flexibilizar a política monetária de forma demasiado agressiva”, explicam ainda os mesmos analistas da Ebury, admitindo, por isso, “ver pouco espaço para a descida da Euribor”.

A verdade é que já começam a chegar estatísticas de um possível impacto das tarifas de Trump na economia e inflação na área euro. O próprio BCE alertou esta quinta-feira que a imposição dos EUA de tarifas de 25% sobre importações europeias pode reduzir o crescimento da zona euro até 0,3 pontos percentuais no primeiro ano e aumentar a inflação.

“É claro que o elevado nível de incerteza política exige que nos mantenhamos vigilantes e prontos para agir para proteger a estabilidade de preços”, Christine Lagarde, presidente do BCE

Se a União Europeia (UE) responder aumentando as tarifas sobre as importações dos EUA, este impacto aumentaria para cerca de meio ponto percentual, acrescentou a presidente do BCE, insistindo que estas estimativas estão sujeitas a uma “considerável incerteza”. Neste cenário, a perspetiva de inflação seria também “significativamente mais incerta”, e o BCE estima que, no curto prazo, a retaliação da UE e uma taxa de câmbio do euro mais fraca — resultante da menor procura de produtos europeus nos EUA — “poderiam aumentar a inflação em aproximadamente meio ponto percentual”.

Christine Lagarde explicou que o efeito seria atenuado a médio prazo, uma vez que a atividade económica mais fraca reduziria as pressões inflacionistas, sublinhando que o impacto das tarifas poderá não ser linear devido a uma reconfiguração das cadeias de abastecimento globais. “É claro que o elevado nível de incerteza política exige que nos mantenhamos vigilantes e prontos para agir para proteger a estabilidade de preços”, disse Christine Lagarde.

Também o Banco de Portugal (BdP) revelou esta quinta-feira que o aumento das tarifas impostas pelos EUA pode ter um impacto de 1,1% do PIB de Portugal no final de três anos, com destaque para os dois primeiros anos de aplicação. Para a Zona Euro, este aumento das tarifas "poderá resultar numa contração acumulada do PIB da área do euro entre 0,5% e 0,7% ao fim de três anos, com um impacto mais significativo no primeiro ano", estima ainda o regulador liderado por Mário Centeno.

As previsões divulgadas pelo BdP indicam que a economia portuguesa vai crescer 2,3% este ano, projeção mais otimista do que os 2,1% apontados pelo Governo, e que a inflação vai abrandar para 2,3%.

*Com Lusa

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