As taxas de juro diretoras do Banco Central Europeu (BCE) vão continuar congeladas nos atuais níveis, pelo menos, até fevereiro de 2026. Isto porque a estabilidade da inflação na zona euro e a melhoria das perspetivas para o crescimento económico levaram o ‘guardião do euro’ a voltar a manter os juros inalterados na reunião desta quinta-feira, dia 18 de dezembro. Já as projeções para 2026 sobre os juros do BCE dividem-se entre especialistas: podem manter-se, descer ou até subir.
O período de congelamento dos juros de referência europeus está para ficar. Os membros do Conselho do BCE reuniram-se esta quinta-feira, dia 18 de dezembro, e decidiram manter a sua política monetária inalterada pela quarta vez consecutiva – o que já era amplamente esperado pelos analistas. A última vez que o BCE cortou os juros foi em junho, sendo que desde aí as taxas diretoras têm-se mantido inalteradas.
Com esta decisão, que foi unânime entre os governadores, os juros do BCE mantém-se nos atuais níveis, pelo menos, até 5 de fevereiro de 2026, data daquela que será a primeira reunião de política monetária do próximo ano:
- Taxa aplicada à facilidade permanente de depósitos fica em 2,00%;
- Taxa de juro das principais operações de refinanciamento continua em 2,15%;
- Taxa aplicável à facilidade permanente de cedência de liquidez situa-se em 2,40%.
Assim, a taxa de depósitos do BCE permanece a meio do intervalo “neutro”, entre 1,75% e 2,25%, no qual nem restringe, nem estimula demasiado a economia. Trata-se de uma “boa posição” para enfrentar choques futuros, considera Christine Lagarde, presidente do regulador europeu.
“O BCE mantém-se fiel à sua rota, como esperado, mantendo a sua política monetária inalterada, sendo consciente de que os níveis de inflação são adequados e de que não existem fatores na economia que justifiquem um maior relaxamento das taxas de juro no curto prazo”, comenta Miguel Cabrita, responsável pelo idealista/créditohabitação em Portugal.
Inflação na zona euro estável em 2% e crescimento económico surpreende
É com base nos dados económicos mais recentes e projeções futuras que o BCE toma as suas decisões de política monetária. E, agora, parece que estão a cumprir os objetivos do regulador.
A inflação na zona euro tem-se mantido próxima do objetivo de 2% a médio prazo há vários meses. Aliás, o Eurostat confirmou o abrandamento da inflação para 2,1% na zona euro em novembro. Além disso, o mercado de trabalho mantém-se resiliente.
As novas projeções elaboradas por especialistas do Eurosistema indicam que a inflação global se situará, em média, em 2,1% em 2025, 1,9% em 2026, 1,8% em 2027 e 2,0% em 2028. E a inflação subjacente da zona euro - que exclui preços da energia e dos alimentos - deverá situar-se numa média de 2,4% em 2025, 2,2% em 2026, 1,9% em 2027 e 2,0% em 2028. "A inflação foi revista em alta para 2026, sobretudo porque os especialistas do Eurosistema esperam agora uma descida mais lenta da inflação dos preços dos serviços", explica o BCE em comunicado.
O crescimento económico – que estava estagnado - está mais forte do que o esperado, com o BCE a voltar a melhorar as perspetivas económicas. "O crescimento económico deverá ser mais forte do que o avançado nas projeções de setembro, sendo impulsionado principalmente pela procura interna. O crescimento foi revisto em sentido ascendente para 1,4% em 2025, 1,2% em 2026 e 1,4% em 2027, devendo permanecer em 1,4% em 2028", acrescenta o Conselho do BCE no documento.
“Os dados da atividade económica sugerem que a economia da zona euro virou a página, com 2026 a preparar-se para ser um ano de recuperação económica e inflação contida”, referem os analistas da Ebury Portugal em declarações ao idealista/news.
Mas nem tudo está sobre rodas na Europa. “As tarifas dos EUA continuam a pesar sobre as exportações, o investimento está a ser travado pela incerteza e o crescimento em 2026 continua altamente dependente do estímulo fiscal alemão”, sublinha Carsten Brzeski, diretor de Macro da ING, citado pelo ECO.
No cenário financeiro mundial, os bancos centrais da zona euro continuam a usufruir de uma “posição confortável”, ao contrário dos homólogos dos EUA, Reino Unido e Japão, que enfrentam "pressões inflacionistas persistentes", considera Michael Krautzberger, diretor de Investimento Global de Mercados Públicos da AllianzGI.
Apesar de reconhecer que “uma inflação e um desemprego mais elevados”, a Reserva Federal dos EUA voltou a reduzir os juros de referência este mês, deixando as taxas entre 3,50% e 3,75%. Este patamar os juros nos EUA ainda está longe do alcançado pelo BCE, acabando por reforçar o valor do euro face ao dólar.
Também o Banco de Inglaterra desceu esta quinta-feira as taxas de juro no Reino Unido em um quarto de ponto, para 3,75%. O objetivo passa por impulsionar a economia perante a queda da inflação e de um crescimento fraco. Este foi o sexto corte de juros levado pelo banco central.
Vai haver mudanças nos juros do BCE em 2026? E em 2027?
Uma vez mais, o BCE voltou a sublinhar que "seguirá uma abordagem dependente dos dados e reunião a reunião para decidir a orientação apropriada da política monetária", não se comprometendo previamente com uma trajetória de taxas específica. Mas, questionada sobre decisões futuras, Christine Lagarde salientou que os membros do BCE partilharam a "visão de que todas as opções devem estar em cima da mesa", seja a manutenção, corte ou subida dos juros.
A maioria dos economistas ouvidos pela Reuters prevê que os juros do BCE se mantenham inalterados até meados de 2026, com 75% a manter essa previsão até ao final do próximo ano. "Há muito poucos motivos para o BCE alterar a sua atual postura de política monetária, confirmando mais uma vez que se encontra numa 'boa posição'", refere Carsten Brzeski, da ING.
Mas a verdade é que a economia europeia apresenta vários riscos, tal como elencou Lagarde no final da reunião. Continua a existir um alto nível de incerteza, nomeadamente numa altura em que as "tensões comerciais amenizaram, mas o ambiente volátil" pode ter consequências, como a disrupção nas cadeias de fornecimento. A deterioração no sentimento nos mercados globais pode levar a um aumento da aversão ao risco. As tensões geopolíticas continuam também a ser uma fonte de incerteza. Por outro lado, os gastos dos governos em defesa e infraestrutura "podem impulsionar o crescimento em maior nível do que o esperado", ainda que este impulso na despesa pública "também pode acelerar a inflação", acrescentou.
Todos estes aspetos são bem monitorizados pelo BCE, assim como os efeitos do fortalecimento do euro face ao dólar, o eventual atraso do plano de estímulo orçamental da Alemanha e a instabilidade política em França. Se surgirem surpresas nestes pontos no curto prazo, o BCE poderá ter de adotar um novo rumo da sua política monetária.
Há quem admita que haverá um corte no início do Ano Novo. É o caso da AllianzGI que diz que "poderá haver margem para um corte no primeiro semestre de 2026". Se as previsões da inflação estiverem abaixo de 2% para os próximos três anos, o ING reconhece que poderá haver uma “alteração nas taxas do BCE como um corte, e não um aumento, pelo menos até ao final da primavera do próximo ano”, cita o mesmo meio.
Embora espere que o BCE mantenha as taxas inalteradas até 2026, o neerlandês Rabobank admite que há alguns riscos de uma subida no último trimestre de 2026. Também os analistas da Ebury Portugal acreditam que “o próximo movimento nas taxas do BCE será para cima, em vez de para baixo, mas podemos ter de esperar um pouco”.
Mesmo dentro do seio do BCE há esta perceção. A alemã Isabel Schnabel, membro da Comissão Executiva do banco central, afirmou há alguns dias, numa entrevista à Bloomberg, sentir-se confortável com a expectativa de que, no futuro, ocorra uma subida do preço do dinheiro. Também o departamento de análise do Bankinter considera mais provável que o próximo movimento do BCE seja uma subida dos juros em vez de uma descida.
A visão dos analistas aponta, assim, para a manutenção ou até para mexidas dos juros do BCE em 2026. Mas este possível movimento, seja para baixo, seja para cima, deverá ser sempre de baixa dimensão para manter a estabilidade do mercado.
Para 2027, o ING acredita que “a janela para cortes nas taxas provavelmente fechar-se-á, e os estímulos orçamentais que atendem às restrições do lado da oferta podem trazer de volta as pressões inflacionárias”, cita a publicação. Já o Rabobank prevê duas subidas dos juros do BCE em 2027, uma em março e outra em junho.
De notar ainda que nos próximo dois anos haverá mudanças em cargos-chave do BCE, devido ao termo dos seus mandatos: Luis de Guindos (vice-presidente) em maio de 2026, Philip Lane (economista-chefe) em maio de 2027 e Christine Lagarde (presidente) em outubro de 2027. "A abordagem do atual Conselho do BCE poderá tornar-se mais reativa do que proativa, relutante em tomar decisões arriscadas, devido às substituições iminentes. Tal poderá traduzir-se numa estabilidade das taxas de juro no atual intervalo durante um período prolongado, desde que a inflação não volte a acelerar", analisa o Bankinter.
As próximas reuniões do BCE
O Conselho do BCE reúne-se aproximadamente de seis em seis semanas. Este é o calendário das próximas reuniões de política monetária do guardião do euro, nas quais vai anunciar as suas decisões sobre as taxas de juro diretoras.
- 5 de fevereiro de 2026
- 19 de março de 2026
- 30 de abril de 2026
- 11 de junho de 2026
- 23 de julho de 2026
- 10 de setembro de 2026
- 29 de outubro de 2026
- 17 de dezembro de 2026
*Com Lusa
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