
Todos temos uma data na cabeça para quando acaba o período das festas. Há quem considere que é quando o Pai Natal deixa as prendas debaixo da árvore, outros na passagem de ano ou no dia de Reis... E saberemos dizer quando começa exatamente a época do Natal? Antes, era no dia 8 de dezembro, quando muitas famílias aproveitavam para fazer a árvore de Natal e decorar a casa. Mas e agora? Com o passar dos anos, o calendário natalício começa cada vez mais cedo. A publicidade, as lojas e supermercados com ofertas temáticas, a compra das prendas, as luzes de Natal, os espetáculos nas escolas, os jantares com amigos, festas de trabalho e afins... E tudo isto pode ser avassalador e desgastante. Deixamos-te um conjunto de dicas para que chegues a 2023 sem um esgotamento provocado por estas datas, cuidando da tua saúde mental.
“As luzes e as árvores de Natal sufocam-me. Cada vez que ouço o conceito de amigo invisível, fico com uma erupção cutânea. E acho que alguém deveria deixar claro que o mundo não acaba no dia 31 de dezembro, para tranquilidade de todos aqueles que precisam de organizar um almoço ou jantar escandalosamente caro durante o mês de dezembro, para celebrar uma amizade que só atende a esse mês.”, desabafou Elena, de 31 anos, ao El País.

Quais os sentimentos na época de Natal, na verdade?
O jornal espanhol escreve que estas palavras são comuns entre uma longa lista de pessoas questionadas sobre os seus sentimentos nestas datas. As principais reclamações são:
- O tempo: o Natal começa cada vez mais cedo.
- O cansaço geral causado por vários fatores: bares e restaurantes lotados, centros urbanos intransitáveis por mais de um mês, canções natalícias, compromissos obrigatórios para os quais é preciso usar a máscara social, muito tempo gasto com a família, consumo compulsivo e a sensação de fazer muitas coisas sem desfrutar plenamente de nenhuma delas.
“As festividades tornaram-se minimaratonas, espalhadas por vários dias, até semanas”, escreveu a jornalista e ensaísta Anne Helen Peterson, autora de I Can't Take Anymore: How Millennials Became the Burnout Generation, (Captain Swing , 2021), enfatizando que “tornaram-se temporadas em si mesmas, com suas atuações sociais e hábitos de consumo, que oscilam entre a alegria e a obrigação”.

O problema está em que que esta obrigação, escondida por detrás do imperativo de que no Natal devemos ter espírito alegre e parecer felizes, por vezes gera um sentimento de deslocação quando o espírito natalício não nos acompanha. A American Psychological Association usa as palavras stress e ansiedade para falar sobre como esse período aumenta a pressão para tentar atender a todas as expectativas.
"O Natal é uma época intensa de emoções, onde tanto as positivas quanto as negativas são intensificadas", explicou Joaquim T. Limonero, professor de psicologia e presidente da Sociedade Espanhola para o Estudo da Ansiedade e do Stress (SEAS), ao El País. “Um dos fatores que influenciam o cansaço do Natal é que há uma quebra nas nossas rotinas: o ser humano costuma fazer a mesma coisa todos os dias, então quando as nossas rotinas se quebram por um período de tempo que cobre mais dias a cada ano e não é bem administrado, produzirá ansiedade e stress”.
Dicas para viver melhor a época do Natal
O psicólogo destaca que, durante o Natal, como em qualquer outra época do ano, “tudo dependerá das expectativas que tivermos” e não esquecer, por exemplo, que os cenários idílicos e repletos do espírito de Natal dos filmes e campanhas de publicidade "são tudo ficção”.

Joaquim T. Limonero insiste em que “que as famílias, para além de maravilhosas, são também maravilhosamente imperfeitas”. E há que aceitar que as decorações não vão ser ideais como as de muitas contas de Instagram, as receitas culinárias podem sair mal, os presentes podem ser simples detalhes e até podem haver discussões e desgostos.
Para evitar o stress e ansiedade que estas datas podem gerar, o especialista recomenda que se deve ter "uma percepção de controle”. E para isso, o melhor a fazer é cada um se organizar com antecedência, tomar decisões e saber dizer não.
“Decide o que vais fazer e como. E concorda, sem te impores”. Não é necessário ir aos quatro jantares que programaste e, como aconselha a psicóloga ouvida pelo diário espanhol: “Em família, há que distribuir tarefas e procurar não ficar saturado, ter uma certa perspicácia para aproveitar o tempo de qualidade e até reservar tempo estar sozinho”.
Para respeitar a convivência, Limonero recomenda não entrar em discussões. “Se sabes que um membro da família vai ficar chateado com um determinado assunto de conversa, evita tocar no tema. E se ele tocar, não lhe dês troco. Não precisas de vencer todas as batalhas."
O psicólogo também recomenda ser honesto sobre as finanças, para que os jantares e as prendas não nos deixem num aperto.
E as pessoas que estão sozinhas ou aquelas que têm uma família mais pequena, também devem preparar os seus planos com antecedência para evitarem a solidão e não ficarem tristes nessas datas, rematando que o mais importante é "trocar o chip", para evitar chegar exaustos ao fim das festas e poder entrar em 2023 cheios de energia e em paz.

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