O mercado imobiliário residencial em Portugal está a sentir os danos colaterais da atual conjuntura macroeconómica, marcada por aumento das taxas de juro, alta inflação e perda de poder de compra. O resultado é um mercado com “níveis bastante elevados de procura de soluções habitacionais, que contrastam com uma escassez de imóveis cada vez mais acentuada e uma oferta ainda mais desajustada da capacidade financeira dos portugueses”, refere a Century 21 Portugal, em comunicado.
Segundo Ricardo Sousa, CEO da mediadora imobiliária, “a enorme escassez de imóveis começa a criar efeitos paradoxais no mercado, como o aumento crescente do preço médio dos imóveis para níveis já incomportáveis para a maioria das famílias portuguesas”.
“Se analisarmos apenas o que se verifica com o segmento de apartamentos, que é a solução habitacional mais procurada no mercado nacional, constatamos que o valor médio dos apartamentos transacionados na rede Century 21 Portugal rondou os 209 mil euros no primeiro trimestre e cerca de 215 mil euros no segundo trimestre”, acrescenta.
A Century 21 Portugal revela, na nota enviada às redações relativa aos resultados do primeiro semestre de 2023, que registou nesse período uma faturação superior a 41,5 milhões de euros, menos 9% que os 45,8 milhões de euros registados nos primeiros seis meses de 2022. Já o volume de negócios em que a rede esteve envolvida – incluindo a partilha de transações com outros operadores – superou os 1.713 milhões de euros, menos 5% face ao período homólogo (1.807 milhões de euros).
Contudo, na comparação entre o primeiro e o segundo trimestre do ano, a rede Century 21 Portugal registou crescimentos em todos os indicadores de operação:
- A faturação disparou 12% dos 19,5 milhões de euros para os 21,9 milhões de euros;
- O volume de negócios mediados subiu 9% dos 821,5 mil euros para os 891,7 mil euros;
- As transações de venda a aumentarem 3%;
- As operações de arrendamento recuperaram 0,3%.
“Os resultados dos primeiros seis meses de 2023 foram mais positivos do que tínhamos estimado, sobretudo, pela evolução positiva dos principais indicadores de operação já no segundo trimestre. A principal razão da quebra de vendas é a subida das taxas de juro, que está a diminuir significativamente o poder de compra dos portugueses. Consequentemente, a diminuição do valor dos imóveis que os portugueses podem adquirir face à nova realidade das taxas de juro, conjugada com uma oferta de soluções habitacionais cada vez mais desadequada para o poder de compra da procura das famílias portuguesas, resulta numa inevitável redução do número de transações”, explica Ricardo Sousa.
Que casas compram os portugueses?
As tipologias de imóveis mais procuradas pelas famílias continuam a ser os T2 e T3, revela a Century 21 Portugal, salientando que entre janeiro e junho realizou 8.402 transações de venda, menos 1.402 do que em igual semestre do ano anterior. Contudo, o valor médio dos imóveis transacionados aumentou 10,7% para 203.829 euros, face à média de 184.192 euros registada no mesmo período do ao passado.
De referir, ainda, que o valor médio dos imóveis se situou, entre janeiro e março, nos 198.531 euros, tendo aumentado para 209.128 euros no trimestre seguinte.
Relativamente ao mercado de arrendamento, a mediadora realizou, no primeiro semestre, 2.285 transações, menos 75 que no mesmo período do ano passado. Porém, os valores médios dispararam 13,6% face aos 992 euros registados no primeiro semestre de 2022, para 1.127 euros.
Procura internacional abranda
Nos primeiros seis meses do ano, o peso das transações do segmento nacional na operação da mediadora imobiliária atingiu os 85%, tendo o segmento internacional representado 15% do volume das transações efetuadas – foram efetuadas 1.260 transações de clientes internacionais, o que revela uma evolução negativa de 28% relativamente às 1.764 efetuadas no período homólogo.
Os norte-americanos representaram quase 5% do total das transações realizadas, seguindo-se clientes de países como França, Reino Unido, Brasil e Espanha.
Uma redução do número de transações internacionais que “foi influenciada pela perceção, gerada no exterior, de instabilidade legislativa, decorrente do debate público e das medidas do programa Mais Habitação”, justifica a Century 21 Portugal. “Outro fator determinante passa também pela falta de oferta de imóveis abaixo de 400 mil euros nas regiões com maior concentração da procura internacional”, prossegue.
Ricardo Sousa considera que “Portugal ainda pode recuperar os níveis de atratividade até ao final do ano”, mas deixa um alerta: “O mercado imobiliário em Espanha tem sido uma alternativa para este segmento internacional, e continua a ganhar competitividade relativamente a Portugal”.
O que esperar do segundo semestre?
De acordo com a Century 21 Portugal, “há inúmeros riscos que ameaçam a economia global e que continuam a prevalecer”, sendo que, “em Portugal, o mercado imobiliário residencial está hoje muito menos exposto a riscos”.
A forte subida das taxas de juro está, no entanto, a deixar marcas. Estas são, segundo a mediadora imobiliária, algumas tendências que irão prevalecer no próximo semestre:
- Diminuição do número de transações;
- Aumento do tempo médio de venda dos imóveis;
- Estabilização dos preços dos imóveis;
- Aumento da procura por arrendamento;
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