O Banco Central Europeu (BCE) decidiu meter um pé no travão e manter as suas três taxas de juro diretoras inalteradas esta quinta-feira, dia 24 de julho, interrompendo o ciclo de cortes. Esta decisão permite ao supervisor europeu ganhar tempo para avaliar o impacto das tensões comerciais entre os EUA e a União Europeia (UE), bem como a inesperada valorização do euro face ao dólar. Isto numa altura em que a inflação na zona euro está controlada em 2% e a economia europeia continua a dar sinais de fragilidade, apesar de se mostrar "resiliente num enquadramento mundial difícil".
Tal como já era esperado pelos analistas de mercado, o BCE interrompeu pela primeira vez em quase um ano o ciclo de descidas das taxas de juro. Na reunião de política monetária realizada esta quinta-feira, dia 24 de julho, o regulador europeu liderado por Christine Lagarde optou por manter as suas três taxas de juro diretoras inalteradas, deixando-as nos valores mais baixos desde dezembro de 2022:
- Taxa aplicada à facilidade permanente de depósitos fica em 2,00%;
- Taxa de juro das principais operações de refinanciamento continua em 2,15%;
- Taxa aplicável à facilidade permanente de cedência de liquidez situa-se em 2,40%.
Assim, a taxa de depósitos continua em 2% encontrando-se no meio do intervalo de juros “neutro” - entre 1,75% e 2,25% -, onde as taxas nem restringem nem estimulam demasiado a economia. Esta posição dá ao BCE flexibilidade para responder a eventuais desenvolvimentos económicos, mas também sugere que a margem de novos cortes de juros está a diminuir.
"A economia provou ser, até à data, globalmente resiliente num enquadramento mundial difícil", Conselho do BCE
“O BCE aproveitou a reunião de verão para manter as taxas de juro, adotando um compasso de espera para ver como é que a situação atual afeta a atividade económica e os preços na Europa”, comenta Miguel Cabrita, responsável pelo idealista/créditohabitação em Portugal. Em causa está um potencial acordo de tarifas entre os EUA e a UE e a evolução da valorização do euro, que tem impacto na evolução das economias europeias e na inflação na zona euro.
Porque é que houve uma pausa na descida dos juros do BCE?
Ao manter os juros inalterados em julho, o BCE continua, assim, "numa boa posição para águas turbulentas", tal como considerou Christine Lagarde no início deste mês, referindo-se ao contexto internacional de “muita incerteza”, que requer vigilância.
Há vários fatores que ajudam a explicar a decisão do supervisor europeu em manter os juros inalterados na reunião de julho ao invés de continuar a seguir com a política de cortes:
- Inflação na zona euro está em 2%: em junho a inflação fixou-se em 2%, precisamente o nível que o BCE pretende alcançar a médio prazo. "A inflação situa‑se atualmente no objetivo de médio prazo de 2%", referiu o Conselho do BCE em comunicado divulgado após a reunião. "As pressões internas sobre os preços continuaram a abrandar, com o crescimento mais lento dos salários", acrescenta.
- Economia europeia continua frágil: no primeiro trimestre de 2025, a economia da zona euro cresceu 0,5%, mas não se sabe ao certo como vai evoluir. “Continuamos a duas velocidades, com as economias da Alemanha e da França estagnadas e mais afetadas pelas questões comerciais com os EUA, enquanto o crescimento da economia espanhola permanece forte, por exemplo”, analisa Miguel Cabrita. Ainda assim, Isabel Schnabel, membro da Comissão Executiva do BCE, admitiu recentemente que “os riscos para as perspetivas de crescimento na zona euro estão agora mais equilibrados". Para o Conselho do BCE, "a economia provou ser, até à data, globalmente resiliente num enquadramento mundial difícil". As expectativas dos economistas apontam para uma expansão da economia europeia de 1% em 2025, seguida de 1,2% em 2026, segundo um inquérito da Reuters;
- Tensões comerciais entre EUA e UE continua: foram anunciadas tarifas norte-americanas de 30% sobre as exportações europeias a partir de 1 de agosto. Mas Bruxelas continua a acreditar que será possível negociar com Trump e baixar estas tarifas para 15%, à semelhança do que foi acordado entre os EUA e o Japão, noticiou o Financial Times;
- Valorização inesperada do euro: apesar de altos e baixos, o euro tem vindo a valorizar face ao dólar deste o início do ano, o que reduz o preço das importações europeias e acaba por ter feito em baixa sobre a inflação. “Embora a queda do dólar possa ajudar a conter os preços no curto prazo, o impacto final ainda está por ser conhecido”, acrescenta o responsável pelo idealista/créditohabitação em Portugal.
A par de tudo isto, a pausa dos juros diretores em julho acabou também por ser a solução mais consensual entre os membros do Conselho do BCE, uma vez que há membros que consideram que este não é o momento para novos cortes dos juros (como Mário Centeno e Isabel Schnabel) e outros que têm alertado para o risco de a inflação ficar abaixo de 2% se o euro continuar a valorizar (como os governadores da Finlândia e de França).
Para o BPI Research, esta pausa dos juros do BCE está alinhada com a nova estratégia de política monetária apresentada no início do mês, em que “reconhece a existência de um ambiente estruturalmente mais incerto e volátil, defendendo a necessidade de ter uma capacidade de atuação flexível”. Uma vez mais, o Conselho do BCE admite que "a conjuntura mantém‑se excecionalmente incerta, sobretudo devido a litígios comerciais".
Esta expectativa é partilhada pelo economista sénior da Generali Investments, Martin Wolburg, que considera que a recente valorização do euro poderá ter um efeito de desinflação, isto num cenário em que “o crescimento é fraco e está rodeado de riscos geopolíticos e relacionados com as tarifas”.
Na visão de Michael Krautzberger, diretor de Investimento Global de Mercados Públicos da Allianz Global Investors, as tensões comerciais entre os EUA e UE são o maior risco a curto prazo para a economia do euro, embora os dados dos inquéritos na zona euro tenham apontado para uma “recuperação dos mínimos em abril, impulsionados pelas tarifas, enquanto a inflação está próxima da meta do BCE”.
Haverá mais cortes dos juros do BCE à vista?
Com esta pausa dos juros, o BCE mantém uma posição vigilante sobre a evolução do contexto internacional, bem como sobre a reação das economias europeias a choques externos. Sobre o futuro, o regulador liderado por Lagarde voltou a frisar apenas que "seguirá uma abordagem dependente dos dados e reunião a reunião para decidir a orientação apropriada da política monetária", não se comprometendo previamente com uma trajetória de taxas específica.
Vários analistas de mercado admitem que haverá um novo corte dos juros de 25 pontos base mas só no fim do ano, o que deixaria a taxa dos depósitos em 1,75% (mantendo-se no nível neutro). Para o BPI Research, uma redução depois desta pausa prevista seria “preventiva e em resposta à alta incerteza geopolítica e aos riscos de queda sobre a atividade económica”.
Desde a Ebury Portugal admitem que “haverá mais um corte de taxas antes do final do ano”, com o BCE a leva todo ou quase todo o verão a avaliar a situação tarifária antes de tomar uma decisão sobre as taxas”, comentam em declarações ao idealista/news.
A expectativa é partilhada pelo economista Martin Wolburg, que apontou que o BCE deverá “manter uma postura de política aberta”, projetando para setembro um novo corte de 25 pontos. Mais do que uma redução dos juros do BCE só é admitida pelo economista se os riscos de desaceleração da atividade económica se concretizarem. Também o diretor de investimento da Allianz GI continua a projetar “pelo menos dois cortes” até ao fecho de 2025, caso o enfraquecimento económico se agrave.
As próximas reuniões do BCE
O Conselho do BCE reúne-se aproximadamente de seis em seis semanas. Este é o calendário das próximas reuniões de política monetária do guardião do euro, nas quais vai anunciar as suas decisões sobre as taxas de juro diretoras:
- 11 de setembro de 2025
- 30 de outubro de 2025
- 18 de dezembro de 2025
- 5 de fevereiro de 2026
- 19 de março de 2026
- 30 de abril de 2026
- 11 de junho de 2026
*Com Lusa
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