
O acesso à habitação em Portugal está no centro do debate social e político. Tanto os preços das casas para comprar, como as rendas estão a subir a um ritmo superior aos rendimentos das famílias. A boa notícia é que, depois de uma temporada de juros altos, as taxas nos créditos habitação estão a descer há vários meses, reduzindo as prestações da casa nos novos contratos. E tanto assim é que arrendar uma casa com dois quartos acaba, atualmente, por sair 21% mais caro do que o custo da prestação mensal de um crédito habitação para adquirir a mesma casa. Mas a opção de compra de casa exige uma poupança de 32.585 euros, em termos medianos, de acordo com a análise publicada pelo idealista. Isto porque para se conseguir um empréstimo habitação, no atual contexto, é necessário ter um fundo de reserva para dar como entrada da casa nova.
Em Portugal, o preço mediano para arrendar um T2 é de 1.026 euros por mês, enquanto a prestação da casa para a aquisição dessa mesma habitação é de 1.001 euros mensais no segundo trimestre de 2024. Ou seja, arrendar casa representa um custo 21% superior à prestação mensal do crédito habitação que seria necessária para adquirir o mesmo imóvel. Ainda assim, quem avançar com a compra de casa terá de ter poupanças de 32.585 euros, em termos medianos, para dar de entrada no empréstimo.
"Esta análise quantifica a complexa situação das famílias em relação ao acesso à habitação própria. Na maioria dos mercados, as famílias conseguiriam pagar a prestação do crédito habitação com mais facilidade do que o valor da renda mensal. No entanto, muitas vezes não conseguem dar esse passo devido à falta de liquidez financeira”, comenta Ruben Marques, porta-voz do idealista.
Isto acontece porque “as rendas altas, a par dos baixos salários, instabilidade laboral e alto custo de vida impedem muitas famílias de poupar o suficiente para comprar uma casa e alcançar uma situação de maior estabilidade e alívio nas carteiras. Como o sistema financeiro não deverá relaxar os seus critérios de risco, a única solução para melhorar o acesso à habitação parece ser a adoção de medidas que permitam aumentar exponencialmente a oferta de habitação para arrendamento e compra, de forma a reduzir os preços e gerar um mercado imobiliário saudável”, conclui ainda Ruben Marques.

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Em que cidades há maiores diferenças de rendas e prestações da casa?
Ao analisar as capitais de distrito com amostras representativas, verifica-se que é em Santarém onde pagar uma renda mensal (797 euros) é mais caro em comparação com a prestação da casa ao banco (429 euros), com uma diferença de 86%.
Há ainda outras oito cidades onde arrendar casa sai mais caro todos os meses do que a prestação a pagar ao banco: Guarda (onde o arrendamento é 75% mais caro), Castelo Branco (58%), Setúbal (23%), Évora (22%), Portalegre (21%), Bragança (4%), Viana do Castelo (2%) e Vila Real (2%).
Por outro lado, em Faro a renda da casa é inferior à prestação bancária, sendo 32% mais barata. Outras cidades onde o arrendamento é mais acessível do que a prestação da casa são Aveiro (-21%), Ponta Delgada (-13%), Lisboa (-12%), Viseu (-11%), Leiria (-11%), Funchal (-10%), Braga (-7%) e Coimbra (-2%). No Porto, a diferença entre pagar renda ou prestação da casa é mínima, situando-se nos -0,4%.
Quando se comparam distritos e ilhas, portuguesas as discrepâncias entre os custos do arrendamento e da prestação mensal do crédito habitação tornam-se ainda mais pronunciadas. Na Guarda, o arrendamento é duas vezes mais caro do que a prestação da casa. Seguem-se Portalegre (78% mais caro), Évora (75%), Beja (72%), Vila Real (60%), Castelo Branco (59%), Santarém (46%), Bragança (43%), Viseu (35%) e Coimbra (23%). Abaixo da mediana nacional encontram-se Viana do Castelo (20%), Setúbal (15%), Lisboa (14%), Leiria (11%), a ilha de São Miguel (10%), Porto (6%) e Braga (5%).
Em Faro, o arrendamento é 21% mais barato que a prestação mensal, seguido pela ilha da Madeira (-10%) e Aveiro (-9%), mostra ainda a análise do idealista.
Qual é a poupança necessária para dar entrada no crédito habitação?
Para conseguir aceder ao financiamento para comprar casa, é essencial ter poupanças suficientes para cobrir a entrada, que geralmente corresponde a cerca de 30% do valor do imóvel. Isto porque os bancos só podem emprestar até 90% do menor valor entre o preço da casa e da avaliação bancária (para habitação própria e permanente). E depois há que ter poupanças para pagar impostos, como o IMT e Imposto de Selo (os jovens até aos 35 anos estão livres destas taxas se comprarem casas até aos 316 mil euros).
A capital de distrito onde é necessário dispor de mais poupanças para comprar casa com dois quartos é Lisboa, com uma mediana de 77.123 euros. Seguem-se o Funchal (66.632 euros), Faro (58.255 euros), Porto (51.228 euros), Aveiro (44.013 euros) e Ponta Delgada (40.556 euros). Já abaixo dos 40.000 euros para a entrada inicial necessária para pedir crédito habitação encontram-se Braga (36.084 euros), Leiria (32.809 euros), Coimbra (31.712 euros), Setúbal (30.594 euros), Viana do Castelo (30.314 euros), Viseu (30.007 euros), Évora (28.380 euros) e Vila Real (23.430 euros).
Guarda é a capital de distrito onde se precisa de menos poupanças para a entrada inicial (11.196 euros), seguida por Castelo Branco (11.594 euros), Portalegre (12.847 euros), Santarém (17.175 euros) e Bragança (18.923 euros).
Analisando por distritos e ilhas, Faro é onde o valor da entrada no crédito da casa é mais elevado, com 53.412 euros. Seguem-se a ilha da Madeira (53.142 euros), Lisboa (46.014 euros), Porto (32.588 euros), ilha de São Miguel (27.719 euros), Aveiro (25.689), Setúbal (24.587 euros), Braga (22.619 euros), Leiria (20.311 euros), Coimbra (16.267 euros), Viana do Castelo (15.875 euros) e Santarém (12.150 euros).
Por outro lado, é na Guarda onde o valor da entrada no empréstimo habitação é mais baixo, de 5.915 euros. Seguem-se Portalegre (7.018 euros), Bragança (8.424 euros), Castelo Branco (8.517 euros), Beja (9.647 euros), Vila Real (9.856 euros), Évora (11.605 euros) e Viseu (12.104 euros).
Em que cidades há rendas mais caras? E prestações da casa?
Entre as capitais de distrito, Lisboa é a cidade com o preço de arrendamento mais elevado para habitações de dois quartos, com uma mediana de 1.692 euros mensais, seguida pelo Funchal (1.504 euros), Porto (1.276 euros) e Faro (993 euros). No extremo oposto está Portalegre, onde o arrendamento de um T2 custa 389 euros mensais, seguido por Castelo Branco (457 euros), Guarda (490 euros) e Bragança (491 euros).
No que diz respeito à prestação mensal da compra da casa com recurso ao crédito habitação, Lisboa regista a prestação mais elevada, com uma mediana de 1.928 euros por mês. Seguem-se o Funchal (1.666 euros), Faro (1.456 euros) e Porto (1.281 euros). As prestações da casa mais baixas encontram-se na Guarda (280 euros por mês), Castelo Branco (290 euros), Portalegre (321 euros) e Santarém (429 euros).
Metodologia
Para a elaboração desta análise, a equipa do idealista/data analisou os preços medianos de venda e arrendamento de habitações de dois quartos presentes na sua base de dados durante o segundo trimestre de 2024, aplicando posteriormente fatores de correção para obter o preço final de transação. As despesas associadas à compra e venda foram estimadas com base nos 10% do valor do imóvel.
Os dados foram recolhidos e analisados pelo idealista/data, a proptech do idealista que fornece informações destinadas a um público profissional, facilitando a tomada de decisões estratégicas em Portugal, Espanha e Itália. Esta análise baseia-se nos parâmetros da base de dados do idealista em cada país, bem como noutras fontes de dados públicas e privadas, para oferecer serviços de avaliação, investimento, captação e análise de mercado.
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