2019 foi “mais um ano excecional” e para este ano "as expetativas são excelentes"
Dados da consultora JLL mostram que foram investidos 2,8 mil milhões de euros em imobiliário comercial, no ano passado.

Em 2019, foram investidos 2,8 mil milhões de euros em imobiliário comercial – a maioria (92%) via capital estrangeiro –, um volume que representa 21% do capital transacionado ao longo da última década (13,6 mil milhões euros) e que só é superado pelos 25% registados em 2018 (3,3 mil milhões de euros). Em causa estão dados revelados pela consultora imobiliária JLL, que destaca que 2019 foi “mais um ano excecional para o mercado português”.
Por segmentos, o retalho e os escritórios continuaram a liderar o volume de investimento imobiliário comercial, com quotas de 32% e 24% do investimento, respetivamente. O setor da hotelaria registou um recorde de investimento de 517 milhões de euros (20% do ano) e nos segmentos alternativos foram investidos mais de 550 milhões de euros.
Compra de casas e crédito à habitação ao rubro
Os resultados preliminares da atividade no mercado imobiliário português em 2019 revelados pela JLL permitem ainda concluir que no segmento residencial – não abrangido nos 2,8 mil milhões de euros investidos em imobiliário comercial – terão sido transacionadas cerca de 178.000 casas e aproximadamente 24 mil milhões de euros em vendas. Um valor que representa cerca de 15% dos 1,21 milhões de casas vendidas na década e 16% dos 147,4 mil milhões transacionados.
“Tais resultados nivelam com as 178.691 casas vendidas em 2018 no valor de 24 mil milhões de euros, ou seja, 15% e 16%, respetivamente, do valor contabilizado entre 2010 e 2019”, refere a JLL em comunicado.
Segundo a empresa, o volume de crédito à habitação concedido em 2019 deverá alcançar os 10,2 mil milhões de euros, acima dos 9,8 mil milhões de euros de 2018, refletindo, sobretudo, a maior atividade dos portugueses na compra de casa. “Este é também o sentimento da JLL, cujas vendas residenciais foram em 2019 dominadas pelos compradores nacionais, seguindo-se, entre os estrangeiros, os brasileiros, franceses, britânicos, sul-africanos e americanos”, lê-se no documento.
Absorção de escritórios recua em Lisboa
No segmento de escritórios, a absorção anual em Lisboa deverá atingir 187.500 metros quadrados (m2), ou seja, 14% dos 1,35 milhões de m2 ocupados entre 2010 e 2019. Em 2018, a atividade neste mercado ascendeu a 206.428 m2, 15% da década.
“Tal resultado é, ainda assim, um dos mais expressivos de sempre do mercado e o segundo mais alto da década, além de estar 39% acima da ocupação média anual de 135.100 m2 dos últimos 10 anos”, conclui a consultora.
Comércio de rua mais dinâmico que centros comerciais
No retalho, o comércio de rua continuou bastante mais dinâmico do que os centros comerciais, ao representar 70% das operações contabilizadas em 2019 neste tipo de imobiliário, conclui a JLL, salientando que no comércio de rua a grande dinâmica cabe ao setor da restauração, que concentrou grande parte das aberturas, incluindo o lançamento de novos conceitos e novos operadores.
A consultora prevê uma maior dinâmica nas aberturas em 2020 e considera que “os centros comerciais mantêm-se no radar dos retalhistas, com várias marcas a mostrar interesse em marcar presença neste tipo de ativos, especialmente nos que têm apostado na renovação”.
Hotelaria em alta
No setor hoteleiro registou-se em 2019 um total de 11 transações e 1.950 quartos transacionados. A JLL destaca a venda do portfólio Tivoli, constituído por 3 hotéis, por 313 milhões de euros, e adianta que Lisboa dominou o mercado, com mais de 60% das transações a ocorrerem na capital.
“Também a abertura de novas unidades esteve especialmente dinâmica, com 5 hotéis inaugurados em Lisboa nos 3 primeiros trimestres, totalizando mais de 400 quartos, além da expansão do hotel Bairro Alto Hotel com mais 22 quartos. No Porto, no mesmo período, foram inaugurados 6 hotéis com um total de 480 quartos”, acrescenta a empresa.
Uma aposta chamada promoção imobiliária
Destaque ainda para a promoção imobiliária, “que exibiu uma dinâmica em aceleração face ao ano anterior e que promete ser um motor do mercado imobiliário nos próximos anos”.
De acordo com a JLL, “o desenvolvimento de terrenos, em detrimento da reabilitação de ativos, está cada vez mais no centro das atenções dos promotores de habitação, com a maior parte das oportunidades a surgir na periferia de Lisboa, pelo facto de ser possível desenvolver projetos com maior escala e com patamares de preços mais ajustados àquela que é a franja da procura com maior necessidade de produto atualmente, nomeadamente a classe média portuguesa”.
“Paralelamente, denota-se um incremento do volume de venda de ativos/terrenos para o desenvolvimento de projetos não residenciais, como escritórios e hotéis, e, especialmente, os de uso alternativo, como as residências de estudantes. Neste segmento cabem ainda os projetos para o desenvolvimento de ativos residenciais ajustados aos novos conceitos de habitação, como o Coliving ou o built-to-rent (desenvolvidos para colocação no mercado de arrendamento), com aposta em projetos integrados e de larga escala”, acrescenta a consultora.
O que esperar de 2020?
Para este ano, Pedro Lancastre, diretor geral da JLL, o grande desafio para 2020 vai ser “conseguir voltar a ter um ‘ano da terra’, com investimentos fora do centro prime, em projetos de raiz e direcionados para as famílias portuguesas”. “As expetativas são excelentes, aguardando-se o início da construção de grandes projetos como o da Feira Popular ou o da Pedreira do Alvito”, refere.
"O nosso imobiliário vai continuar no epicentro do mundo, com as grandes multinacionais a chegar e à procura de espaço, com as startups tecnológicas também a chegar, com mais turismo, mais estudantes, um retalho com experiências diferentes e inovadoras, novos conceitos na habitação e no trabalho"
Pedro Lancastre, diretor geral da JLL
“A par disso, temos muitas novidades a animar o mercado, como o despertar da “CoRevolution”: o CoLiving e o CoWorking, bem como o Student e o Senior Housing, que estão aí e vão crescer, abrindo novas possibilidades para quem está no mercado imobiliário e para quem usa os imóveis. Também as novas SIGI prometem mexer com a indústria este ano, pois podem ter um efeito propulsor ainda maior para o setor; e podem ter um contributo determinante para o arranque de um mercado de arrendamento residencial com escala, um verdadeiro mercado de arrendamento, como acontece em todos os outros setores não residenciais”, diz o responsável.
Segundo Pedro Lancastre, é crucial, no entanto, “garantir estabilidade”, sendo “a incerteza que o novo pacote jurídico e fiscal do imobiliário uma questão para o mercado lidar em 2020”. “Mas mesmo assim, as expetativas para o novo ano não podiam ser melhores. O nosso imobiliário vai continuar no epicentro do mundo, com as grandes multinacionais a chegar e à procura de espaço, com as startups tecnológicas também a chegar, com mais turismo, mais estudantes, um retalho com experiências diferentes e inovadoras, novos conceitos na habitação e no trabalho (...). É com muita confiança e ânimo que entramos numa nova década”, conclui.