Licenciados cerca de 5.000 edifícios e concluídos 3,4 mil, menos 14,7% e 2,8%, respetivamente, que há um ano. Mas nem tudo são más notícias, segundo a AICCOPN.
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Edifícios licenciados e obras concluídas caem no segundo trimestre com a pandemia - e agora?
idealista/news

No segundo trimestre de 2020, ou seja, em plena pandemia, o número de edifícios licenciados e concluídos em Portugal diminuiu 14,7% e 2,8%, respetivamente, em termos homólogos. Dados preliminares do Instituto Nacional de Estatística (INE) permitem concluir que, entre abril e junho, foram licenciados quase 5.000 edifícios (em concreto 4.975) e concluídos 3,4 mil edifícios. Uma queda, de resto, que também se verificou em termos trimestrais. A Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN) enaltece, no entanto, o facto da variação mensal registada nos meses de junho e julho ter sido positiva e destaca "a resiliência que tem vindo a ser demonstrada por parte das empresas e dos investidores" da construção, que tem sido um dos setores a melhor resistir à crise, estando mesmo a crescer em contraciclo, impedindo uma crise económica maior.

Segundo o INE, do total de edifícios licenciados, 72,6% eram construções novas, das quais 82,6% se destinaram a habitação familiar.

“Os edifícios licenciados para demolição (320 edifícios) corresponderam a 6,4% do total de edifícios licenciados no segundo trimestre de 2020”, conclui o instituto no relatório revelado esta sexta-feira (11 de setembro de 2020), acrescentando que as Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores foram as únicas a apresentar variações homólogas positivas no número de edifícios licenciados (+13,8% e +5,2%, respetivamente). Destaque para as quedas homólogas registadas no Algarve e na Área Metropolitana de Lisboa, de 30,7% e 27%, respetivamente.

Os dados analisados pelo setor

Manuel Reis Campos, presidente da AICCOPN, diz ao idealista/news que, como seria de esperar, "o surto pandémico afetou de forma transversal todas as atividades económicas", tendo o setor da construção e do imobiliário não sido exceção. "Incontornavelmente, verificamos que os dados divulgados pelo INE apresentam um registo negativo, quando comparados com o período homólogo do ano passado". 

Mas nem tudo são más notícias, comenta o responsável: "Os dados revelam também que a variação mensal registada nos meses de junho e julho foi positiva. Efetivamente, as Contas Nacionais Trimestrais, conhecidas recentemente, relativas ao segundo trimestre do ano, permitem constatar o importante contributo deste tecido empresarial que é ainda mais relevante numa altura em que o PIB regista quedas históricas. Num contexto de uma redução de 13,9% do PIB, face ao primeiro trimestre do ano, o investimento em construção registou um crescimento de 3,5%".

No que diz respeito ao número de obras licenciadas para construções novas, o INE adianta que decresceu 12% face ao segundo trimestre do ano passado. Já as obras de reabilitação diminuíram 21,6%.

Na variação em cadeia, ou seja, no segundo trimestre de 2020 face ao primeiro, o licenciamento para construções novas decresceu 15,2% e as obras de reabilitação diminuíram 18,5%.

“O licenciamento para construções novas apresentou uma variação positiva em relação ao mesmo período do ano anterior na Região Autónoma da Madeira (+37,3%) e na Região Autónoma dos Açores (+9,2%). Todas as regiões do Continente registaram variações homólogas negativas, com destaque para o Algarve (-27,5%) e Área Metropolitana de Lisboa (-26,6%). No licenciamento para reabilitação de edifícios todas as regiões apresentaram variações homólogas negativas, com destaque para o Algarve (-33,7%) e Área Metropolitana de Lisboa (-33,5%)”, conclui o INE.

Os dados do INE concluem ainda que, entre abril e junho de 2020, foram licenciados 5,2 mil fogos em construções novas para habitação familiar, menos 5,7% que no mesmo período do ano passado. 

“Em Portugal, no segundo trimestre de 2020, a área total licenciada diminuiu 10,5% face ao segundo trimestre de 2019 (+1,6% no primeiro trimestre de 2020). A Área Metropolitana de Lisboa foi a única a apresentar uma variação homóloga positiva neste indicador (+2,9%). As restantes regiões apresentaram variações homólogas negativas, destacando-se o Algarve e o Norte: -20,4% e -19,4%, respetivamente”, lê-se na nota divulgada pelo INE.

Obras concluídas também recuam, mas menos

Relativamente ao número total de edifícios concluídos (construções novas, ampliações, alterações e reconstruções) no segundo trimestre, recuaram 2,8% face ao período homólogo. 

“Estima-se que tenham sido concluídos 3,4 mil edifícios em Portugal, correspondendo, na sua maioria, a construções novas (78,7%), das quais 78,2% tiveram como destino a habitação familiar”, refere o INE, sublinhando que a Área Metropolitana de Lisboa, o Alentejo e a Região Autónoma da Madeira apresentaram variações homólogas positivas nos edifícios concluídos: +33,4%, +16,2% e +6,6%, respetivamente. Todas as outras regiões apresentaram variações homólogas negativas, com destaque para o Algarve (-31,4%) e a Região Autónoma dos Açores (-26,8%).

“As obras concluídas em construções novas em Portugal aumentaram 2% face ao segundo trimestre de 2019, enquanto as obras de reabilitação diminuíram 17,3%. Em comparação com o trimestre anterior, as obras concluídas em construções novas decresceram 18,7% e as obras de reabilitação diminuíram 31,7%”, nota o INE.

De acordo com o instituto, a Área Metropolitana de Lisboa, o Alentejo, a Região Autónoma da Madeira e o Norte apresentaram variações homólogas positivas nas obras concluídas em construções novas (+47,6%, +16,2%, +2,3% e +0,8%, respetivamente). A Região Autónoma dos Açores registou o maior decréscimo nesta variável (-28,5%), seguindo-se o Algarve (-19,1%) e o Centro (-15,2%).

No que diz respeito às obras concluídas para reabilitação, a Região Autónoma da Madeira e o Alentejo apresentaram variações homólogas positivas: +16,7% e +16,1%, respetivamente. As restantes regiões apresentaram variações negativas, com destaque para o Algarve (-50,7%), a Área Metropolitana de Lisboa (-23,4%) e a Região Autónoma dos Açores (-23%).

Os dados do INE permitem ainda concluir que, no segundo trimestre de 2020, foram concluídos 4,0 mil fogos em construções novas para habitação familiar, menos 21,1% que nos mesmos três meses do ano passado. 

"O setor está particularmente bem posicionado para contribuir para a estratégia de retoma da atividade económica, mantendo os seus níveis de emprego e absorvendo mão de obra de outras atividades sendo, de resto, uma das principais apostas europeias para combater a crise gerada pela pandemia"
Manuel Reis Campos, presidente da AICCOPN

“O Norte, a Área Metropolitana de Lisboa e o Alentejo foram as únicas regiões a apresentar uma variação homóloga positiva neste indicador: +54,3%, +36% e +16,1%, respetivamente. Todas as restantes regiões observaram um comportamento negativo nesta variável, com principal destaque para o Algarve (-41,7%). As regiões Norte e Centro continuaram a destacar-se no número de edifícios concluídos (61,7% do total de edifícios concluídos no país, no segundo trimestre de 2020). No que respeita aos fogos concluídos em construções novas para habitação familiar, o Norte manteve a sua predominância com 44,8% do total, seguindo-se a Área Metropolitana de Lisboa com 23,3% e o Centro com 19,5%”, adianta o instituto. 

O INE conclui ainda que, no segundo trimestre de 2020, se verificou um decréscimo de 3,3% na área total construída em Portugal, face ao período homólogo. A região Norte foi, de resto, a única a apresentar variação positiva neste indicador (+23,9%). 

AICCOPN destaca "importante papel do setor" 

Em declarações ao idealista/news, Manuel Reis Campos faz questão de destacar "a resiliência que tem vindo a ser demonstrada por parte das empresas e dos investidores" do setor imobiliário e da construção, que "tem permitido manter uma trajetória de recuperação global dos níveis de atividade e que foi responsável por esta evolução ao nível do licenciamento". 

"Em 2019, o investimento em imobiliário atingiu os 27,2 mil milhões de euros, dos quais 5,4 mil milhões com origem externa e Portugal tem de tirar partido deste vetor estratégico e de um posicionamento internacional favorável que alcançou e que não pode perder. Deste modo, é possível afirmar que o setor está particularmente bem posicionado para contribuir para a estratégia de retoma da atividade económica, mantendo os seus níveis de emprego e absorvendo mão de obra de outras atividades sendo, de resto, uma das principais apostas europeias para combater a crise gerada pela pandemia. Estes números demonstram o importante papel do setor no momento crítico que estamos a atravessar", conclui o líder da AICCOPN.

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