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Especialistas rejeitam “bolha imobiliária” e falam em “mudança de paradigma”
A conferência "O Desafio" aconteceu esta terça-feira (22 de maio) @massimoforte/facebook

Perto de três centenas de pessoas aceitaram o “Desafio” de Massimo Forte e Gonçalo Nascimento Rodrigues – especialistas e consultores independentes em mediação e investimentos imobiliários – para pensar o mercado “Out of the Box” (“Fora da Caixa”). O mercado imobiliário português mudou. Está de boa saúde e recomenda-se. Segundo os dois especialistas não há “bolha” no imobiliário, mas um novo paradigma que deve ser encarado com capacidade de adaptação.

Como se devem adaptar os atores do mercado imobiliário a esta nova realidade?

  • Atualmente, em Portugal, estamos no mercado do vendedor onde a procura é superior à oferta. Os preços de venda no imobiliário continuam a subir e angariar imóveis para venda tornou-se um grande desafio. Especialistas e profissionais do imobiliário juntaram-se para debater esta terça-feira (22 de maio), no Hotel Tryp Lisboa Aeroporto, esta e outras questões. 

“Estás pronto para o desafio”? Foi assim que Massimo Forte, consultor independente especializado em mediação imobiliária e Gonçalo Nascimento Rodrigues, consultor financeiro independente em investimentos imobiliários e formador em finanças imobiliárias – responsáveis pela conferência – receberam a plateia de 300 pessoas.

Qual é o grande desafio atual?

O mercado enfrenta diferentes desafios, mas Massimo Forte decidiu destacar um em particular. “Um dos grandes desafios, aquele que me traz aqui, é a profissionalização do setor”, disse o consultor imobiliário ao idealista/news, à margem da conferência. Forte sublinhou a importância de a mediação “ter de ser encarada como uma profissão à séria” e não como um balão de oxigénio.

“A profissionalização implica formação, competências, sistemas, o que quer dizer que com isto qualquer desafio será superado. Não numa vertente de improviso, mas de adaptação ao momento e de preparação, como de resto acontece nas restantes atividades”, referiu.

Estaremos a dar passos nesse sentido? Massimo Forte considera que “sim”, aproveitando para sublinhar o “forte contributo que as empresas norte-americanas deram ao mercado português, ao nível do know-how, formação, aprendizagem, branding e marketing”. As companhias portuguesas estão a acompanhar este trajeto, o que significa que o "know-how é muito bem-vindo”.

Bolha ou não bolha?

Vivemos um período de bolha imobiliária ou uma profunda alteração de um paradigma de mercado? A resposta à pergunta foi unânime: especialistas consideram que não estamos perante um cenário semelhante ao que se viveu, por exemplo, em Espanha.

“Não, não temos uma bolha. Poderemos ter, no máximo, pequenas bolhas”, disse Gonçalo Nascimento Rodrigues. A pressão sobre os preços sentida em cidades como Lisboa ou Porto não justifica, para o consultor, o cenário de bolha nacional tantas vezes colocado em cima da mesa.

“É fácil e apelativo puxar pela questão da bolha imobiliária. Chama a atenção. Mas quem estuda este conceito sabe que ela não existe. A existir, está muito focada e localizada. Claro que temos zonas específicas em Lisboa e Porto cujos preços subiram muitíssimo para além do que um português consegue pagar porque não tem rendimentos para isso. Mas é preciso perceber que o crescimento dos preços é alimentado por uma procura estrangeira e não é alimentada por dívida”, salientou.

Massimo Forte considera que esta ideia é “alimentada pelo medo”. “Todos aqueles que passaram pelo momento troika, isto é, tivemos uma bolha imobiliária que rebentou... As pessoas têm receio que isso possa voltar a acontecer, mas na minha opinião não tem de haver receio, tem de haver capacidade de adaptação aos mercados”.

“Vim hoje falar sobre isso mesmo, sobre a capacidade de me adaptar quando o mercado muda”, disse o especialista, que durante a sua intervenção procurou explicar que ferramentas, métodos e processos devem os agentes pôr em prática para angariar num mercado imobiliário em alta.

Medidas do Governo “são preocupantes”

O pacote legislativo para a habitação apresentado pelo Governo está a preocupar os especialistas. Ambos acreditam que as propostas podem condicionar o mercado. 

“Considero que é algo altamente preocupante”, disse Massimo Forte, referindo-se às medidas anunciadas. “Se essas medidas fizerem os investidores sair então teremos uma mudança grave no mercado”, sublinhou, acrescentando que é necessário encontrar soluções para a habitação, mas sem esquecer a importância de continuar a ter capacidade de atração de investimento estrangeiro e também nacional.

“Tenho notado com apreensão essas possíveis mudanças que estão em cima da mesa, nomeadamente o Alojamento Local (AL), que podem fazer com que esse investimento de repente desapareça”, rematou.

“Aquilo que está a ser feito pelo nosso poder legislativo é completamente errado e desadequado para aquilo que nós queremos para o mercado”, argumentou Gonçalo Nascimento Rodrigues.

“Se queremos falar de mercado de arrendamento, por exemplo, temos de partir deste pressuposto: não há mercado de arrendamento. Não vale a pena dizermos que o mercado de arrendamento funciona porque ele não existe. Estamos a colocar a tónica no ponto errado”, frisou o consultor financeiro.

“O problema está na falta de oferta. É preciso refletir sobre o porquê de não existir oferta. Sem investidores não há mercado de arrendamento. E há cada vez menos investidores interessados. Há um protecionismo histórico ao inquilino, em vez de haver programas de apoio ao inquilino para poder pagar rendas”. "É preciso aumentar a oferta e subsidiar inquilinos se quisermos ter um mercado de arrendamento equilibrado", concluiu. 

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