Joaquim Montezuma falou na 4ª edição do Imocionate sobre as alterações no comportamento do comprador do imobiliário suscitadas pela pandemia.
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O que mudou no comprador do imobiliário? “Há um acelerar de coisas que já vinham de trás”
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A pandemia trouxe muitas alterações na sociedade e no dia a dia de todos nós, em termos pessoais e profissionais. Muita coisa mudou e pode ainda vir a mudar no pós-Covid-19, e o setor imobiliário não é exceção. Será que os potenciais compradores de casas estão de facto a “fugir” das cidades com maior densidade populacional ou que, devido ao teletrabalho, as empresas deixarão de ter escritórios? Apesar das dúvidas e do contexto de incerteza, há dados que mostram que, na prática, estas (e outras) tendências já se verificavam antes da crise pandémica. Este foi um dos assuntos abordados na 4ª edição do Imocionate, que se realizou online esta terça-feira (3 de novembro de 2020) e teve o idealista como portal oficial.

“A pandemia veio acelerar um conjunto de mudanças que já estava em andamento. Há um acelerar de coisas que já vinham de trás, não é um novo paradigma, é uma continuidade”, afirmou Joaquim Montezuma, professor auxiliar convidado no ISEG e Managing Partner da ImoEconometrics, que durante a sua participação no evento citou e disse concordar com uma reflexão de um arquiteto canadiano: “(...) A cidade que temos agora será idêntica à que haverá no pós-Covid-19”.

Salientando que se vivem tempos de “muita incerteza”, Joaquim Montezuma referiu, por exemplo, que as taxas de juro baixaram mais um pouco com a pandemia, mas que já estavam muito baixas. Um “impacto indireto que foi positivo no mercado da habitação, porque com taxas mais baixas é mais fácil para as famílias comprarem casa”, acrescentou, frisando que no “pós-pandemia não houve um aumento generalizado nas concessões ao financiamento”.

Teletrabalho e/ou trabalhar no escritório

No que diz respeito ao mercado laboral, o especialista, apoiando-se em dados da Google, disse que em Lisboa, Oeiras e Porto houve “quebras significativas de pessoas no local de trabalho”, na ordem dos 40%, mas que em Coimbra e Matosinhos, por exemplo, as quedas foram muito inferiores, de pouco mais de 10%. “Como o mercado de escritórios está sobretudo concentrado em Lisboa e Porto e o turismo também, tendo menos importância em outras cidades, há nestas duas um impacto especial em relação à Covid-19”, frisou.

Para Joaquim Montezuma, na sequência da pandemia e do confinamento, Lisboa e Oeiras tiveram um crescimento de pessoas nos locais de residência, nomeadamente em teletrabalho, pelo que o número de pessoas que reside nestas cidades não diminuiu muito face ao período pré-Covid-19: “A fuga das pessoas para a periferia não parece ser evidente. O turismo sofreu muito e utilização de escritórios sofreu muito, mas os residentes em Lisboa ou Oeiras não parecem ter mudado para outro sitio. Não parece haver, para já, uma fuga dos grandes centros urbanos em Portugal, como por exemplo Lisboa, Porto e Oeiras”.

Por falar em teletrabalho, será que vai “virar moda”? Sobre este tema, e apoiando-se em dados do Eurostat, o professor auxiliar convidado do ISEG é perentório: “O número de pessoas que tem vindo a trabalhar remotamente de forma parcial está a crescer há alguns anos, não é uma coisa nova em Portugal. Toda a gente passou a trabalhar agora remotamente? Não é bem assim”. 

Joaquim Montezuma considera, no entanto, que devido à pandemia é expectável que o crescimento do teletrabalho e/ou trabalho remoto vá continuar a acontecer de “forma muito mais acelerada”. “Na Holanda cerca de 14% dos empregados já trabalham remotamente e as empresas têm escritórios organizados de forma diferente”, exemplificou. 

No caso concreto de Portugal, o “grande potencial do teletrabalho em está concentrado na Área Metropolitana de Lisboa (AML)”, assegurou o especialista, baseado-se em dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). “A AML concentra quase um terço de todos os funcionários que trabalharam remotamente no confiamento. Isto para dizer que nem toda a gente pode trabalhar remotamente em Portugal. Nada nos diz que haverá uma menor necessidade de haver espaços de escritórios”, conclui.

Sobre a compra e venda de casas, o responsável reconheceu que as vendas recuaram muito com a pandemia, nomeadamente na AML e no centro do Porto, mas adiantou que não há qualquer evidência que, no caso da capital, as pessoas estejam a trocar a cidade pelos concelhos da periferia: “O que verificamos é que nas cidades médias estamos a ter um efeito menos negativo em termos de volume de vendas que na AML e no Porto”. 

Mediação imobiliária mostrou “capacidade de resposta”

Foram várias as pessoas que se inscreveram para participar nesta edição online do Imocionate, tendo Pedro Pereira, diretor de Marketing da UCI, patrocinador oficial do evento, referido no arranque do mesmo que havia participantes oriundos de vários países do mundo, dando como exemplo Espanha, Brasil e EUA. 

Participantes esses que enalteceram, por diversas ocasiões, a necessidade que o setor da mediação imobiliária sentiu de se adaptar – e de ainda continuar a fazê-lo – às novas tecnologias devido à pandemia. E todos concordaram que o setor mostrou “capacidade de resposta”. 

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