
Com ou sem pandemia, com ou sem guerra na Ucrânia, os investidores imobiliários parecem ter voltado à carga, estando particularmente atentos às carteiras de crédito malparado (Non-Performing Loans – NPL, na sigla inglesa) em Portugal. Só no primeiro trimestre de 2022, as carteiras NPL representaram cerca de mil milhões de euros em transações ou em oferta, mais que em todo o ano de 2020, o que deixa antever que 2022 poderá ser um ano dinâmico neste mercado. Esta é uma das conclusões a retirar do estudo “Keep an Eye on the NPL&REO Markets”, da consultora Prime Yield.
Segundo o mesmo, o ano 2022 poderá voltar a colocar a atividade de venda de carteiras de crédito malparado em Portugal nos níveis pré-Covid-19, quando o padrão de transações se situava entre 6.500 e 8.000 milhões de euros.
“A empresa (…) contabiliza no primeiro trimestre deste ano um pipeline de 1.000 milhões de euros entre carteiras de NPL já transacionadas, em negociação ou em oferta no mercado nacional. Este volume de negócios identificados só nos primeiros três meses do ano já perfazem o valor transacionado no total de 2020, abrindo, assim, boas perspetivas para a atividade de investimento neste tipo de ativos em 2022”, refere a empresa em comunicado.

Bancos estão a desfazer-se de crédito malparado
Citado na nota, Francisco Virgolino, Head and Partner of NPL&REO Portugal da Prime Yield, adianta que “apesar do malparado entre a banca ter continuado a diminuir, a estratégia da maioria dos bancos portugueses continua a ser de redução do stock de crédito em incumprimento, havendo atualmente vários processos de venda em curso ou já anunciados, incluindo de instituições como o Bankinter, Santander, EuroBic ou o Millennium bcp”. “Além disso, é expetável o lançamento de novos processos de venda nos próximos meses por parte da CGD e do Montepio Geral”, acrescenta.
O responsável revela ainda que, do lado da procura, continua a haver um “elevado interesse dos investidores em NPL no mercado português”, sendo de esperar a entrada de novos players no mercado: “Existem ainda muitos portfólios de grande dimensão, sobretudo os que não têm colaterização, a surgir em oferta no mercado este ano, ao mesmo tempo que as carteiras de malparado que são colaterizadas terão um valor agregado mais baixo. Este tipo de diversificação de oferta vai atrair um leque mais vasto de perfis de investidores, incluindo os que têm tickets de investimento mais baixo”.
“Com a boa a dinâmica esperada do lado da oferta e a diversificação dos perfis de investidores ativos, não temos dúvida de que 2022 não só dará continuidade à tendência de recuperação das transações de NPL iniciada o ano passado, como reúne todas as condições para voltar a posicionar a atividade no ritmo pré-pandemia”, antevê Francisco Virgolino.

Portugal contabilizava 7.700 milhões de NPL na banca em 2021
A Prime Yield estima que em 2021 tenham sido transacionadas carteiras de NPL em Portugal no valor de 3.000 a 3.500 milhões de euros, bem mais que os já referidos 1.000 milhões de euros em 2020.
De acordo com o estudo, no final do ano passado, contabilizavam-se cerca de 7.700 milhões de euros de NPL entre os bancos nacionais, menos 4.500 milhões que os 12.200 milhões registados no final de 2021. As famílias detêm 32% do crédito malparado contabilizado, 2.500 milhões de euros, dos quais cerca de metade alocado ao financiamento para compra de habitação, num total de 1.200 milhões de euros. Significa isto que a maior parte do NPL continua a estar entre as empresas, que concentram 64% do total contabilizado, equivalente a 4.900 milhões de euros.
Para poder comentar deves entrar na tua conta