A subida a pique dos custos de construção nos últimos meses é uma das principais preocupações do momento para os profissionais do mercado imobiliário. E amortizar estes custos acrescidos tem sido um verdadeiro desafio para os promotores imobiliários. Alguns admitem mesmo que os preços das casas possam subir cerca de 5% até ao final do ano para acomodar este aumento dos custos da construção. E outros alertam que esta subida poderá mesmo colocar um breve travão aos novos projetos residenciais.
Os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) quantificam esta subida: os custos de construção de habitação nova dispararam 11,6% em março em termos homólogos, um valor superior em 3,0 pontos percentuais face ao registado no mês anterior.
Isto está a acontecer porque foram reunidas as condições para que uma tempestade perfeita se formasse no setor da construção:
- Preços dos materiais, matérias-primas e equipamentos a subir;
- Falta de mão de obra qualificada;
- Licenciamentos atrasados;
- Prolongamento dos prazos das empreitadas.
A subida dos custos da construção iniciou-se há dois anos, coincidindo com o início da pandemia. E, agora, com a guerra da Ucrânia os preços tem aumentando ainda mais preocupando os profissionais do setor.
Preço das casas deverá subir 5% até ao final de 2022
Para acomodar o aumento dos custos de construção, os promotores estão a fazer esforço de gestão interna dos orçamentos das empreitadas. Mas há projetos em que a solução passa mesmo pela revisão do preço final das casas, tal como adiantaram os especialistas ouvidos na conferência que decorreu na manhã da passada sexta-feira, no Salão Imobiliário de Portugal (SIL).
Isto quer dizer que os preços das casas vão continuar a subir, sobretudo, no tipo de casas em que há pouca oferta para a alta procura existente. “Está iminente uma subida dos preços de vendas. A alta de preços depende do estado de execução da obra, mas antevemos uma subida de 5% a 6%”, diz Carlos Vasconcelos Cruz, presidente da Quantico, citado pelo Expresso.
Também Aniceto Viegas, presidente-executivo da Avenue, adiantou ao mesmo jornal que “se o custo de construção aumentar 10% terá um impacto da ordem dos 4% ou 5% no custo final” das casas.
Isto quer dizer que uma casa que hoje custe 200.000 euros, no final do ano poderá custar mais 10.000 euros, considerando um aumento de 5% no preço final. Ou seja, o preço final da casa ficaria nos 210.000 euros.
Custos da construção com impacto em novos projetos
Além de algumas casas poderem ficar mais caras para acomodar a subida dos custos da construção. O atual cenário também poderá ser um travão ao avanço de novos projetos residenciais, ainda que por pouco tempo.
“Tendo em conta a inflação dos custos de construção, poderá haver um abrandamento momentâneo dos projetos de construção nova de maior dimensão, nomeadamente daqueles que estão ainda em fase de pré-arranque, o que poderá ajudar a valorizar um pouco mais o mercado”, refere Francisco Sottomayor, CEO da Norfin, citado pelo Jornal Económico.
Olhando para os projetos residenciais para a classe média, há quem veja a situação complicar-se antevendo um desvio do investimento para outros segmentos mais altos, que seja mais recetivos ao ajuste de preços. “Lançámos um projeto de casas para a classe média em Loures, mas deveremos abrandar este tipo investimento e voltar ao nicho do mercado de boutique que funciona muito bem. Aquilo que vamos assistir é que os promotores em geral vão desviar-se para este segmento [de luxo]”, referiu Pedro Vicente, administrador da Habitar Invest, na conferência que decorreu no SIL.
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