
O mercado imobiliário nacional está em alta e a ERA está a acompanhar esta tendência, antevendo já que "este vai ser o melhor ano de sempre" da empresa desde que opera em Portugal há quase 20 anos. O diretor-geral da ERA Portugal, em entrevista ao idealista/news, explica o que está a motivar estes resultados e faz uma análise do setor antes e depois da crise. Ao Governo, Miguel Poisson pede que "não mate a galinha dos ovos de ouro", reclamando "bom senso para que se encontre um equilíbrio que permita fazer do imobiliário um setor que faz crescer a economia".
Como está a correr o negócio este ano?
O mercado imobiliário está particularmente dinâmico, por três razões: a abertura do crédito à habitação, com um crescimento de mais de 60% na no primeiro semestre de 2016; o aumento de estrangeiros que compram em Portugal e a rentabilidade que os investimentos imobiliários estão a proporcionar. Temos assistidos a muitos portugueses e estrangeiros, investidores de pequena, média e grande dimensão a investir fortemente no mercado imobiliário, porque conseguem rentabilidades muitíssimo mais elevadas do que com outros produtos financeiros alternativos, como os depósitos a prazo, que têm registado rentabilidades muito baixas.
O mercado imobiliário está dinâmico por três razões: abertura do crédito à habitação; aumento de estrangeiros a comprar e maior rentabilidade dos investimentos imobiliários.
A ERA está a beneficiar desta conjuntura?
O negócio da ERA este ano está a correr muito bem. Já tinha corrido no ano passado, quando fizemos o nosso melhor ano de sempre desde que chegámos a Portugal em 1998. Em 2015 tivemos um crescimento de 37% face a 2014 e, agora em 2016, fechados os primeiros oito meses do ano, estamos com um crescimento de 35% face ao ano passado, o que é um crescimento fabuloso e que ultrapassa as nossas melhores expetativas. Já podemos dizer em outubro que o ano de 2016 será o melhor ano de sempre da ERA Portugal.
Em operações e valor das vendas?
Este crescimento é a nível do número de transações. Este ano devemos ultrapassar as 12 mil vendas de casas em Portugal. Quanto ao valor médio no ano passado tivemos um crescimento ligeiro por via da compra de estrangeiros, que tendem a comprar imóveis de valor um pouco acima da média portuguesa, mas à medida que as famílias portuguesas começam a voltar ao crédito à habitação e a comprar as próprias casas tem-se vindo a equilibrar este valor médio de transação.
Este ano devemos ultrapassar as 12 mil vendas de casas em Portugal.
E em termos de faturação?
Também a esse nível, o ano de 2016 para a ERA Portugal vai ser um número bastante superior face ao melhor ano que tínhamos tido antes desta crise, que estalou em particular em 2011 e 2012, que foram os anos mais duros. 2016 vai ser um ano que vai superar os resultados de 2010, que tinha sido para nós o melhor ano, antes da crise.
Que tipo de imóveis vendem mais?
Estamos a vender cerca de 85% dos imóveis para habitação, os restantes 15% são outros tipos de imóveis como espaços comerciais, escritórios e terrenos. Mas o nosso grande enfoque tem sido a habitação, não só para estrangeiros, mas também para famílias portuguesas, que durante dois ou três anos paralisaram as suas decisões de compra, mas temos vindo a verificar uma entrada mais massiva da classe média portuguesa, que vem potenciar de forma muito forte a compra de imóveis.
2016 vai ser um ano que vai superar os resultados de 2010, que tinha sido para nós o melhor ano, antes da crise.
As tipologias que mais se destacam na compra são os T2 e T3, numa tendência que se tem mantido nos últimos anos, já desde antes da crise.
Os portugueses continuam a preferir comprar casa do que arrendar?
Em Portugal cerca de 75% das pessoas detêm uma casa. É uma questão cultural semelhante a outros países do Sul da Europa, onde a maioria das pessoas é proprietária. Esta realidade nas gerações mais novas tem vindo a mudar ligeiramente, mas sobretudo nos casos de recém-licenciados que não têm ainda um poder aquisitivo que lhes permita comprar uma casa.
O que posso dizer é que as pessoas continuam a dirigir-se às nossas lojas e a primeira opção continua a ser a compra e não o arrendamento. Isto vai ser muito difícil de mudar em Portugal, porque todos nascemos um pouco com este sonho de ter a nossa própria casa. Durante a fase que a troika esteve em Portugal, tentou alterar radicalmente esta maneira de estar no imobiliário e o que verificámos é que as coisas não se mudam assim por imposição e hoje em dia os portugueses continuam a querer comprar a sua casa.
A primeira opção dos portugueses continua a ser a compra e não o arrendamento.
Há produto suficiente para vender ou começa a faltar?
Em algumas zonas, sobretudo no centro de cidades como Lisboa, Porto, Coimbra e no Algarve há um défice de oferta face à procura. O cenário que estamos a viver hoje em dia é exatamente o contrário daquele que viviamos em 2011 e 2012. Isto é, portanto, uma grande oportunidade para entrar em novos projetos de promoção. Precisamos urgentemente de alguns empreendimentos de habitação nova em algumas cidades do país.
Precisamos urgentemente de alguns empreendimentos de habitação nova em algumas cidades do país.
Quais os impactos do polémico negócio do alojamento local para o mercado imobiliário?
O alojamento local vem criar algumas dificuldades, sobretudo para as pessoas que procuram arrendar uma casa nos centros das grandes cidades. Um proprietário de um imóvel que, hoje em dia, faça um arrendamento tradicional retira daí uma rentabilidade bastante inferior ao alojamento local, seja explorando o negócio diretamente ou entregando a empresas especializadas. Além do mais, tem um risco de incumprimento bastante mais controlado do que o arrendamento tradicional.
Mas não diria que o alojamento local vem afetar a venda de imóveis, antes pelo contrário, tem vindo a dinamizar a reabilitação de imóveis que estavam muitos deles parados ou devolutos. Muitos investidores viram aí uma oportunidade.
O alojamento local veio dinamizar a reabilitação de imóveis que estavam muitos deles devolutos.
Os estrangeiros têm alimentado muito do crescimento no negócio imobiliário, tal como referiu...
Um fator muito interessante que temos vivido, nos últimos dois anos, é a procura de estrangeiros não só de casas para comprar. Temos sido abordados para desenvolverem o seu próprio negócio em Portugal, interessados em adquirirem a marca ERA para se instalarem no país e a partir daí tirar partido do seu networking de conhecimentos que têm no país de origem e potenciar o negócio.
Temos tido contactos desde investidores franceses a brasileiros, que estão hoje instalados em Portugal e são nossos franquiados a desenvolver o seu negócio. É uma nova realidade de pessoas que vêm de outros setores de atividade, com uma formação muito forte e que vêm catapultar a marca para um nível de profissionalismo cada vez mais elevado.
Temos sido abordados por estrangeiros para desenvolverem negócio em Portugal, interessados em adquirirem a marca ERA. São pessoas com uma formação muito forte e que a vêm catapultar para um nível de profissionalismo cada vez mais elevado.
Como avalia as medidas anunciadas pelo Governo na área do imobiliário, nomeadamente o novo IMI?
As novas medidas que o Governo está a estudar preocupam-me, porque podemos estar a matar a galinha dos ovos de ouro. É isso que sentimos no setor da mediação. Espero que haja bom senso para encontrar um equilíbrio e fazer continuar a fazer do imobiliário um setor que faz crescer a economia e que se evitem areias na engrenagem que afastem os investidores e venham novamente mergulhar o setor imobiliário em fases mais difíceis que foram vividas no passado mais recente.
As expetativas para 2017 são positivas. Estão criados os ingredientes para que haja uma bola de neve positiva que permita que este setor possa catapultar a economia portuguesa para patamares superiores.
O que esperam do próximo ano?
As expetativas para 2017 são positivas. Acreditamos que os estrangeiros vão continuar a investir em Portugal, queremos acreditar que vai haver bom senso político no sentido de não tributar excessivamente o setor imobiliário, acreditamos que a abertura ao crédito vá continuar por parte das principais entidades bancárias a operar em Portugal e, portanto, estão criados os ingredientes para que haja uma bola de neve positiva que permita que este setor possa catapultar a economia portuguesa para patamares superiores.
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