
O imobiliário de luxo continua a crescer em Portugal, quase alheio ao que se passa no mundo. A verdade é que o impacto das guerras e juros no negócio “não é tão significativo” como em outros segmentos, até porque a “percentagem de clientes que compra sem recurso a empréstimos é maior”, não estando tão dependentes de financiamento. Quem o diz é Ayres Neto, sócio-gerente da The Agency Portugal, imobiliária internacionalmente conhecida e protagonista da série televisiva “Buying Beverly Hills” na Netflix, que chegou a território nacional no início do ano. Em entrevista ao idealista/news, o responsável faz um balanço da atividade e deixa pistas sobre as tendências atuais.
A imobiliária de luxo norte-americana é bem conhecida do outro lado do Atlântico, mas viu em Portugal muitas potencialidades. A sua notoriedade internacional ajudou a impulsionar o negócio no país, tal como explica Ayres Neto. De acordo com o responsável, “a The Agency já era conhecida do público português mesmo sem estar em Portugal e também era garantia de qualidade e serviço para muitos clientes estrangeiros que já conheciam ou já tinham tido experiências no passado com a empresa”.
Para os estrangeiros, os preços dos imóveis portugueses continuam a ser competitivos e tidos como “excelentes oportunidades de investimento”. A qualidade de vida, clima, oferta pública e privada de saúde e educação, ou ainda o nível de proficiência de inglês, são outros fatores distintivos. Os norte-americanos da Califórnia continuam a chegar apaixonados pelos 300 dias de sol. Já os brasileiros vêm pela segurança e, os europeus, por outro lado, apontam a mira ao interior do país.
Afinal, como está a correr o negócio da agência dos milionários em Portugal? O país continua a ser bom para investir? Quais os planos para o futuro? Ayres Neto dá resposta a estas e outras perguntas em entrevista.

Por que é que Portugal foi escolhido como porta de entrada da The Agency na Europa?
Apesar de sermos pequenos em dimensão temos um dos mais interessantes e dinâmico mercado imobiliário da Europa. Portugal tem vindo a crescer a sua notoriedade além-fronteiras e isso reflete-se no aumento contínuo da procura por parte dos estrangeiros quer para investir, morar temporariamente ou até permanentemente.
Além dos argumentos que já mencionei, Portugal tem o 7º maior EPI (English Proficiency Index) do mundo, o que o torna muito interessante para os clientes internacionais, oferece segurança, um clima ameno praticamente todo o ano, tem uma excelente oferta pública e privada de saúde e educação e uma oferta cultural e gastronómica de excelência. Por todos estes motivos, acreditámos que seria a melhor aposta, e não nos enganámos.
Quais são os pontos fortes do imobiliário português? E os maiores obstáculos/desafios?
Para os estrangeiros, um dos pontos mais fortes é o preço competitivo dos imóveis que permite adquirir bens de qualidade, estrategicamente localizados e que são também uma excelente oportunidade de investimento. Aliado a estes pontos temos a qualidade de vida que referi anteriormente e que pesa muito quando comparado com alguns países de origem onde, por vezes, andar na rua é só por si um ato de coragem.
Em termos de obstáculos, a falta de oferta que contrasta com uma elevada procura é o maior, porque com ela surgem outros problemas, sobretudo para os locais, como o aumento dos preços ou as dificuldades no cumprimento das obrigações.
E este ponto de equilíbrio é atualmente o maior desafio, ou seja, como conseguir ter uma oferta de qualidade e que responda às necessidades de todos, sem se comprometer uma das partes.

Já passaram mais de seis meses desde a chegada ao mercado, qual o balanço que fazem da atividade até agora?
O balanço está a ser muito positivo. A recetividade ao nosso projeto foi enorme, e comprovou o que já desconfiávamos, que existe sempre espaço para mais um. Temos vindo a crescer e a conquistar os nossos clientes, nacionais e internacionais, e em apenas seis meses já ultrapassámos os objetivos definidos para o 1º ano de atividade.
O êxito da série ‘Buying Beverly Hills” no Netflix deu impulso ao negócio?
Sem dúvida. A The Agency já era conhecida do público português mesmo sem estar em Portugal e também era garantia de qualidade e serviço para muitos clientes estrangeiros que já conheciam ou já tinham tido experiências no passado com a empresa.

Operam no segmento de luxo. Como se está a comportar este setor?
Este é um setor que está em crescimento em Portugal, não só no segmento de imobiliário, mas que é transversal a vários setores. Contudo, acredito que é necessário decifrar primeiro o que é luxo. Trata-se de um conceito muito lato que, no setor imobiliário, pode variar de pessoa para pessoa. Para uns pode ser a localização, outros a dimensão das áreas, para outros os acabamentos, os materiais, os espaços exteriores, entre tantos outros.
Como costumamos dizer na The Agency, o luxo é uma experiência que vai muito além do preço.
Qual é o perfil dos vossos clientes e o que é que procuram?
Portugal é um país procurado por inúmeras nacionalidades, sendo as que mais nos procuram a americana, brasileira, francesa, alemã e britânica. E o facto da The Agency ser reconhecida em todo o mundo, facilita esta aproximação e confiança entre países.
A procura depende muito dos países de origem e da faixa etária, uma vez que cada pessoa vem à procura de satisfazer necessidades diferentes. No caso dos americanos da Califórnia, vêm pela proximidade do clima, pelos 300 dias de sol, pelo que procuram sobretudo o sul do nosso país. Os brasileiros vêm pela segurança à procura de mais qualidade de vida e as grandes cidades são o principal destino. Os europeus, neste momento, procuram mais o interior do país, uma vez que o que mais valorizam é a qualidade de vida e querem fugir da azáfama do seu país de origem.

Os norte-americanos continuam interessados no país? Porquê?
Sim, muito, sobretudo porque Portugal ainda é acessível, comparando com o país de origem. Além disso, as condições que os fazem optar por Portugal em vez de outros países igualmente acessíveis são as características intrínsecas, como o clima, a segurança, a qualidade de vida e o elevado nível de proficiência em inglês.
Qual o impacto das guerras e subida dos juros no negócio?
Não segmento onde operamos, o impacto destas variáveis não é tão significativo, uma vez que a percentagem de clientes que compra sem recurso a empréstimos é maior, logo não estão tão dependentes ou condicionados pelas taxas de juro, como se verifica nos segmentos de imóveis mais baratos.

E o fim dos vistos gold e do regime de RNH? Qual o impacto e como veem estas medidas?
O efeito dos vistos gold é muito sobrestimado porque é mais fácil apontar um culpado do que perceber o conjunto de variáveis que levam ao aumento dos preços e agir em conformidade. Na realidade, o seu peso é ínfimo se cruzarmos com o peso total do mercado. Após a crise de 2008, foi graças aos vistos gold que as principais cidades nacionais foram reabilitadas e com isso veio o turismo, o reconhecimento e muito investimento feito em Portugal. Ao se proibir a continuação deste programa nas grandes cidades, começou a verificar-se o mesmo efeito no interior do país, com a reabilitação de palacetes antigos, quintas, etc para os converter em turismo rural. O que deu origem a uma maior oferta de emprego para a juventude e o rejuvenescimento destas zonas mais rurais. Seria muito triste se deixassem que estes projetos acabassem.
É fundamental manterem-se políticas como os vistos gold ou o regime de RNH para que se continue a criar emprego no interior e acredito que isso também ajudará a retirar pressão de Lisboa e do Porto.
Portugal continua a ser um bom país para se investir?
Sem dúvida. O investimento imobiliário dificilmente desvaloriza e, em diversos casos, tem o benefício adicional de permitir o usufruto dos imóveis por parte dos proprietários em períodos pré-definidos, ficando os restante a gerar rendimento adicional, além do valor do próprio imóvel.
Qual a estratégia para o futuro? Que metas pretendem atingir?
Temos um projeto baseado numa tríade de metas:
- 1) Ser importantes no segmento residencial, no qual já estamos bem posicionados devido ao nível de nossos consultores e pela qualidade da marca;
- 2) Entrar e crescer no segmento de empreendimentos, sempre em parceria e integrados com empresas locais e internacionais;
- 3) Crescer no segmento comercial, nomeadamente em vistos gold, que é um dos nossos pilares, em função do nosso perfil, da proatividade junto dos mercados internacionais. Isto porque, atualmente, o investimento comercial é uma das melhores opções para os vistos gold porque não têm as restrições geográficas que se aplicam ao mercado residencial.
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